Não poderia haver retrato mais fiel de uma geração que se recusa a amadurecer e, sempre que pode, volta ao seu mundinho adolescente do que o Green Day. E o recém-lançado ¡Uno! não deixa dúvidas.

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Primeiro de uma trilogia de discos que prevê ainda ¡Dos! (novembro) e ¡Tré! (2013), o álbum é a prova de que o grupo californiano bem que tentou se comportar como adulto, mas se deu conta que gosta mesmo é de ter a contas pagas pela mãe.

Quem tem idade suficiente para ter acompanhado o surgimento da banda e seus primeiros passos, no início dos anos 1990, sabe que o grande mérito do Green Day foi acertar a mão numa mistura de punk rock e hardcore recheada de irreverência e vigor. O sucesso da fórmula rendeu execução maciça no rádio e um Grammy de melhor performance de música alternativa pelo seu terceiro (e melhor) disco, Dookie (1994).

E assim foi até os anos 2000, quando Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tre Cool decidiram que tinham mais a dizer além de histórias envolvendo maconha, festas, garotas e masturbação. Assim, meteram-se a debater conflitos geracionais e a questionar a política externa norte-americana nas autoproclamadas óperas-rock American Idiot (2004) e 21st Century Breakdown (2009) – agraciadas cada uma com um Grammy de melhor álbum de rock. Afinal, um prêmio adulto.

E, adulto, o Green Day continuou: entrou no mundo dos negócios transformando American Idiot em um musical da Broadway, estrelou seu próprio título do game Rock Band, virou personagem do jogo Angry Birds e lançou uma linha de óculos de sol. Só que, como qualquer adolescente, o grupo não quer aceitar que cresceu.

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Daí que, em 2012, Armstrong, Dirnt, Cool e o recém-incorporado Jason White (guitarrista que há 13 anos toca com a banda em turnês) voltam aos velhos temas. Em ¡Uno!, há garotas problemáticas (Troublemaker), garotas do passado (Sweet 16), garotas casuais (Stay the Night) e o assunto principal: corações quebrados, como em Fell for You, Angel Blue, Loss of Control e Oh Love.

A pobreza das composições se estende à música. Se em American… e 21st… havia alguma preocupação em criar algo diferente, em ¡Uno! o que manda é o punk pop noventista que consagrou a banda. A exceção talvez esteja em Kill the DJ, que emula Franz Ferdinand e daria muito certo em algum inferninho indie.

Claro que, uma vez abstraídas suas limitações, ¡Uno! é muito divertido. Mas também um claro indicativo de que, para a geração que representa, não dá para se esperar muito mais do Green Day. Não por enquanto.

¡UNO!

Green Day

Warner, rock,

12 músicas,

R$ 23 em média.

Cotação: 2 de 5