Com orçamentos e pedidos de compras em mãos, o torneiro mecânico Charles Pires, que atua na Comcap, afirma que a empresa pública está pagando caro para manter a frota rodando no serviço de coleta de lixo de Florianópolis.
Continua depois da publicidade
Segundo o funcionário, que já foi diretor administrativo e financeiro da empresa, a atual direção estaria pagando quase duas vezes a mais em produtos depois que abriu licitação para fornecimento de peças em agosto de 2014, por meio da modalidade registro de preços.
– A empresa que venceu o processo é de São Paulo, mas compra peças de segunda linha aqui e vende para a Comcap como se fossem originais. Além disso, quando a peça vem da tal empresa, demora uma semana. A oficina está cheia todo dia com caminhões sucateados – diz Charles.
Procurados pela reportagem, quatro membros da diretoria admitiram que em alguns casos houveram divergências entre o valor pago e o preço estabelecido no contrato. Segundo contaram em entrevistas na semana passada, as três empresas vencedoras da concorrência foram chamadas na sede da Comcap para esclarecerem o caso.
Continua depois da publicidade
– Nós convidamos para ajustar isso e outras questões, como o tempo de entrega e o estoque mínimo em Florianópolis também. Constatamos que em pouquíssimos casos houve discrepância do preço em relação ao contrato. A denúncia geradora desloca três situações de um contexto de centenas – destacou o presidente da Comcap, Acácio Garibaldi Filho.
Até 38,5% de desconto nas peças
O contrato assinado em 5 de setembro de 2014 e com validade de 12 meses está baseado em uma tabela nacional, chamada Audatex, que contém cerca de mil itens para a mecânica. As empresas Alberto Caio Tamborrino EPP, a Milenium Comércio e Serviços Ltda e a Fusion Comércio de Auto Peças Eireli ganharam a disputa por oferecerem na licitação descontos entre 33% e 38,5% sobre a referida tabela. Ou seja, em uma peça de caminhão que custa R$ 1 mil na Audatex, sairia para a Comcap, em tese, por até R$ 615.
– Na média, estamos diminuindo nosso custo global, mas em alguns artigos pagamos mais caro mesmo. A tabela é que decide – salientou o presidente Acácio.
Continua depois da publicidade
Segundo números da empresa, na comparação entre dezembro de 2013 e 2014 houve uma redução de 44% no custo, mesmo com aumento no número de ordens de serviço. Na comparação de janeiro de 2014 para 2015 também houve economia, que supera 59% _ de R$ 245 mil caiu para R$ 100 mil.
Presidente da Comcap, Acácio Garibaldi diz que situação é regular na empresa e denúncia está fora de contexto. Crédito da foto: Marco Favero
E a qualidade?
Em relação à qualidade das peças, o diretor de operações da empresa, Marius Bagnati, explicou que recentemente foi colocado um homem da oficina no almoxarifado para melhorar o controle dos produtos.
Continua depois da publicidade
– Estamos azeitando o processo. Por 43 anos a Comcap comprou peças de forma ilegal, vamos dizer assim, e agora legalizamos. Quando há desconformidade, nós devolvemos e justificamos – disse Marius.
– O fundo de pano disso tudo é que se quebrou um vício aqui dentro: de que qualquer um saía e buscava uma peça – completou o presidente Acácio.
Também foram ouvidos pela reportagem o gerente de manutenção, Carlos Berkenbrock, e a diretora administrativa e financeira, Léia da Silva, que está na empresa há mias de 40 anos.
Continua depois da publicidade
A denúncia
O torneiro mecânico Charles Pires, que fez a denúncia ao jornal Hora e à RBS TV, mostrou três casos em que a empresa paulista Alberto Caio Tamborrino teria vendido para a Comcap peças que, se fossem adquiridas no mercado local, sairiam mais baratas para a Companhia.
Com ordens de compra em mãos, torneiro Charles Pires aponta gastos excessivos na Comcap. Crédito: Diorgenes Pandini
A principal comparação envolve uma compra feita pela Comcap no dia 8 de janeiro. O kit de embreagem do caminhão modelo VW 13150/2001 saiu por R$ 1,5 mil (o valor unitário). Em uma distribuidora localizada a dois quilômetros da sede da empresa, no Estreito, é possível conseguir o mesmo kit por R$ 900.
