O silêncio na Estrada Geral das Onças, zona rural a 30 quilômetros de Curitiba era total na manhã de desta quinta-feira. Escutava-se apenas o som da mata fechada na região de sítios, na cidade de Mandirituba.

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Os quatro cães pastor alemão e vira-lata nem perceberam quando oito policiais civis catarinenses armados de fuzis cercaram a chácara do homem responsável por guardar o armamento de guerra da maior quadrilha de assalto a ônibus de sacoleiros do Sul do país.

O bando sem nenhuma passagem pela polícia até então, é suspeito de agir simulando falsas blitze em pelo menos 15 roubos em rodovias de SC, PR, SP e RS.

Eram 7h quando os policiais decidiram bater na porta e se apresentar sem confronto para não colocar em risco a criança que chorava dentro da casa. A família preparava o café. O dono do sítio, Márcio José Gonçalves Oliveira, 32, não resistiu à ordem de prisão. Nenhum tiro foi disparado.

O agente Juliano Pedrini da Divisão de Investigações Criminais (DIC) de Joaçaba e equipe encontraram fardas completas da polícia militar rodoviária (PMRv) do Paraná com a etiqueta cortada para evitar rastreamento, uniformes da concessionária das rodovias federais do PR, coletes à prova de balas e munição.

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O armamento restrito das forças de segurança estava escondido na parte externa da casa, armazenado num tonel com tampa de madeira, dentro de um alçapão camuflado sob um piso de tijolos.

Foram apreendidos dois fuzis AR-15 cujo preço no mercado paralelo é de R$ 30 mil cada, uma submetralhadora MT12 calibre 9mm, quatro pistolas 9mm, um revólver 38, uniformes da PMRv, munição, rádios comunicadores e coturnos usados pela polícia com a sola ainda suja de terra. A polícia encontrou o Gol vermelho usado nos assaltos.

O homem franzino e assustado que ganhava entre R$ 500 a R$ 1,5 mil para guardar as armas usadas em assaltos que rendiam mais de R$ 200 mil cada contou à polícia que teve a intuição de que seria preso naquele dia.

Técnica de grandes assaltos aprendida em família

Depois de dois dias praticamente sem dormir, os 16 policiais divididos em três equipes aguardaram o momento certo para agir simultaneamente no sítio da Estrada das Onças e na residência do casal Levi Pereira, 30, e Maila Ribeiro Morais, 28, em Curitiba. Ele levantava os ônibus a serem assaltados e ela lavava o dinheiro vendendo joias e celulares das vítimas na loja de telefonia do casal.

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Na sequência, a polícia foi até a casa do líder da quadrilha, Sidnei Ferreira de Amorim, 31. A mulher dele, Roseli Moraes, 29, tia de Maila, contou durante coletiva de imprensa na sede da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Florianópolis, que eles não tem envolvimento com os assaltos.

Conforme a polícia, com base em seis meses de investigações, o bando atua desde 2011 e é extremamente especializado, organizado e violento. Chegaram a disparar com fuzil contra os ônibus de sacoleiros, obrigavam as vítimas a tirar a roupa e as trancavam no bagageiro. São suspeitos também de roubar caminhões e máquinas agrícolas.

A polícia conta que o casal aprendeu a técnica dos grandes assaltos em família. Roseli é irmã de Nestor Morais, quadrilheiro famoso que foi preso em Caçador por assalto a ônibus em SC e SP. O irmão dele também está preso por assalto a ônibus e homicídios, incluindo o de um policial do PR.

Sidnei demonstrou controle emocional total na Deic, unidade que integrou as investigações e a operação. Participaram também o policial Maneco, agentes da Diretoria de Polícia do Litoral, da Delegacia de Furtos e Roubos da Capital, da DIC de Caçador e da Polícia Civil do Paraná.

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– Eles usavam armamento pesado para atacar pessoas que não tem segurança. Sem antecedentes, partiram direto para crimes violentos. Tem informação privilegiada e, provavelmente, existe mais gente envolvida. Continuamos investigando – disse o delegado da Furtos e Roubos da Deic, Anselmo Cruz.

Os cinco foram presos preventivamente e seriam transferidos nesta tarde para o Presídio de Joaçaba. Serão indiciados por formação de quadrilha, roubo, posse de arma de calibre restrito e posse ilegal de arma.

O esquema

* Cinco a seis quadrilheiros saíam de suas casas no Paraná em três carros com direção ao local do assalto: as rodovias federais de SC, PR, SP e RS

* Carregavam armas de grosso calibre e vestiam uniforme completo de policial militar rodoviário do PR com arma, coldre e colete a prova de balas. Usavam também uniformes da concessionária responsável pela manutenção das rodovias.

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* O bando se dividia. Parte montava falsa blitz e parte ficava em outro ponto para avisar quando o ônibus se aproximava. Se comunicavam por rádios.

* O ônibus era atacado e levado para estradas vicinais. Roseli pegava as armas e os uniformes e seguia no terceiro carro com criança para despistar a polícia em eventuais barreiras.

* A quadrilha se encontrava no sítio da Estrada das Onças para dividir o dinheiro e esconder o armamento.