As energias limpas e renováveis vêm se tornando uma opção para contornar as crises energéticas em todo mundo. Em Santa Catarina não é diferente. Só nos últimos três anos, o Estado registrou aumentos siginificativos na produção de fontes fotovoltaicas (solares) e eólicas. Apesar disso, produtores afirmam que ainda faltam investimentos para expandir o setor na região. 

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Segundo dados do Ministério de Minas e Energia analisados pela reportagem do DC, entre 2018 e 2020, o Estado registrou um crescimento de 179,49% na produção de energia éolica: passou de 190,87 GWh (Gigawatt-hora) para 533,48 GWh em três anos. 

Este é o segundo maior crescimento do país. Santa Catarina só fica atrás de São Paulo que, no mesmo período, teve um aumento de 220% – passou de 0,05 GWh para 0,16 GWh. 

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Atualmente o Estado conta com 18 empreendimentos para a produção de energia eólica. Eles estão localizados nas cidades de Água Doce, no Meio-Oeste, Bom Jardim da Serra e São José do Cerrito, na Serra, e em Tubarão e Laguna, no Sul do Estado. 

Já em relação a energia solar, o crescimento foi de 509,76% em três anos. Em 2018, a produção catarinense era de 36,78 GWh, enquanto em 2020, o número saltou para 224,7 GWh. 

A expectativa é que esse número também seja superado em 2021. Segundo dados da Associação dos Produtores de Energia em Santa Catarina (Apesc), a produção de energia solar no Estado já alcançou 260 GWh. 

Atualmente, o Estado conta com oito usinas fotovoltaicas nas cidades de São José, Florianópolis, Catanduvas, Massaranduba, Guatambú, São Bento do Sul e Tubarão. Além disso, há projetos de micro e minigeração instalados em 19.561 unidades consumidoras cadastradas, em centenas de municípios. 

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Para o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Santa Catarina, Luciano Buligon, um dos motivos que explicam o crescimento das energias renováveis no Estado são os incentivos por meio do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (Prodec), que tem como objetivo a sustentabilidade e engloba diversas iniciativas, entre elas, a produção de energias limpas. 

— Nós incentivamos de várias formas. As indústrias, por exemplo, que querem investir aqui, oferecemos a opção de adicionar as energias limpas, por meio da postergação do ICMS. Ou seja, a empresa instala sua planta industrial já com um tipo de energia renovável — explica.

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Crescimento depende de características distintas 

Apesar dos bons números, os dois tipos de energia possuem características únicas que são fundamentais para que se tenha a produção e, por isso, há um desafio ainda maior no Estado. 

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Por exemplo, como a energia eólica precisa da força dos ventos, é necessária uma combinação de fatores para que a ela consiga ser gerada: densidade do ar, área coberta pela rotação das pás (hélices) e velocidade do vento. 

— Em Santa Catarina nós só temos três regiões onde o vento médio anual é adequado para a produção: Água Doce, Bom Jardim da Serra e Laguna. Já em Florianópolis, a instalação desse tipo de energia seria inviável, pois o vento não tem a capacidade suficiente para a geração — explica o mestre em energia elétrica e professor da Univali, Raimundo Celeste Ghizoni Teive. 

A falta de competividade da produção eólica também é reforçada pela Associação de Produtores de Energia de Santa Catarina (Apesc). Segundo o presidente da entidade, Gerson Berti, há muitos projetos voltados à produção eólica que não saem do papel por conta da carga do vento, que é inferior a Estados como a Bahia, por exemplo, que são polos nacionais nesse tipo de energia renovavél. 

Atualmente, a rede eólica representa apenas 4,43% da energia produzida em Santa Catarina. Mesmo assim, já há planos de expansão. Recentemente, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) concedeu a licença para a construção do complexo eólico em Calmon, no Meio-Oeste. 

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O empredimento deve produzir cerca de 250 mHz de energia eólica, com 95 turbinas. A expectativa é que ele distribua energia para quatro cidades da região: Calmon, Porto União, Caçador e Timbó Grande. A previsão é de que o complexo seja entregue em até 36 meses. 

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Energia solar pode crescer, mas precisa de investimento 

Por outro lado, a produção de energia fotovoltaica possui um caminho mais fácil para a expansão no Estado. Isto porque tudo que a fonte necessita é da presença do Sol. Atualmente, este tipo de produção representa quase 2% dos empreendimentos energéticos em Santa Catarina. 

— Também não é todo o lugar que é propício. Mas, por exemplo, é possível investir nesse tipo de energia no litoral catarinense, por exemplo, onde há maior presença de sol na maioria dos dias do ano — diz o professor Raimundo Celeste Ghizoni Teive. 

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Expansão da energia solar pode ser uma alternativa para o Estado
Expansão da energia solar pode ser uma alternativa para o Estado (Foto: Diorgenes Pandini/NSC)

Para o presidente da Apesc, apesar do potencial fotovoltaico, o que falta no Estado é o incentivo para instalação de placas solares em diferentes pontos, não só em prédios públicos, mas também em casas. 

— Nós temos um povo engajado, consciente e que quer produzir sua própria energia. O governo deve dar exemplo, utilizando escolas, hospitais ou telhados de penitenciária para produzi-lá — pontua. 

Ele salienta, ainda, que com esses incentivos, alinhado com a produção de outros tipos de energia renováveis, o Estado pode criar uma reserva energética para lidar com momentos de crise, como a estiagem. 

— Se as condições naturais não são as melhores, é necessário dar um empurrão, afinal é energia renovável. Não é uma solução definitiva, mais isso é uma forma de amenizar o impacto — complementa. 

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Além disso, para o especialista em energia elétrica, Raimundo Celeste Ghizoni Teive, a fotovoltaica também é uma ótima opção para a criação de uma produção de energia combinada, o que ajudaria a criar uma boa reserva em épocas de crise. 

— Por exemplo, está sendo estudada agora a energia solar flutuante, onde se coloca painéis flutuando nos lagos, que ficam nos reservatórios das hidrelétricas. Isso gera energia e ajuda a economizar a água desses reservatórios, o que traz inúmeros benefícios — salienta. 

A respeito da energia solar, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, Luciano Buligon, afirma que a pasta vem trabalhando em convênio com alguns municípios para que haja a produção. Entre elas, a geração de energia fotovoltaca voltada ao abastecimento de água em comunidades rurais de Palmitos, no Oeste. 

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Outra iniciativa que também está nos planos da secretaria, é a capacitação de energia fotovoltaica no Hospital Infantil Seara do Bem, em Lages, e no Complexo Turístico de Urupema, ambos na Serra catarinense. 

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Produção pautada no meio ambiente 

Além de ajudarem na produção de energia no Estado, tanto a energia eólica quanto a fotovoltaica são fontes renovavéis, ou seja, não agridem o meio ambiente. E é justamente a forma de criar alternativas “limpas” que tem entrado em pautas nas discussões. 

— Elas são muito importantes em relação a questão ambiental. Mas é preciso lembrar que elas só vão gerar energias em lugares propícios. Ou seja, não é uma energia firme e, por isso, ainda será necessário usar, de alguma forma, as termoelétricas em alguns momentos — diz o professor Raimundo Celeste Ghizoni Teive. 

Para Buligon, o momento atual da economia deve ser pautado no meio ambiente e, por isso, é tão importante o investimento na produação de energias limpas. 

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— O meu pensamento é de que as duas coisas [economia e meio ambiente] andam juntas. Se você vai tratar de energia limpa, ela atua como um ativo ambiental para ter um resultado econômico. É dessa forma que enxergamos a sustentabilidade, como um parceiro — frisa. 

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