Faz 35 anos que me desloco por toda Joinville usando pernas, ônibus e automóvel. Fui tomando consciência dos problemas de mobilidade urbana conversando com as pessoas e “cortando na própria carne”, literalmente.
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Em 2005, comecei a difundir, por meio da imprensa, em reuniões com vereadores, prefeitos, técnicos de várias áreas do serviço público e empresários, propostas para melhorar a mobilidade, reconstruir o meio ambiente urbano e promover a qualidade de vida e a saúde das pessoas.
Isso exige que todas as ruas atendidas pelo transporte coletivo tenham, em toda sua extensão:
– Calçadas em ambos os lados, construídas com concreto alisado (significa para o pedestre o mesmo que o asfalto para o automóvel e é mais barato), sem degraus, com desníveis superados por rampas suaves (8%), livres de obstáculo de qualquer natureza, com faixa de grama e árvores junto ao meio-fio;
– Ciclovias ou ciclo-faixas no lado oposto ao do ônibus, integrando todos os destinos;
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– Corredor de ônibus (três veículos transportam o mesmo que 180 automóveis);
– Abrigo moderno e faixa para pedestre em todos os pontos de ônibus para proporcionar conforto na espera do ônibus e segurança na travessia da rua, inevitável para quem usa o transporte coletivo;
– Bicicletários em todos os terminais de ônibus para oferecer segurança, integração e conforto aos ciclistas.
Neste contexto, o terminal central permanece onde está, ampliando sua capacidade de integração do transporte coletivo para o cicloviário. Esta capacidade de integração total é o grande diferencial de nosso sistema de transporte. E só é contra sua localização quem não usa ônibus diariamente.
Esta infraestrutura, a ser custeada pelo poder público, equipara a competitividade dos modais de transporte na busca da preferência da população. Provoca o protesto do automóvel, que perde prioridade no recebimento de caros privilégios. Aproveita a malha viária atendida pelo transporte coletivo (que é bastante capilarizada), tornando seu custo benefício mais atraente em comparação ao VLT, metrô de superfície, elevados e outras propostas isoladas do contexto total da mobilidade de Joinville.
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Com esta infraestrutura, ir e vir a pé, de bicicleta ou de ônibus deixa de ser um sacrifício reservado a quem não tem outra possibilidade de deslocamento. Pode ser um prazer, uma alegria e uma excelente forma de promover a saúde! Andar, pedalar e respirar ar de melhor qualidade diminui a incidência de arritmia cardíaca, crises de hipertensão, infarto do miocárdio, arteriosclerose, angina, AVC, depressão, câncer de pulmão, abortos espontâneos, envelhecimento precoce, acne e outras doenças. E as faixas para pedestre em cada ponto de ônibus vão diminuir os atropelamentos e suas graves consequências.
Mas esta proposta é demasiado óbvia e simples para atrair a atenção de políticos e urbanistas, pois não tem a pompa e o ar de inovação oferecidos por expressões como “veículo leve sobre trilhos” ou “metrô de superfície”, ou a imponência dos elevados, etc. É evidente que elas podem contribuir para a mobilidade urbana, mas, se não houver investimentos em calçadas e ciclovias/ciclofaixas de forma ampla, vamos repetir o mesmo erro praticado mundo afora.
*Odair Pavesi é psicólogo pela Univali, especialista em psicodrama e em psicologia hospitalar. Presta consultoria em gestão participativa. Autodidata em estudos de mobilidade e meio ambiente urbano, coordenou a Comissão Interna de Acessibilidade da PMJ de 2007 a 2009 e a equipe técnica que desenvolveu o cartaz “Como construir calçadas em Joinville” (2008).
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