A possibilidade de unificação dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente no governo Jair Bolsonaro (PSL) encontra resistência não só entre ambientalistas, mas também de setores da agroindústria em Santa Catarina. Enquanto protetores ambientais alertam que a medida limitaria a independência e atuação dos órgãos fiscalizadores, produtores rurais catarinenses temem que a mudança resulte em barreiras tarifárias impostas pelo mercado internacional, especialmente países da Europa.
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Santa Catarina é o maior exportador de carne suína do país e ocupa a segunda posição na exportação de frango. Embora a proposta de fusão ainda não tenha sido formalizada pelo presidente eleito, já há manifestações oficiais dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente contrárias à ideia. Airton Spies, atual secretário da Agricultura de Santa Catarina, é um dos nomes cotados para assumir o futuro ministério de Bolsonaro.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de SC (Faesc), José Zeferino Pedroso, a unificação dos ministérios poderia acirrar os ânimos entre ambientalistas e o setor produtivo, além de repercutir mal economicamente.
—Tenho receio de que isto venha a prejudicar nossas relações comerciais com algum país que seja muito envolvido na defesa do meio ambiente, principalmente países europeus. Podem até colocar alguma dificuldade no nosso mercado internacional — aponta Pedroso.
Posição contrária à proposta de unificação também manifesta Ricardo de Gouvêa, diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de SC (Sindicarne) e da Associação Catarinense de Avicultura (Acav).
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Gouvêa avalia que a unificação reduziria a atuação do futuro ministério em assuntos que dizem respeito ao meio ambiente. Ele também defende que, se a intenção é minimizar entraves para a expansão agrícola, há opções além da fusão.
—Tudo isto pode ser resolvido sem juntar os ministérios. Pode ser resolvido trabalhando a questão de forma mais técnica, não tão política e ideológica. Se diminuir a interferência ideológica nessas questões, tem espaço para a agricultura crescer e o ambiente ser bem cuidado— opina.
Fiscalização ficaria limitada, dizem ambientalistas
A atuação de órgãos fiscalizadores como o Ibama e o Instituto Chico Mendes (ICMBio) em um cenário de ministérios unificados preocupa ambientalistas do Estado.
O presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Leocarlos Sieves, contesta a possibilidade de um mesmo órgão tratar da proteção da biodiversidade e dos interesses da agroindústria.
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—Vai abalar o equilíbrio das forças entre a agricultura e o meio ambiente. O próprio órgão que vai fiscalizar é o órgão que vai pedir a licença Vemos isto com apreensão — reforça.
Wigold Schaffer, coordenador do conselho consultivo da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) em SC, acredita que a fusão significaria a extinção do Ministério do Meio Ambiente.
Ele aponta que órgãos reguladores e fiscalizadores não podem estar submetidos a órgãos de execução de políticas, o que seria o caso do Ministério da Agricultura.
-O Ministério do Meio Ambiente tem a função de fazer licenciamento de indústria, comércio, questões de minas e energia. De todos os setores da economia, não apenas da agricultura. A proposta de fazer do Ministério do Meio Ambiente um apêndice do Ministério da Agricultura é completamente inaceitável — critica.
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Secretários de Estado preferem não opinar
Apontado como um dos nomes cotados para assumir a pasta da Agricultura no governo Bolsonaro, o secretário da Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies, preferiu não se manifestar sobre a possível unificação dos ministérios.
—Como o grupo que discute a estrutura do governo ainda não tem uma posição, qualquer coisa que a gente falar pode ser mal interpretada— observou.
O presidente do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina, André Adriano Dick, também tem posição comedida em relação ao assunto. Por enquanto, o presidente do órgão diz que é preciso aguardar definições concretas e detalhes sobre como seriam as eventuais mudanças na gestão dos dois ministérios.
—A simples fusão de ministérios, acredito que não interfira tanto. O que mais deve interferir é de que forma vai se lidar com isso lá na frente. Enquanto não estiver claro a forma como será feita, não conseguimos nem avaliar se é bom ou ruim — manifestou.
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