Uma página publicada na semana passada pela Hora (17/01), jornal irmão do DC e destinado ao segmento popular, reafirma o valor da transparência – e comprova como o Jornalismo evolui junto com a sociedade. Não há mais como gerir algo – um país, um Estado, uma cidade, uma autarquia, uma empresa privada, uma escola, um clube, uma família, um jornal – sem transparência. Mas tão certa quanto essa realidade, é a dificuldade do exercício diário dessa prática de honestidade pública.

Continua depois da publicidade

Jornalismo, já definiu alguém, é a técnica de jogar luzes em algum fato que alguém não deseja que seja veiculado. “O bom repórter ilumina a cena”, ensina Carl Bernstein, um jornalista que mudou o mundo – e o Jornalismo – ao investigar e esclarecer o Caso Watergate, em 1973. Ouso imaginar que, depois do escândalo que derrubou um presidente na sólida democracia americana, as redes sociais são a maior transformação para a clareza das relações políticas e humanas – e para o Jornalismo por consequência.

Muitas vezes utilizadas de forma irresponsável, é verdade, as redes sociais (Twitter, Facebook, Linkedin, YouTube e outros) têm forçado a todo o instante as revisões de conceitos. Aquilo que acreditávamos estar claro, costuma, muitas vezes, estar obscurecido para alguns. É preciso, portanto, esclarecer, esclarecer, esclarecer.

A matéria publicada pelo jornal Hora, diga-se de passagem, é uma simples matéria de um jornal acostumado à transparência e por isso mesmo de agrado popular. Mas a reportagem editada com solenidade e chamada na capa, detalhando de forma didática uma adversidade do jornal com a entrega dos kits da tradicional promoção Junte e Ganhe, ganhou outro status, na ótica do leitor.

Com dificuldade de receber o material encomendado a um fornecedor do Exterior, a Hora esclareceu aos seus milhares de leitores, com todas as letras, o porquê da demora. E reafirmou o compromisso de entregar o produto, como faz tradicionalmente há seis anos.

Continua depois da publicidade

Após a publicação da página, era perceptível a compreensão e a tranquilidade dos leitores. O volume de telefonemas à Redação caiu. E as manifestações contrariadas em redes sociais ganharam o tom da compreensão e da tranquilidade. “Se o jornal publicou e admitiu o problema, é sinal de que devo ficar tranquilo”, disse o leitor Davi Michel.

Era visível, também, após a publicação de uma simples página, a satisfação no semblante dos profissionais do jornal, que é elaborado na mesma enorme sala do Diário Catarinense. Desde o dia 15 de dezembro, é preciso lembrar, a Hora vinha publicando um informe bem visível na capa, explicando a dificuldade de receber o material do kit do fornecedor. Mas foi preciso mais do que um informe oficial: era necessária uma satisfação jornalística. Foi mais uma lição para nós.

O objetivo desse Diário da Redação é, além de trazer novidades do produto aos leitores, jogar luzes sobre os bastidores do jornal, como, por exemplo, seus erros de português ou digitação, tema de uma coluna na edição do dia 9 de dezembro. Ou a crônica no dia 24 de abril do ano passado, que abordou a dificuldade das Redações de atenderem os leitores queixosos.

Buscar a transparência sempre foi uma obrigação para os jornalistas ao longo da história. Mas nesta Era Digital, não basta tentar: tem de conseguir ser, de fato, transparente.

Continua depois da publicidade

Como um dos participantes na formulação do Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística do Grupo RBS, sinto-me à vontade diante do questionamento público. Há quase três décadas militando em Redação, costumo dizer a meus pares que o jornalismo não está acima nem abaixo de outras profissões, apenas é um ofício mais exposto que o da maioria das outras profissões. Isso nos diferencia.

E dá mais trabalho. O administrador público e o empreendedor privado que entender isso vai sobreviver melhor. E entender também por que a imprensa vive a exigir transparência e denunciar quando assim não ocorre.