Mais de 60 motocicletas e 15 carros saíram cedo em uma manhã de domingo de Florianópolis rumo a Serra do Rio do Rastro. Dois policiais escoltaram o comboio que levava algo especial. As cinzas de Marco Antônio Cardozo, de 62 anos, morador de São José, na Grande Florianópolis. A homenagem atendeu a um pedido antigo do próprio Marquinho, como ele era chamado pelos amigos motociclistas.

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– Ele sempre falava que não queria ser enterrado, queria ser cremado e que as cinzas fossem jogadas lá, porque assim quando alguém tivesse saudade era só pegar a estrada e ir até a Serra – conta Alex Tadeu Cardozo, filho de Marco.

A homenagem aconteceu em 23 de março deste ano. A mulher de Marco, Iraci Cardozo, acompanhava o marido nas viagens de motocicleta e ainda fala emocionada da despedida:

– Estou tentando seguir minha caminhada, mas tenho sempre a impressão que ele voltará em cima de sua moto ou no triciclo.

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Marco morreu em 12 de março de parada cardíaca. A cerimônia feita pelos amigos foi uma forma de dar o último adeus.

Muitas famílias têm optado pela cremação, que cresce em média 30% ao ano em Santa Catarina, afirma Ronaldo de Souza, gerente do Crematório Vaticano, em Balneário Camboriú. Para ele a procura crescente é resultado da falta de espaço nos cemitérios. Inaugurado em 2007, o Vaticano foi o primeiro crematório no Estado e realiza entre uma e duas cremações por dia, em média.

Daniel, filho caçula do jornalista Paulo Brito, foi cremado em 2008, aos 32 anos.

– Ele sempre pediu para espalhar as cinzas em Jurerê, em Capão da Canoa [no Rio Grande do Sul] e também no estádio do Grêmio – diz Brito.

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Daniel, assim como o irmão Rafael, tinha uma doença genética, a distrofia muscular, que acabou encerrando a vida dele mais cedo. A homenagem no norte da Ilha, em Florianópolis, teve direito a show musical. No estádio do Grêmio, deixar cinzas no gramado não foi permitido ” porque eles recebem muitos pedidos como esse”. A solução foi lançar na arquibancada mesmo para que o vento se encarregasse do resto.

Mas a família foi além e espalhou as cinzas por outros países. Parentes levaram parte delas para o Mar Morto e para as pirâmides do Egito. A Torre Eiffel, em Paris, também foi destino de uma parcela.

– Agora sempre que penso nesses locais, penso que meu filho também está lá – diz Paulo Brito.

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O marido dela, Joaquim, faleceu em 2012 e foi cremado. Ela pensou em depositar em um rio em que o marido pescava, mas decidiu deixar a urna em casa.

– Fiquei mais sossegada quando coloquei ali – brinca.

>>> Serviço:

Crematórios com licença para operar em SC

Crematório Vale do Sol (Funerária São Pedro). Cidade: Caçador

Fone: (49) 35670617 // 99149090

Memoriam Crematório (Funerária Nossa Senhora do Rosário). Cidade: Lages

Fone: (49) 3222-9698 // 9915-8855

Crematório Vaticano. Cidade: Balneário Camboriú

Fone: (47) 3361-0400

Fonte: Fatma

::: Serviços em crematórios

Crematórios permitem adicionar uma série de incrementos aos serviços básicos.

Os materiais utilizados nas urnas determinam uma ampla variação de preços – é possível escolher urnas de madeira, bronze ou até de material biodegradável.

As mais simples custam menos de R$ 100, enquanto as mais requintadas ultrapassam R$ 20 mil.

Também existe a possibilidade de manter a urna em um espaço disponibilizado pelo crematório, em ambiente fechado ou em um jardim ao ar livre. No Crematório Vaticano, em Balneário Camboriú, a cremação custa a partir de R$ 2.930, se contratada previamente. Caso contrário, custa a partir de R$ 3,8 mil. O valor não inclui custo de translado do corpo.

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O processo de cremação dura até cinco horas, incluindo homenagem.

Se a pessoa manifestar em vida o desejo de ser cremada, com registro em cartório, reduz em até 50% a burocracia.

Coleta de DNA

As famílias podem optar por armazenar material genético da pessoa que morreu.

Preservada, a amostra pode auxiliar na investigação de doenças, permitindo a análise das probabilidades de manifestação em filhos, netos e bisnetos – em alguns casos, tomam-se medidas preventivas

Joia

Uma pequena porção das cinzas pode ser colocada dentro do pingente de uma gargantilha.

O restante é entregue na urna à família.

Urna hidrossolúvel

A urna hidrossolúvel pode ser jogada na água do mar ou em rios, dissolvendo- se em poucos minutos.

Pode também ser plantada, carregando sementes de árvores, e depois desintegrada pelo solo.

Urnas em miniatura

Escolha para quando houver o desejo de distribuir as cinzas entre diversas pessoas.

Cada familiar ou amigo recebe um recipiente com uma porção.

Diamante

O corpo de um adulto gera em torno de três quilos de cinzas – desse total, cerca de 500 gramas podem ser utilizados para fabricação de um diamante.

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Purificado e submetido a alta pressão e temperatura, o carbono das cinzas é transformado na pedra preciosa.

Os valores partem de R$ 17 mil, conforme informado pelo Crematório Vaticano, em Balneário Camboriú, o único do Brasil que oferece o serviço.

Columbário ou nichos perpétuos

Quem não quiser espargir as cinzas pode optar por mantê-las em um ambiente específico para isso, com a possibilidade de visitação. No columbário, em uma área interna, as famílias visitam a urna com as cinzas em um pequeno nicho.

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Pode-se dispor objetos que lembrem a pessoa falecida, como fotos, joias, brinquedos ou adereços de times de futebol.

Os nichos perpétuos, em um espaço ao ar livre, lembram os jazigos de cemitério, com tampo de granito.

A cremação

Procedimentos comumente adotados em crematórios ? Dependendo da empresa, a cremação é realizada dentro das próprias instalações do crematório.

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As cremações são individuais e devem respeitar o período de 24 horas decorridas a partir do óbito.

Algumas famílias, devido a crenças religiosas, podem solicitar um prazo maior – seguidores do espiritismo costumam solicitar 72 horas.

A pessoa é cremada dentro do caixão, com as roupas.

As flores dispostas sobre o corpo também são mantidas.

Um detector de metais é utilizado para checar a eventual presença de um marca- passo, composto por material explosivo.

Retiram- se a tampa do ataúde, por causa do vidro, e os componentes metálicos, como alças e adornos, pois são materiais que derretem. Não é corrente, no sistema funerário brasileiro, o reaproveitamento de caixões.

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A temperatura média do forno, abastecido por gás liquefeito de petróleo ( GLP), é de cerca de 900 ºC, com picos de 1.200 ºC.

Terminada a cremação, o conteúdo restante é recolhido do forno, e aguarda- se o resfriamento.

Fragmentos de ossos são colocados em um processador, por cerca de 30 segundos.