Na manhã desta quinta-feira (22) o cheiro forte de queimado ainda imperava em um dos prédios interditados da Cidadela Cultural Antarctica, atingido por um pequeno incêndio na tarde de quarta-feira. O estabelecimento, localizado em uma área nobre de Joinville, é tombado como patrimônio histórico e quase teve sua estrutura ainda mais comprometida. Entulhos que estavam no interior do imóvel serviram de combustível para o fogo, entre eles, pedaços de madeira, garrafas, lixeiras, cones de trânsito e até partes de geladeira e de televisão.
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O incêndio começou por volta das 15 horas e foram utilizados cerca de 500 litros de água para o combate às chamas. De acordo com o Corpo de Bombeiros Voluntários, a suspeita é de que o fogo tenha iniciado por conta de algum cigarro ou fogo aceso dentro do prédio. O estrago só não foi maior porque ocorreu dentro de uma sala fechada e não chegou a se alastrar para o segundo andar. Uma ação rápida dos bombeiros também impediu problemas maiores. Essa possibilidade de ocupação irregular do espaço reacendeu questões como a falta de segurança no local.
A hipótese de que terceiros tenham tido responsabilidade sobre o incêndio é fortalecida por relatos de quem convive no dia a dia da Cidadela. Um dos motivos são as brechas de entrada existentes no espaço. Isso porque, parte dos tapumes que protegiam o acesso ao edifício vieram abaixo no fim do ano passado e ainda não foram reerguidos. Duas portas frontais desta ala também estão abertas. A entrada e saída de pessoas é constante, ao menos durante o dia, conforme quem trabalha em outra estrutura da antiga cervejaria.
O prédio onde houve o incêndio era onde ficava o depósito, câmara frigorífica, casa de bombas, central de energia, tanques de fermentação e os escritórios da fábrica, que encerrou as operações na década de 1990. Depois, o completo foi adquirido pela Prefeitura de Joinville, em 2000, e, até hoje enfrenta problemas de preservação e depende de recursos para ser revitalizado.
Na avaliação do representante do Conselho Municipal de Políticas Culturais e atual presidente da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote), Cássio Correia, ações emergenciais como a recolocação dos tapumes e a limpeza a área interditada são necessárias. A Ajote funciona em um dos galpões em frente ao prédio que pegou fogo e, segundo ele, a entidade cobra essa reposição da proteção desde janeiro. Ele cita ainda tristeza com o ocorrido.
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— A gente sente um descaso muito grande, por exemplo, o princípio do incêndio foi causado porque tinha alguém lá dentro, os bombeiros nos informaram, e a gente está desde o início do ano com os tapumes que protegem a parte interditada, caídos. Então, desde janeiro a gente já vem informando a Secretaria de Cultura e Turismo e a de Proteção (Seprot), para que levantem esses tapumes. Cobramos isso porque estamos na Cidadela durante o dia para fazer ensaios e limpeza e verificamos pessoas entrando ali sem nenhum tipo de proteção ou controle — relata.
Ainda segundo ele, a Ajote vai buscar de forma mais enérgica maior aproximação com o poder público e a iniciativa privada para encontrar um rumo definitivo para a limpeza, reforma e revitalização do ambiente.
Sem previsão de restauro
O Jornal A Notícia procurou a Prefeitura de Joinville e questionou sobre a manutenção da segurança do espaço interditado e a expectativa de revitalização do prédio. Em nota, a administração municipal declarou que “a base de monitoramento privado fica na Cidadela Antarctica e conta com atendentes circulando no local e com apoio da Guarda Municipal. A estrutura também é monitorada por sensores de alarme e 36 câmeras”.
A nota diz ainda que, sobre o caso do incêndio será feita uma varredura nas imagens para tentar identificar se houve algum ato criminoso. Declarou que não é permitido o acesso de pessoas no espaço interditado, onde ocorreu o incêndio, e está avaliando a possibilidade de ampliar a vigilância privada no local. Os tapumes serão reforçados.
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Com relação ao restauro, ele depende de recursos e não há previsão. A Prefeitura, no entanto, sinaliza que planeja realizar a limpeza no local. Em 2016 foi feita uma estimativa de quanto custaria a revitalização: R$ 30 milhões.
Destino da estrutura
Atualmente, metade do prédio está interditado e a outra abriga a Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública (Seprot), além da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote), Associação dos Artistas Plásticos de Joinville (Aaplaj) e espaços expositivos do Museu de Arte de Joinville (MAJ). No entanto, ainda está longe de ser o grande espaço reservado para cultura, lazer e turismo como foi prometido há quase duas décadas pelo então prefeito Luiz Henrique da Silveira e garantido por lei no Plano Municipal de Cultura, de 2012.
O grande empecilho para revitalizar e reformar o prédio é a Cidadela Cultural ser tombada como patrimônio histórico pelo município desde 2010, levando a um investimento ainda mais alto nas obras. Isso porque, mais do que uma reforma, seria necessário um projeto de restauro do complexo _ alguns prédios datados do início do século 20 _ com a substituição dos materiais avariados pelos mesmos modelos usados na construção do complexo. No entanto, o valor estimado de R$ 30 milhões é empecilho para os planos.
Dentre os projetos que chegaram a ser cogitados na área, estava a implantação do Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke. No entanto, o Instituto que leva o nome do artista joinvilense rescindiu com a Prefeitura a permissão de uso do espaço em 2016, colocando fim ao sonho de construção do museu.
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