O contraste entre o azul do céu e o verde que está brotando do solo do campo compõe uma bela imagem, que pode ser facilmente encontrada em uma visita ao interior de Joinville. Mas esta cena está perdendo força. Os produtores rurais de Joinville estão plantando cada vez menos. No ano passado, a área cultivada encolheu 10,74%, segundo o IBGE. Foram plantados 5.111 hectares.

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Cada vez menos gente está procurando depender exclusivamente do arroz, o principal produto do campo joinvilense. A área plantada permanece estável em 3 mil hectares nos últimos sete anos. Mas a importância da cultura como fonte de renda para o produtor joinvilense caiu pela metade no período. O grão, em 2004, representava 54% do valor da produção rural. No ano passado, o peso caiu para 27,3%.

Veja no infográfico as informações sobre as áreas plantadas em Joinville

A situação dos rizicultores de Joinville é complicada. O engenheiro agrônomo Ricardo Plothow, da Fundação 25 de Julho, está preocupado. Ele afirma que, nos últimos anos, o excesso de chuvas na região e o excedente de produção em outros Estados prejudicaram o pequeno produtor.

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– Produzir aqui já é normalmente mais caro, porque a terra vale mais.

Segundo o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa), o hectare preparado para o plantio de arroz chega a custar R$ 55 mil no município.

Ele lembra que os rizicultores acabaram perdendo dois anos seguidos nos dois lados da moeda.

– Perderam nos custos para plantar e ainda tiveram os prejuízos com a queda no preço do produto-, avalia.

O arroz encerrou setembro com o preço mais baixo para esse mês desde 2006.

A alternativa para os produtores rurais foi a de diversificar as fontes de renda para compensar as perdas.

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– Hoje em dia, sabemos que para que a agricultura familiar dê certo, ela precisa investir em, no mínimo, três alternativas de renda diferentes-, diz Onévio Zabot, gerente regional da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri).

A importância de outras atividades cresceu no ano passado. As vendas de mandioca, banana e leite ajudaram a melhorar o resultado do campo. O valor total da produção chegou a R$ 36,4 milhões, 29% a mais do que em 2009, segundo dados do IBGE. Mas essa expansão sequer faz cócegas no PIB joinvilense. A atividade só representa 0,3% das riquezas produzidas pela maior economia do Estado.

As expectativas estão em baixa

Com cerca de 50 hectares de terras plantados, inclusive em frente à sua casa, o agricultor Raul Laffin diz que prefere não criar muitas expectativas para o preço do saco de arroz na próxima colheita.

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– No ano passado, vendi arroz a R$ 19, R$ 20. Só para produzir, eu gasto em média R$ 25 o saco. A gente pode até esperar uma safra boa, porque estamos vendo que o arroz está crescendo bonito. Mas e aí? Do que adianta produzir melhor se ninguém paga nem o preço mínimo que o governo estipulou em R$ 25,80?-, indaga.

Raul vê com desconfiança as medidas adotadas pelo governo federal para incentivar a produção e diz que não foram poucos os casos de produtores que aproveitaram os incentivos para modernizar seu maquinário e acabaram não tendo como pagar as dívidas.

– Na agricultura, a gente não tem como chegar e falar que vende por tanto. É a indústria que vem e fala quanto ela quer pagar pelo nosso trabalho. Por isso eu não quis fazer nada dessas coisas do governo. Depois não tenho como quitar as parcelas e perco tudo de vez.

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O agricultor Osni Altrak e seu filho Douglas estão desanimados. Eles olham para a imensidão verde dos arrozais que plantaram e que começam a crescer e não veem futuro no trabalho.

– Chegamos em uma situação onde a gente não sabe se vai recuperar o que investiu. A gente espera que a colheita seja boa, porque o preço que estão pagando não ajuda a gente em nada-, diz Osni.

Para evitar prejuízos na plantação, eles decidiram cortar custos na produção. Com o aumento de 10% no preço, em um ano, foi o primeiro corte a ser feito.

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O uso de máquinas na hora da colheita também deve ser menor. O preço do óleo diesel subiu e os custos de manutenção estão mais altos.

Sem perspectivas de melhora, Osni preocupa-se com o futuro de seu filho Douglas. Ele chegou a completar o ensino médio, mas sempre trabalhou com o pai. O filho diz que não há um estímulo para que os jovens permaneçam no campo.

– Eu estou aqui porque eu gosto do que eu faço.

A crise na rizicultura pode ser sentida também na queda no número de produtores na cidade. Enquanto na safra 2009/2010, a Fundação 25 de Julho contabilizava 300 propriedades rurais e 225 produtores, na safra 2010/2011 foram 285 propriedades e 180 produtores.

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Osni diz que há muitos vizinhos desistindo de plantar arroz para investir em outras culturas, como palmeira e banana, ou partindo para a pecuária. Ele quer começar a criar gado em áreas que produzem abaixo da média e planeja começar os testes com pastagens no final do ano.