Passados 40 anos do golpe que colocou o Chile sob um dos regimes mais sanguinários da história latino-americana, a memória se reaviva, e o Brasil aparece em imagens pouco lisonjeiras.
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Testemunhas que estavam no Chile durante o golpe do general Augusto Pinochet lembram de ter visto soldados brasileiros perambulando pelas ruas de Santiago às vésperas da quartelada. Outras contam, em processo judicial, que toxinas botulínicas, capazes de agir como veneno, foram introduzidas no Chile. Supostamente procedentes do Brasil, as substâncias teriam aportado no país por volta de 1980, sete anos depois do golpe, quando protestos contra a crise econômica afrontavam o regime.
De acordo com Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, uma investigação judicial é incentivada por organismos de direitos humanos para esclarecer o envenenamento de presos políticos com essas toxinas, em locais como o Estádio Nacional e masmorras de Santiago. Também consta nas investigações a morte, em 1982, do ex-presidente Eduardo Frei, na clínica Santa María, de Santiago. Democrata-cristão eleito pelo voto popular, Frei governou o país até 1970, quando foi eleito o socialista Salvador Allende, deposto e executado pelo golpe de 11 de setembro.
O juiz Alejandro Madrid não se manifesta sobre o assunto. Sua assessoria alega que o processo corre em segredo de justiça. A principal testemunha, no entanto, já morreu. Tratava-se do químico Eugenio Berrios, acusado de ter introduzido o gás sarin no país sul-americano. Ele foi retirado do Chile em 1991 pelos militares Tomás Casella, Eduardo Radaelli Copolla e Wellington Sarli Pose, que queriam vê-lo calado enquanto Pinochet ainda chefiava as forças armadas (mesmo após o fim da ditadura). Encontraram-no morto quatro anos depois. Recentemente, o próprio juiz Alejandro Madrid aumentou a pena dos três militares uruguaios acusados de terem sequestrado e assassinado Berrios.
A presença brasileira no golpe chileno é corroborada por outros testemunhos.
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– Câmara Canto foi mais um integrante da junta militar chilena. Havia soldados do Exército Brasileiro nas ruas de Santiago quando houve o golpe – relata o senador brasileiro João Capiberibe, que conta sua passagem pelo Chile no livro Florestas do Meu Exílio, a ser lançado segunda-feira, às 19h, na Livraria Cultura.