A Assembleia Nacional Constituinte (ANC) deu início nesta quinta-feira a um debate sobre a crise política na Tunísia, agravada pelo assassinato de um opositor, com discussões acirradas sobre um governo apolítico proposto pelo primeiro-ministro islâmico contra a vontade do seu partido Ennahda.

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A sessão plenária extraordinária da ANC para analisar a situação, que se deteriorou após o assassinato do opositor de esquerda Shokri Belaid, em 6 de fevereiro, viu o Ennahda rejeitar a ideia do chefe de Governo, Hamadi Jebali.

– O assassinato de Shokri Belaid foi um golpe para o Ennahda, o governo e o país – declarou Sahbi Attig, chefe do bloco parlamentar do partido islâmico – Tivemos duas catástrofes naquele dia, o assassinato e a decisão do Sr. Jebali de formar um governo apolítico – considerou.

Iyad Dahmani, do Partido Republicano (oposição laica), respondeu afirmando que a decisão de Jebali foi “uma clara admissão de fracasso” de seu governo e considerou que “a bala que matou Shokri Belaid era feita de palavras odiosas dos islâmicos que incitaram seu assassinato nas mesquitas”.

Jebali, por sua vez, recebeu líderes de diferentes partidos políticos, a começar pelos do Partido Republicano.

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– Foi uma reunião importante e positiva. Enfatizamos a gravidade da situação atual e a necessidade de encontrar uma solução para esta crise o mais rápido possível. A solução só pode vir de um consenso de todos os partidos – disse à AFP Maya Jribi, secretária-geral do partido.

Ela também reiterou seu apoio à iniciativa de Jebali.

Na véspera deste debate da ANC, o Ennahda e três movimento, alguns laicos, insistiram em um gabinete composto por políticos, claramente contra a ideia de um governo formado por tecnocratas.

Esta posição foi aprovada em uma reunião dos líderes do Ennahda, do Congresso para a República (CPR, laico) do presidente Moncef Marzuki, do movimento Wafa (laico) e do bloco Liberdade e Dignidade (islâmicos independentes), que detém, teoricamente, a maioria absoluta na ANC.

Eles totalizam 125 cadeiras de um total de 217, enquanto Jebali pode ser censurado em seu projeto com 109 votos negativos. Mas o primeiro-ministro pode contar, de acordo com a imprensa local, com membros do Ennahda que apoiam a sua iniciativa.

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Attig afirmou na Rádio Mosaique FM que Jebali podia contar com três eleitos do Ennahda.

Liberdade e Dignidade perdeu nesta quinta-feira a metade de seus membros com a demissão de cinco deles, visivelmente descontentes com o alinhamento com o Ennahda.

O primeiro-ministro é apoiado pelo Ettakatol, o partido do presidente da ANC Mustapha Ben Jaafar, membro da coalizão governista, por opositores laicos, a União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), um poderoso sindicato, e pelo patronato.

O presidente Moncef Marzuki tem estado em silêncio sobre a proposta de Jebali, mas foi o primeiro a citar a proposta após a violência na cidade de Siliana, no final de novembro.

Contudo, ele considerou que o país “absorveu o choque” do assassinato de Shokri Belaid, em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro, dizendo que a Tunísia atravesssa “esta provação sem muitos danos”.

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Além desta crise, a elaboração da Constituição foi interrompida devido à falta de acordo sobre a natureza do futuro regime. Jebali ressaltou que sua proposta também se destina a acelerar o trabalho de organizar eleições o mais rápido possível.

Os conflitos sociais, muitas vezes violentos, se multiplicam em um contexto de miséria e desemprego, questões que provocaram a revolução contra o presidente Zine El Abidine Ben Ali. Sem esquecer do movimento salafista jihadista que desestabiliza regularmente o país com seus ataques.