A safra ainda não terminou, mas a colheita já chega à reta final. Enquanto os produtores do Alto Vale começam a estocar cebola para vender ao mercado, os agricultores da região de Ituporanga também lamentam prejuízos. Isso porque a incidência de doenças como míldio e mofo preto, a presença de pragas e o mau tempo durante parte do ciclo foram percalços durante a produção. Com o que já foi colhido, a estimativa da Associação dos Produtores de Cebola de Santa Catarina (Aprocesc) é de que até 25% da safra tenha sido comprometida na região. No Estado, a estimativa é de que esse índice chegue a 20%.
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As perdas mais significativas foram registradas principalmente nas variedades precoces da cebola. Os municípios mais atingidos foram Ituporanga, Imbuia e Atalanta, que sofreram ataque de uma doença chamada “yellow spot virus”, identificada pela primeira vez no Alto Vale na safra 2017/2018. Outros relatos de produtores indicam que o excesso de chuvas na produção de mudas, outono e inverno mais quentes, além de uma primavera de estiagem afetaram a região, que é a principal produtora no Estado.
Caso de Ituporanga, município que alavanca a produção em SC, onde o objetivo dos produtores era colher 120 mil toneladas de cebola. Com o fim da colheita, esse número não deve passar de 90 mil toneladas (perda de 25%). No início do ciclo, o problema foram as doenças. Já na metade, justamente no momento crucial para a bulbificação (quando há a formação do legume em si), o município teve o problema de estiagem e de alguns dias com pouco sol.
Foram pelo menos 40 dias, de acordo com Volmir Borssatto, engenheiro agrônomo do município, com baixa iluminação na lavoura, o que também comprometeu. Com isso, por conta do aumento do custo para o produtor, o preço do quilo vendido pelos agricultores aos mercados está em R$ 1,70, quando poderia ficar na casa de R$ 1. Isso impacta diretamente no bolso do consumidor, que pode chegar a encontrar o produto até 70% mais caro nos mercados.
Responsável por quase um quarto da produção em SC – que chegou a 411,4 mil toneladas em 2017, de acordo com dados do IBGE –, Ituporanga dita o ritmo do que será a safra deste ano, que termina em março. O mesmo problema também se estendeu para outros pilares da produção no Estado, caso de Aurora.
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Na pequena cidade de 5,7 mil habitantes do Alto Vale, além das pragas e doenças, pelo menos dois temporais comprometeram parte da lavoura. E não foi só a chuva que atrapalhou. Dias de calor intenso também tiveram impacto na produtividade da cebola. Por lá, a expectativa era de colher 60 mil toneladas, mas o valor real não deve passar de 45 mil toneladas.
– Fica a sensação de que poderia ter sido melhor. O custo para nós, produtores, aumentou muito por conta das doenças. Algumas lavouras tiveram que dobrar a aplicação de agrotóxico. Somado isso ao fato de que algumas plantas não responderam bem à condição do tempo, fez com que algumas lavouras ficassem aquém – aponta Jelson Gesser, agricultor e presidente da Aprocesc.
O agricultor Dionísio Werneke planta cebola há 35 anos em Aurora. Além de cultivar, ele também compra e revende cebola de outros produtores da região. Ele sofreu a perda de 70% no valor final da safra.
– Em 35 anos trabalhando na terra, nunca tive uma perda assim. Notei que a plantação tinha sido contaminada em novembro. As cebolas não cresceram o suficiente, agora o jeito é vender elas pela metade do preço – conta Werneke.
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Hoje, 90% da colheita de cebola já foi feita no Alto Vale, conforme informação da Câmara Setorial da Cebola de SC, órgão ligado à Epagri. Resta uma ou outra lavoura que optou pelo plantio tardio.
Produção em SC deve ser de 350 mil toneladas
Na região Sul do Brasil, a estimativa do Ministério da Agricultura é de que a safra chegue à marca de 570 mil toneladas. Em Santa Catarina, esse número vai girar em torno de 350 mil toneladas – cerca de 62% do previsto para o três estados sulistas, porém 20% menos do que o estimado inicialmente, tal como ocorre no Alto Vale também. A tendência é de que a produção catarinense seja a principal responsável pelo abastecimento no Brasil nos quatro primeiros meses de 2019, mesmo com os problemas enfrentados nas lavouras.