A rota de colisão entre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a presidente Dilma Rousseff começou a ser traçada bem antes de o parlamentar anunciar, nesta quarta-feira, o acolhimento do pedido de impeachment da petista. A relação entre ambos tem oscilado mesmo antes de Cunha ter sido eleito presidente da Câmara dos Deputados, em 1º de fevereiro, derrotando, inclusive, o representante governista, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

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“Não há fundamento. É jogo político”

Já no discurso da vitória, o peemedebista declarou que “o parlamento soube reagir no voto” à tentativa do governo de impedir a sua vitória. Segundo ele, o PT impôs pressão sobre os deputados da base para eleger Chinaglia.

Mesmo assim, garantiu que seus aliados no Congresso não iriam “travar nenhum tipo de batalha” contra o Planalto. Afirmou também que a Câmara não seria submissa ao governo, mas que não incorporaria um papel de oposição. Para ele, o conflito na campanha era “um episódio virado”, e essa declaração diminuiu o distanciamento entre Cunha e o Planalto.

Presidente da Câmara decidiu se explodir

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No entanto, houve um novo período de embate quando Cunha passou a ser investigado pela Operação Lava-Jato por suspeita de corrupção na Petrobras. Ele se disse convencido de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, agia contra ele em sintonia com o governo. Com isso, em julho ele oficializou o seu rompimento com o governo de Dilma Rousseff e se declarou membro da oposição. Mas enfatizou que não atuaria contra o Planalto como presidente da Casa.

O anúncio da insatisfação com o PT veio menos de 24 horas depois do vazamento de depoimento do lobista Julio Camargo à Operação Lava-Jato citando o pagamento de US$ 5 milhões de propina a Cunha – o deputado nega e responsabiliza o Planalto pelo seu envolvimento nas investigações.

VÍDEO: Cunha resolveu se vingar

O primeiro sinal de retaliação ao governo não demorou a aparecer: Cunha criou a CPI do BNDES e autorizou a criação da CPI dos Fundos de Pensão.

– Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje (17 de julho). Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo – disse Cunha na ocasião.

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Na primeira semana como novo ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner ensaiou uma reaproximação do governo com o presidente da Câmara dos Deputados. Mesmo diante das novas denúncias investigadas na Operação Lava-Jato e do momento de fragilidade política do peemedebista, o ministro demonstrou disposição em abrir um novo canal de diálogo.

Cláudia Laitano: com a faca nos dentes

Nesse momento, surgem novos indícios de corrupção envolvendo Cunha: contas na Suíça atribuídas a ele. À CPI da Petrobras, ele negou ter ligação com as contas. Com isso, no dia 3 de novembro, o Conselho de Ética da Câmara instaurou processo para investigar se o presidente da Casa cometeu quebra de decoro parlamentar ao dizer que não possui contas bancárias secretas no Exterior.

Razões para impeachment são “inconsistentes”, afirma Dilma

Na última terça-feira, porém, a relação já inflamada atingiu o seu ponto de ebulição e culminou no acolhimento do impeachment da Dilma, no dia seguinte: enquanto o Conselho de Ética da Câmara se reunia para votar o parecer preliminar do processo de cassação de Cunha, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, utilizou sua conta pessoal no Twitter para orientar os três integrantes do partido no colegiado a votarem pela continuidade do processo. Essa postura foi de encontro, inclusive, com as pretensões do governo federal, já que o Planalto pressionava os petistas a salvar Cunha para evitar a deflagração do impeachment de Dilma e garantir a aprovação das medidas de ajuste fiscal. “Confio em que nossos deputados, no Conselho de Ética, votem pela admissibilidade”, escreveu presidente do PT na rede social.

Após uma longa negociação de bastidores com Eduardo Cunha nesta quarta, a bancada do PT na Câmara cedeu à pressão de sua militância e do presidente da legenda, Rui Falcão, e decidiu no início da tarde que irá votar pela continuidade do processo de cassação do presidente da Câmara. Os votos dos três integrantes do PT no Conselho de Ética (que reúne um colegiado de 21 deputados federais) são considerados cruciais para definir se o processo contra Cunha segue ou será arquivado.

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Líderes partidários ligados ao peemedebista estiveram com o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, que havia garantido ao grupo o voto dos petistas em favor do arquivamento do processo no Conselho.

A mudança de posição dos petistas, que até então estavam inclinados a fechar com Cunha, teve potencial explosivo no Congresso, com o acolhimento do pedido de impeachment da presidente.

Cunha, no entanto, nega que se trata de uma “vingança”, e alegou que a decisão já estava tomada desde segunda-feira e não tem “motivação de natureza política”. Disse, ainda, que rejeitaria o pedido se ele tivesse “em descumprimento da lei”.

“Tem embasamento jurídico”

Desafio agora é separar o inseparável

Entenda as etapas do impeachment abaixo: