A barragem de Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí, vai passar por uma reforma emergencial. Uma inspeção realizada em fevereiro mostrou que comportas estão com problemas de vedação. A obra deve impactar no combate às cheias se ocorrer uma eventual enchente na região enquanto o serviço não for concluído, já que a estrutura ficará inoperante. O governo do Estado informou que pretende terminar os trabalhos antes do período chuvoso.
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A estrutura tem cinco comportas, que servem para controlar a vazão da água da chuva retida no reservatório. Duas delas estão com falhas no isolamento, mas a Defesa Civil decidiu por precaução recuperar todas, para mantê-las no mesmo nível de segurança, explica o chefe da pasta, David Busarello.
— Durante o período de obras as comportas precisam ficar todas abertas. Nós vamos iniciar o trabalho por aquelas que estão com problemas, a C4 e a C5, o que vai levar de dois a três meses. A partir disso, nós vamos poder operá-la normalmente — garante o secretário ao dizer também que a reforma geral, abrangendo as cinco comportas, pode levar até seis meses.
A obra será feita com dispensa de licitação para tentar acelerar o processo de contratação. Quando definida a empresa responsável por elaborar o projeto, o prazo será de 30 a 45 dias para entrega do documento. Depois disso ocorre a seleção para execução da obra em si.
Mas se houver enchente?
Numa eventual enchente no Vale do Itajaí neste período, apenas uma das três barragens na região estará operando. Com a estrutura de José Boiteux inativa desde 2014 — por impasses que envolvem o governo e a comunidade indígena —, a tarefa de reter o maior volume de chuva possível ficará com a barragem de Taió – que tem menor capacidade de armazenamento, com reservatório para 99,6 hectometros cúbidos — o equivalente a 99,6 bilhões de litros. Isso representa o consumo de água de Blumenau num período de quatro anos, considerando o registro de fevereiro do Samae.
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A Defesa Civil de Santa Catarina chegou a mudar o plano de ativação das comportas caso ocorra uma inundação. Via de regra, as sete comportas da barragem de Taió começam a ser operadas quando o nível do rio na cidade de Rio do Sul atinge a marca de 4,5 metros. Com a estrutura de Ituporanga comprometida, essa manobra deve ter início a partir dos 3,7 metros.
— A partir de agora, qualquer incidência de chuva maior, a gente acaba retendo um pouco mais de água em Taió, para compensar essa fluidez da água de Ituporanga. Essas duas barragens atuam em conjunto — explica o secretário.
Busarello acredita que dará tempo de toda a obra ficar pronta antes do período de chuva intensa, apontado por ele como entre setembro e outubro. Nas últimas 10 enchentes que ocorreram no Alto Vale do Itajaí, apenas três aconteceram fora desses dois meses.
O secretário frisa que no ano passado a estrutura de Ituporanga foi manobrada duas vezes. Ressalta ainda tratar-se de uma barragem com quase 50 anos e que, como consequência, precisa de reparos.
Não é o melhor cenário
Ademar Cordeiro, hidrólogo com longa experiência no Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (Ceops), diz que num eventual aumento de chuvas, o melhor cenário é ter a barragem apta para funcionar 100%. Um exemplo disso é o episódio da última terça-feira (8), quando a barragem de Taió teve comportas fechadas após uma chuva de 80 milímetros no Vale do Itajaí que elevou o nível dos rios.
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Ainda assim, o especialista destaca que a barragem de Ituporanga não perde função em virtude do problema com as comportas. Isso porque o reservatório segue atuando como um funil de segurança que retém um volume importante de água.
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Já Busarello admite que obras em barragens provocam certo receio, mas aponta que é algo necessário quando se pensa a longo prazo.
— Claro que qualquer intervenção que se faz nas barragens causa certo temor na comunidade, mas é um trabalho necessário para trazer toda a segurança que se precisa — frisa o chefe da Defesa Civil estadual.
O governo do Estado diz que a reforma das comportas estava no radar, mas não para agora. Mesmo assim, Busarello garante que não vai faltar o recurso de aproximadamente R$ 1,5 milhão, segundo estimativa prévia do secretário.
Ele pontua que paralelamente à situação das comportas, a Defesa Civil começou o processo para executar a dragagem de toda a barragem e a troca das grandes nas entradas das comportas, com investimento de R$ 3,2 milhões.
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