Alguns dos corpos sarados que desfilam pelas praias catarinenses durante o verão nascem de um empenho que passa longe do suor dos exercícios físicos e da malhação. São resultado de uma maratona que começa meses antes, ainda durante o inverno.
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Todo ano, nesse período, as clínicas de cirurgia plástica lotam de pacientes preocupados em esculpir seus corpos a tempo para os dias de sol e calor – mais do que em qualquer outra época do ano. Mas em 2013, o número de intervenções atingiu o auge: a procura chegou a 60% a mais apenas neste mês de julho. Até então, o movimento nos meses de inverno – especialmente em julho – ficava restrito a 40% e 50% a mais do que nas demais estações.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o médico José Horácio Aboudib, o fenômeno de 2013 pode estar relacionado à oscilação econômica enfrentada pelos brasileiros este ano – que, primeiro, teria levado à uma queda no número de cirurgias entre março e abril, e, agora, voltou ao ápice em julho que, historicamente, já tem um aumento regular. Por isso, o aumento pode ser exclusivo de 2013.
– Sempre que há qualquer especulação econômica, há reflexo direto nas cirurgias plásticas. Se há problema, o paciente deixa para depois. Se há benefícios, a intervenção é priorizada – explica.
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O aumento na procura vai na contramão das estatísticas negativas. Há oito dias, a morte da advogada Ivane Fretta Moreira, 60 anos, mulher do vice-governador do Estado, Eduardo Pinho Moreira, reascendeu as discussões sobre os riscos das cirurgias plásticas. Mas quem fez não se arrepende e quem faz garante que é seguro.
O presidente da Regional Sul da SBCP, o médico Zulmar Antonio Accioli de Vasconcellos, afirma que não é normal ocorrerem mortes nas intervenções. Conforme estatísticas nacionais, um a cada 5 mil pacientes morre em decorrência da cirurgia – na maioria das vezes atribuídas à imperícia profissional ou à falta de condições do local onde é feita.
– Várias pessoas morrem todos os dias, em tantos outros tipos de cirurgias, e ninguém fica sabendo. Isso dá a impressão de que as mortes específicas na nossa área têm uma incidência mais frequente – explica Aboudib.
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O Brasil é o terceiro país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. Em quatro anos, o número de intervenções passou de 629.287, em 2008, para 905.124, em 2011, um aumento de 43,9%. No topo das cirurgias preferidas das brasileiras está a lipoaspiração, seguida pela prótese de silicone. Mas na lista ainda constam abdominoplastia e correções no nariz e nas pálpebras. Em Santa Catarina, a tendência é a mesma, embora não existam dados absolutos sobre o tema.
Lipo é a mais procurada
O que é a lipoaspiração
A técnica consiste na retirada de gordura localizada, com o uso de cânulas com espessuras que podem variar de dois a quatro milímetros. Em geral, o procedimento é feito em regiões como barriga, costas e pernas, remodelando-as. Em três semanas o paciente já está livre dos roxos. A cinta compressora deve ser usada por um mês, para ajudar a diminuir o inchaço, além de ajudar a modelar o local. A operação dura, em média, duas horas.
Os riscos
São três as complicações mais comuns quando o pós-operatório não é seguido à risca: prejuízos na cicatrização e sangramento e infecção locais. Em alguns casos, pode haver a formação de queloides na cicatriz, que independente da conduta do médico e do paciente. Na lipo, há riscos ainda de irregularidades visíveis. Isso pode acontecer por problemas durante a retirada da gordura ou quando a fisioterapia pós-operatório não é feita adequadamente.
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Fique por dentro
– A lipoaspiração não serve para emagrecer: ela apenas remove a gordura localizada em alguma parte do corpo e que insiste em não sair com exercícios físicos.
– A gordura que foi retirada pela lipo não volta mais. Mas não vai impedir a pessoa de engordar novamente. Os cuidados com o corpo após a cirurgia são os mesmos de qualquer outra pessoa que quer emagrecer: fazer exercícios físicos e equilibrar a alimentação.
