A polícia catarinense registrou mais de 7 mil ocorrências com apreensão de drogas no ano passado. Dados da Secretaria do Estado da Segurança Pública revelam que o volume de apreensões cresce a cada ano desde o início da década (veja números na infografia abaixo). Parte do crescimento, diz a polícia, deve-se aos números de Florianópolis, que se destaca nas estatísticas estaduais e é considerada uma cidade-polo no mercado de drogas sintéticas.

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Além do mercado consumidor em potencial movimentar o tráfico de drogas sintéticas no litoral catarinense, o domínio do processo de fabricação contribuiu para multiplicar a distribuição da droga. De acordo com as investigações, os traficantes brasileiros locais costumavam exportar para a Europa a cocaína trazida da Bolívia, do Peru e da Colômbia. Em troca, eles eram abastecidos com ecstasy e LSD provenientes do Velho Continente.

Nos últimos anos, dizem delegados especializados no combate ao tráfico, esse intercâmbio ilegal já não precisou se repetir para que as substâncias sintéticas chegassem às mãos dos consumidores brasileiros.

– É muito comum o ecstasy e o LSD agora serem produzidos no Brasil. Temos produções feitas aqui. Isso também aumenta o nível de apreensões por parte da polícia – observa o delegado Pedro Henrique Mendes, titular da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc), grupo voltado à investigação do tráfico em todo o Estado.

Investigações se limitam a reprimir a distribuição

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É consenso entre os grupos especializados no combate ao tráfico que as investigações praticamente se limitam a reprimir a distribuição da droga que já está em Santa Catarina. Isso porque, apesar de o Brasil dividir fronteira com os maiores produtores de drogas do mundo, a fiscalização é pouco eficiente nos limites territoriais. No entendimento do delegado titular da Decod, Attilio Guaspari Filho, a intenção de eliminar definitivamente as drogas é uma utopia.

– Enquanto existir usuário, vai existir tráfico. A gente enxuga gelo para não virar uma poça – reforça Guaspari.

A grande lucratividade no mercado das drogas, apontam os investigadores, também é determinante para que a atuação seja permanente e a renovação dos traficantes ocorra de maneira rápida após as prisões.

– No meu modo de ver, a legislação é fraca. Quando o traficante é preso pela primeira vez e não conseguimos comprovar que ele traficava reiteradamente, ele pega cinco anos de prisão, tem redução de dois terços, fica um ano e oito meses. O pensamento é de que o crime compensa – diz o chefe da Denarc, Pedro Henrique Mendes.

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A Denarc, aponta o delegado, tem enfatizado o combate à cocaína por ser o entorpecente que mais dá retorno financeiro aos traficantes.

– O traficante da cocaína tem maior requinte. Enquanto a maconha chega de carro ou caminhões, a cocaína vem de avião, usa pista clandestina. E grande parte vai ser exportada, pouca coisa fica aqui. Há uma dificuldade maior para enfrentar esse tráfico, mas é nisso que vamos focar – destaca Guaspari.