Maior e mais antiga festividade religiosa de Florianópolis, a Procissão do Senhor dos Passos agora é Patrimônio Cultural do Brasil. Por unanimidade, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decidiu pelo reconhecimento dessa importante celebração para a cultura nacional. A decisão aconteceu durante a reunião do colegiado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira, 20.

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A aprovação do registro da Procissão do Senhor dos Passos de Florianópolis, de acordo com o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, vem confirmar a riqueza de diversidade cultural brasileira, que se manifesta nas mais variadas formas e tradições regionais.

A procissão

A Procissão do Senhor dos Passos é o ápice de um ciclo ritual que reproduz os momentos finais da vida de Jesus: recorda a perseguição, a condenação e flagelação sofrida por Jesus e o encontro entre mãe e filho a caminho do Calvário. É antecedida por uma sequência de eventos e procissões que se sucedem ao longo da terceira semana da Quaresma.

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Anualmente, cerca de 60 mil fiéis participam da procissão que acontece há 250 anos. Com duração de uma semana, sempre 15 dias antes da Páscoa, é marcada por alguns momentos simbólicos.

A Lavação da imagem, uma cerimônia com crianças e penitentes, dá origem a uma água considerada milagrosa.

A Procissão do Carregador é um momento essencialmente marcado pela participação popular, quando são transportados, em ritual, objetos e alfaias das celebrações.

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A Trasladação, quando as imagens são levadas para a Catedral, é um momento de vivências emocionadas, em que fiéis se revezam carregando a imagem do Senhor dos Passos.

Por fim, a Procissão do Encontro, o ápice ritual que encena a Paixão de Cristo e tem como momento máximo o sermão que marca o encontro entre o Cristo e sua mãe, na quarta estação da via crucis.

História

A história da Procissão tem início na chegada da imagem à cidade, então vila de Nossa Senhora do Desterro, em 1764. Conta a tradição que a embarcação que transportava a escultura vinha da Bahia e rumava, originalmente, para o Rio Grande. No entanto, não conseguiu cruzar a Barra que levava ao porto de destino e, após tentativas frustradas de seguir viagem, acabou retornando à vila de Nossa Senhora do Desterro por três vezes.

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O próprio capitão do navio teria visto nos fatos uma expressão da vontade divina de que a imagem permanecesse na cidade e entrou em acordo com moradores da vila, recebendo pelo transporte da imagem valor não documentado.

Àquela altura, o povoado tinha aproximadamente nove mil habitantes. Quando a imagem do Senhor dos Passos chegou a Desterro, a igreja Matriz estava em obras, e sua guarda foi confiada à Capela do Menino Deus, na Colina da Boa Vista.

Irmandade de devoção

Em 1765, reuniram-se na Capela 25 moradores, entre portugueses e açorianos, para constituir a Irmandade do Senhor Jesus dos Passos. Sua missão era proteger a recém-chegada imagem e cultuar seu padroeiro.

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No ano seguinte, 1766, durante a Semana Santa, seguindo a tradição da Ilha dos Açores, a Imagem do Senhor dos Passos foi levada pela primeira vez em procissão pelas ruas da vila de Nossa Senhora do Desterro. O caminho representa o percurso de Cristo até o calvário.

Desde então, a cerimônia é festejada anualmente, incorporando novos rituais. Em 1783, a Irmandade incumbiu duas irmãs com a missão de vestir a imagem do Senhor dos Passos, na véspera da procissão. Esta atribuição solene de preparar a imagem especificamente para a celebração deu origem à cerimônia de lavação. A água resultante da lavação é considerada milagrosa e curativa para fiéis, que a utilizam para devoção, durante o ano inteiro.

Ainda em 1783, a Irmandade recebeu a doação da imagem de Nossa Senhora das Dores. Ao roteiro da procissão de domingo, acrescentou-se o encontro entre as imagens de Jesus e sua mãe, Nossa Senhora, a caminho do Calvário.

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Plano de Salvaguarda

O registro de Patrimônio Cultural Imaterial tem como propósito apoiar sua continuidade de modo sustentável, atuar para melhoria das condições sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência. O conhecimento gerado durante o processo de registro aponta as formas de salvaguarda da cultura inventariada.

Entre as recomendações de salvaguarda da Procissão Nosso Senhor dos Passos, está a criação de um portal eletrônico, para funcionar como centro de referência da celebração, disponibilizando informações referentes à Procissão e à Irmandade.

Muitas outras iniciativas devem tomar forma em decorrência do registro de Patrimônio Cultural. Ações de difusão e valorização, como projetos educativos, publicações, exposições, palestras, estímulo à pesquisa acadêmica, cursos, o?cinas, visitas guiadas à Capela do Menino Deus e ao Museu Sacro. Em especial a transmissão de conhecimentos relativos ao fazer artesanal de velas e tochas, atualmente realizado apenas por Seu Branquinho, ainda sem sucessor nessa função.

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