A ansiedade, acrescida pelo frio na barriga, foi um sentimento comum de quem adentrava nesta segunda pela primeira vez na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil para definitivamente fazer parte do quadro de alunos da instituição. Muitos já se consideravam vencedores de ser, entre tantos candidatos, representantes de vários Estados brasileiros.

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Neste ano, pelo menos 60 novos alunos dos mais de cem que iniciam nesta semana a jornada em dança ostentam o fato de terem modificado a vida e, muitas vezes, a rotina da família para passarem pela excelência conquistada pelo Bolshoi.

Pela ênfase no sotaque paraibano, Luana Serrão, 18 anos, não esconde o nervosismo de marinheira de primeira viagem. Não é somente porque desafiará a própria habilidade para mudar do balé clássico para a dança contemporânea, gênero pelo qual foi selecionada, mas porque a casa que dividirá com outros quatro alunos, a cidade que abriga a escola e as diferentes culturas de um lugar a 3,3 mil quilômetros de distância da sua terra natal – João Pessoa – são conhecidas há apenas dois dias.

Luana chegou a Joinville no domingo, e na segunda-feira já se viu imersa em um mundo totalmente novo.

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– Não conhecia nada do Sul do Brasil. Na verdade, só tinha viajado para Estados próximos à Paraíba -, conta.

Na adolescência, a paraibana quer se dedicar primeiramente à adaptação, depois pensa em um curso superior, mas tudo em seu tempo. Apesar de filha única, ela terá de se contentar em visitar os pais durante as férias, ao contrário de Pedro Luz, de 12 anos, que motivou a mudança dos pais e irmão para Joinville.

Pedro é o primeiro representante de Maceió a passar pela rígida seleção da Escola do Bolshoi. Para mudar-se para Joinville, o pai pediu transferência do Banco do Brasil e, junto com o irmão mais velho de Pedro, veio acompanhá-lo. A mãe, assistente social, ainda está em Maceió, aguardando uma oportunidade de emprego aqui.

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– Vai ser mais fácil com a companhia deles. Eles gostaram da mudança também porque aqui tem mais segurança do que em Maceió -, argumenta o jovem bailarino.

Outro que trouxe novos moradores para Joinville foi Gustavo Henrique Soares, 11 anos. O estudante de Boituva, interior de São Paulo, e mais dois conterrâneos que também foram selecionados pela escola motivaram a vinda definitiva do professor de balé e padrinho de Gustavo, Jessé da Cruz.

Além de cuidar dos antigos pupilos, o professor passou em um concurso para trabalhar no Sesc.

– Somos de um grupo unido. Viemos fazer a seleção em julho, ficamos dormindo no carro até que foi oferecido para ficarmos alojados em uma escola -, relata o alagoano.

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O primeiro dia de aula foi dedicado às boas-vindas aos novos alunos. De terça até sexta-feira, os novatos passarão por oficinas e palestras. As primeiras atividades serão um bate-papo com a assistente social da escola, uma aula sobre como costurar as sapatilhas, e conversas sobre a importância do alongamento, por exemplo.