– Não existem técnicas alternativas à lipoaspiração: se o objetivo é remover gordura localizada, só existe um tipo de lipo. Os outros nomes que aparecem, como a lipo-light e a microlipo, não passam de denominações diferentes para não assustar tanto.
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– A principal causa das mortes em cirurgias plásticas é a mesma de qualquer outra cirurgia: embolia pulmonar (bloqueio da artéria pulmonar devido à permanência em uma posição por muito tempo).
– Se a lipoaspiração não passar de 7% do peso corporal ou 40% da área corporal a ser submetida, ela é extremamente segura.
– Os riscos das cirurgias plásticas são exatamente os mesmos de qualquer outra cirurgia. E os principais deles podem estar relacionados a circunstâncias evitáveis, como não ter sido feito em boas condições, ou por um médico não-preparado, ou ainda em um local sem estrutura.
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Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Regional Sul da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)
Casos famosos de problema na cirurgia
Clara Nunes, 1983
A cantora, uma das mais populares do país à época, sofreu um choque anafilático durante uma anestesia geral aplicada para a realização de cirurgia de remoção de varizes. Ela passou 28 dias hospitalizada, mas não resistiu e morreu por insuficiência cardíaca no início de abril, aos 40 anos.
Cláudia Liz, 1996
A top model paulista tornou-se conhecida do grande público ao enfrentar complicações em uma cirurgia de lipoaspiração: a anestesia que os médicos aplicaram antes da operação resultou em um edema cerebral. Ela ficou quatro dias em coma, sofreu um edema cerebral e toma antidepressivos até hoje. Mas não permaneceu com nenhuma sequela. Na época, o país inteiro acompanhou o drama da modelo e, graças ao episódio, instalou-se o primeiro grande debate a respeito das exigências estéticas.
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Luís Carlos Vinhas, 2001
O pianista carioca, considerado um dos pais da bossa nova, seria submetido a duas cirurgias no mesmo dia. A primeira delas pretendia conter uma hérnia abdominal, adquirida pelo músico um ano antes, e foi um sucesso. A segunda tinha fins estéticos: seria feita para corrigir rugas acentuadas em torno dos olhos e a papada no pescoço. Duas horas depois de sair consciente da cirurgia, Vinhas descansava no quarto quando começou a sentir falta de ar e entrou em coma. Ele morreu dois dias depois, aos 61 anos.
Marcus Menna, 2004
O vocalista da banda LS Jack teve uma parada cardiorrespiratória após a cirurgia de lipoaspiração no abdômen, a qual se submeteu em julho daquele ano. Permaneceu 62 dias hospitalizado, muitos deles em coma induzido, mas conseguiu se recuperar.
Casos em Santa Catarina
2013
A advogada Ivane Fretta Moreira, mulher do vice-governador Eduardo Pinho Moreira, morreu aos 60 anos durante uma cirurgia de lipoaspiração no Hospital Ilha. Ela sofreu uma embolia pulmonar.
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2012
A modelo catarinense Pâmela Baris do Nascimento, 26 anos, nascida em São Francisco do Sul, teve o fígado perfurado durante uma cirurgia de lipoaspiração e não resistiu à hemorragia ocasionada pelo problema.
A comerciante Valdirene dos Santos de Campos, 36 anos, morreu dois dias após se submeter a uma lipoaspiração em um hospital privado de Criciúma, no Sul do Estado.
2008
A dona de casa Zulamar Maria Barbosa Correia, 44 anos, morreu durante a lipoaspiração em uma clínica em Florianópolis. Segundo a família, ela sofria de diabetes e teria feito a operação por recomendação médica.
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2007
A publicitária gaúcha Maria Eliana da Cunha Aragon Antinolfi, 55 anos, não resistiu a uma fibrilação cardíaca sofrida durante a cirurgia de lipoaspiração em um hospital privado de Florianópolis.