Foi a primeira procissão em que a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes não foi acompanhada por Inácio Duarte _ conhecido na Lagoa da Conceição por Seu Inacinho _ que faleceu em 2013. Foi dele a ideia de criar um culto à santa em Florianópolis. A ideia foi prontamente abraçada pelos barqueiros, que, 68 anos depois do primeiro cortejo, ainda seguem navegando em culto à padroeira de todos os marujos.

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Eram 15h e o sol brilhava forte em cima da capela de Nossa Senhora da Conceição quando salvas de palmas, ladainhas e fogos de artifício deram início à procissão da padroeira dos navegantes. Na rua, os termômetros marcavam 36ºC, mas ninguém arredou o pé ou deixou de caminhar por quase uma hora de devoção. Dona Emília de Barcelos Salvador, 70 anos, não reclamou do calor e fez todo o percurso sozinha, atendida somente por alguns passantes que ofereciam um lado debaixo das sombrinhas:

– Meu marido era pescador, mas eu já era devota de Nossa Senhora dos Navegantes desde pequena. Estou na procissão todo ano – diz a senhora de cabelos brancos sem nenhuma gota de suor no rosto.

Depois de uma hora de caminhada, os devotos chegaram ao porto da Cooperbarco, onde embarcaram em um passeio pela Lagoa da Conceição. Como uma carreata, os barcos seguiam pelos cantos da Lagoa e eram recebidos com grandes baterias de fogos de artifício. Os estouros duravam até cinco minutos, encantando todos os passageiros das 20 embarcações que participavam do cortejo.

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Depois de admirar a Lagoa, as pipas de kitesurf e banhistas – por uma hora e meia – os barcos atracaram e foram recebidos por umbandistas, que celebravam o dia de Iemanjá, mas também faziam homenagem à santa católica. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes foi recebida em terra com uma chuva de pétalas de rosas brancas e seguiu de volta à capela.

Não foi o fim do culto, que seguiu com muita festa no salão da igreja. Dona Emília seguiu de volta à capela: firme, forte e agora abençoada mais uma vez por Nossa Senhora da Conceição.

As origens do culto na Lagoa

O início da devoção à Nossa Senhora dos Navegantes em Florianópolis aconteceu por conta da mãe de Seu Inacinho. Os dois foram até Rio Grande em 1946 e viram a procissão feita com os barcos pelo mar. A mulher deu a ideia de trazer uma imagem – toda de azul, carregando um pequeno veleiro – para a capela da Lagoa da Conceição para fazer algo semelhante.

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Os dois conseguiram uma imagem e contaram para todos os pescadores e barqueiros da região sobre a procissão de Rio Grande. A ideia foi repetida e se espalhou de tal forma que virou atração turística. Todo ano cerca de 300 pessoas acompanham a santa pelas ruas do bairro e dentro dos barcos. Seu Inacinho era uma espécie de padroeiro da procissão, cargo que agora passou para seu filho, Claudinei Inácio Duarte.