Uma suspeita cevada pelos procuradores da República desde a primeira fase da Operação Lava-Jato está consolidada: a de que a Petrobras é apenas uma parte da rede de subornos montada por grandes empreiteiras para garantir primazia nos melhores negócios bancados por cofres governamentais. Os tentáculos das construtoras se espalham por estradas, hidrelétricas e até na energia nuclear, afirma o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Ele confirmou, na sexta-feira, que a construção da usina Angra 3, do Rio de Janeiro, está sob investigação.

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Em janeiro, Andrade Gutierrez negou envolvimento de presidente

A cada vez que o Ministério Público Federal (MPF) pede busca e apreensão de documentos em alguma empreiteira, como ocorreu na sexta-feira com Odebrecht e Andrade Gutierrez, encontra, além da papelada relativa à Petrobras, tudo que se relaciona a outros negócios bilionários das empresas. É o caso de Angra 3, onde as duas investigadas na 14ª fase da Lava-Jato são sócias em um consórcio para finalizar a usina nuclear, que tem contratos de R$ 3 bilhões já firmados (mas pode chegar a R$ 14 bilhões). Há desconfiança de que parte do dinheiro tenha sido superfaturada para disfarçar propina paga ao PMDB, partido que controla o Ministério de Minas e Energia.

Empreiteiras envolvidas na Lava-Jato tentam acordo com o governo

O ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini afirmou, em depoimento de delação premiada ao MPF, que houve “promessa” de pagamento de propina ao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear, empresa do grupo Eletrobras, nas obras de Angra 3. A Camargo Corrêa também participa do consórcio da usina.

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– Houve compromissos de pagamento de propina equivalente a 1% dos contratos das obras – relatou Avancini, em março, reforçando as suspeitas do procurador.

TCU investiga prejuízos em negócios da Petrobras que podem alcançar R$ 39 bi

Chama a atenção do MPF que Angra 3 – assim como todas as obras nas quais as empreiteiras estão envolvidas – é, em grande parte, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Até por isso, alguns procuradores e policiais federais defendem um pente-fino nos maiores contratos da instituição. À medida que avança a investigação na Petrobras, surge algum financiamento de outra área feito pelo banco. E as apurações vão além do óleo.

Não é apenas mais uma fase da Lava-Jato

Em março, por exemplo, o doleiro Alberto Youssef relatou ter movimentado US$ 600 mil (cerca de R$ 1,8 milhão) do caixa 2 da Andrade Gutierrez na Venezuela. Nada a ver com a Petrobras, mas com obras da construtora naquele país. Youssef é acusado pela Justiça Federal de retirar US$ 500 milhões do Brasil, entre 2009 e 2013, com outros operadores do mercado negro. O fato é relatado na denúncia que motivou a 14ª fase da Lava-Jato.

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A intenção de investigar o BNDES fermenta entre os investigadores porque o banco público concedeu R$ 2,4 bilhões de empréstimos às nove principais empreiteiras sob escrutínio da Lava-Jato, conforme levantamento da ONG Contas Abertas. A Odebrecht, por exemplo, recebeu R$ 34,4 milhões, para aquisição de equipamentos visando à operação de prestação de serviços em contrato com a Petrobras e ampliação da base de apoio logístico da empresa em Macaé (RJ).

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Os financiamentos ocorreram entre 2003 e 2014, muitos para fora do país. Tramita na 4ª Vara Federal de Criciúma (SC) investigação sobre obras internacionais financiadas pelo BNDES. Vários são contratos envolvendo empresas-alvo da Lava-Jato. A Polícia Federal chegou a pedir, na sexta-feira, a quebra do sigilo bancário de todas as operações entre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez com o BNDES. O juiz Sergio Moro, responsável pelo caso, admite que o requerimento “é pertinente”, mas sugere que seja feito em inquérito separado do aberto agora.

Lava-Jato chega a sua 14ª fase; relembre as etapas anteriores da operação:

Os fatos que marcaram a operação:

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