A prisão do ex-governador Sérgio Cabral tem dois significados: o desmanche do PMDB do Rio e a abertura de um novo flanco nas investigações da Lava-Jato. Com base nas delações premiadas, os holofotes se voltam para falcatruas em obras nos Estados, envolvendo os governos locais. Só envolvendo obras da Copa, como a construção de estádios, o material à disposição da PF é farto. A prisão de Cabral é só o começo.

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Sérgio Cabral era um governador badalado com um projeto de poder. Ele queria ser presidente da República. Para reforçar seus planos, ficou amigo íntimo de empreiteiros. Fernando Cavendish – aquele que presenteou a mulher de Cabral com um anel de R$ 800 mil – era um deles. Parte dos escândalos apareceu no meio do caminho, tirando Cabral de cena. Mas agora é o fundo do poço para o amigo de Lula, Dilma, Aécio e quem mais chegasse. Preso na Lava-Jato, Cavendish contou o que sabia. As delações da Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia também comprometeram o ex-governador que gostava de uma boa vida. De acordo com os investigadores, a propina era chamada de ¿oxigênio¿ e era repassada da seguinte maneira pelas empreiteiras: 5% para Cabral, 1% para o secretário de obras e 1% para os conselheiros do Tribunal de Contas do RJ. Isso também ajuda a explicar o motivo da grave crise financeira do Rio. Além da péssima gestão, do inchaço da máquina, também houve assalto aos cofres públicos.

Caciques do PMDB podem até negar a preocupação, mas o partido está em alerta. Até agora a Lava-Jato já encarcerou Eduardo Cunha e Cabral, dois nomes importantes do partido. Do PMDB do Rio, Moreira Franco – homem de confiança de Temer – é outro que já foi citado em delações. Ao contrário do que sugeriu o senador Romero Jucá lá no início do ano, flagrado em conversa com o ex-presidente da Transpetro, ninguém estancou a sangria da Lava-Jato. Ainda bem.