Continua depois da publicidade
Conversamos por telefone com Alberto Caio Tamborrino, que disse não ter fundamento a comparação. O empresário citou três exemplos em que teve desvantagem na relação contratual. Tamborrino falou sobre a venda de uma ponta de eixo do diferencial de um Kia 2700. O produto foi adquirido por R$ 1.005,50 e vendido por R$ 764,82 para a empresa de coleta de lixo.
É uma situação normal de mercado
– Ele (Charles) está comparando peça de distribuidora, que vende no atacado, com preço no varejo. Existem casos em que há esse tipo de divergência, mas acontece o inverso também. Casos em que eu compro mais caro do que vendo para a Comcap. A Companhia tem um parâmetro legal para registrar o preço, que é a tabela – argumentou o empresário.
Charles alega ainda que a empresa de São Paulo compra na distribuidora de Florianópolis para repassar para a Comcap.
Continua depois da publicidade
– Tenho contratos em Lages, Santa Maria, Rio de Janeiro, Sorocaba, e tenho que manter estoque nessas regiões, até para uma questão de logística. É por isso que acabo comprando em autopeças da região. É uma situação normal de mercado – explicou Tamborrino.
Atrasos e emergências
A Comcap conta hoje com 52 caminhões na frota. Dez deles foram adquiridos em dezembro, mas 19 têm idade superior a 17 anos _ o mais antigo é de 1979. Com 51 roteiros por dia, divididos em três turnos, a oficina costuma ser movimentada. Segundo o diretor de Operações, Marius Bagnati, ao menos 12 caminhões passam pela oficina diariamente, mas é comum ter 20 veículos parados.
– São quebras de rápido conserto. A maior recorrência é de regulagem de freio, conserto de vazamento hidráulico e regulagem de prensa. Mesmo quando chega a 20, não chega a ser metade da frota – disse.
Continua depois da publicidade
De acordo com o contrato firmado em setembro, as fornecedoras de peças teriam que entregar o produto em até 48 horas. Em decorrência da distância da fornecedora Alberto Caio Tamborrino, localizada em São Paulo, a Comcap teve que comprar peças por fora do contrato no dia 29 de janeiro.
Há fundo de reserva para compras urgentes
Segundo Marius Bagnati, a compra de peças fora do contrato ocorre em situações emergenciais ou em peças de menor valor que não estão na tabela Audatex. Para essas compras, usa-se um fundo fixo de R$ 10 mil mensal que cada gerência possui.
– No caso do atraso, nós chegamos a notificar a empresa (Alberto Caio Tamborrino) pelo atraso no fornecimento, pois estávamos com os caminhões há 12 dias parados e não podíamos esperar mais – contou Marius.
Continua depois da publicidade
O empresário paulista estranhou a informação. Segundo ele, as peças teriam sido entregues no prazo e não havia chegado qualquer notificação da Comcap até o último dia 6 de fevereiro.
Fornecimento de peças na Comcap
Compra
– Antes da licitação: Eram feitos três orçamentos em autopeças da região e a compra ocorria na que oferecia o menor preço. Qualquer um podia solicitar o produto e o controle era precário.
– Depois da licitação: A oficina solicita ao almoxarifado da Comcap que faz a solicitação a empresa que venceu a solicitação, que deve fornecer a peça com desconto sobre a tabela Audatex.
Continua depois da publicidade
Vantagens
– Antes da licitação: As peças eram adquiridas mais rapidamente.
– Depois da licitação: Maior controle sobre as compras e garantia legal no processo. O custo global da manutenção caiu entre 37% e 40% na compra de peças.
Desvantagens
– Antes da licitação: Não havia controle sobre a compra de peças. O processo era legalmente precário, na visão do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
– Depois da licitação: Maior demora na entrega do produto. Seguindo a tabela Audatex, a Comcap pode pagar mais caro por uma peça do que no mercado local em alguns casos.
Continua depois da publicidade