Os argentinos vão às urnas neste domingo (12), e o resultado, ainda que seja apenas o das primárias para o pleito legislativo de 14 de novembro, deve dar a medida do fôlego que o governo peronista de Alberto Fernández possui. Chegando à metade de seu mandato, o presidente tem sofrido desgastes entre a população e dentro de sua coalizão.
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O processo das primárias é, por natureza, de difícil prognóstico, devido a fatores como a grande quantidade de candidatos espalhados pelo país. Por ora, os levantamentos mais recentes indicam uma diferença justa, mas a favor do peronismo -31% das intenções de voto, contra 29% para o macrismo, segundo o instituto Rouvier y Asociados.
Na prática, essa fase do pleito, que tem comparecimento obrigatório dos eleitores, serve para eliminar da disputa quem tem menos de 1,5% dos votos. Mas ela é crucial para as alianças partidárias definirem a configuração de suas listas na eleição de novembro – na qual estarão em jogo 127 vagas de deputados (de um total de 257) e 24 de senadores (de 72).
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O conceito de lista é uma tradição argentina. O voto, em papel, se dá por meio de boletos distribuídos pelos próprios partidos, com uma lista de nomes. As listas bem votadas elegem um número maior de candidatos, e o que encabeça a relação “carrega” os demais consigo; nas menos votadas, em geral só o primeiro ou segundo da lista são eleitos.
Nas primárias, então, a configuração ajuda a definir quais grupos políticos poderão ter mais representatividade na nova configuração do Congresso. As atenções estão especialmente voltadas para os departamentos com mais eleitores, como a província de Buenos Aires (que concentra 38% do eleitorado do país), a cidade de Buenos Aires (que tem status de província), além de Córdoba, Mendoza e Santa Fé.
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A coalizão governista, a Frente de Todos, é um conglomerado de partidos e correntes do peronismo que estavam divididos e se uniram em 2019 depois de um esforço capitaneado pela atual vice-presidente Cristina Kirchner. Atualmente, a união está novamente em risco.
— Por isso vemos Fernández, que não é candidato, discursando em tantos comícios. Ele precisa dessa coalizão unida para ter governabilidade, porque sozinho não é uma figura que aglutina muita gente; sua força está na união dos peronistas — diz o cientista político Sergio Berensztein.
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Segundo ele, o político está tentando reconstruir sua liderança e sua imagem como presidente, afetada por escândalos recentes. Um deles é o que ficou conhecido como Olivos-gate, no qual a foto de uma festa realizada por Fernández e a mulher na residência oficial durante a fase mais rígida da quarentena no país o levou primeiro a mentir e depois a ter de pedir desculpas publicamente.
Outro é o vacina-gate, do começo do ano, quando doses das primeiras remessas do imunizante russo Sputnik V contra a Covid foram distribuídas a políticos, amigos, seus familiares e assessores. Somados ao desempenho ruim da economia (a inflação está em 50% ao ano) e à gestão da pandemia (com 113 mil mortes e menos de 40% da população totalmente imunizada), os episódios derrubaram a aprovação do presidente. Atualmente, ele tem 32% de aprovação, e 67% dos argentinos consideram imoral seu comportamento no caso do Olivos-gate.
— Para Fernández, é importante que os candidatos peronistas vençam também para que ele se imponha em sua aliança, onde há uma divisão muito marcada. A ala mais à esquerda do peronismo, liderada por Cristina, está cada vez mais descontente com ele — diz Berensztein.
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A oposição, representada principalmente pela coalizão Juntos, pretende recuperar espaço no Congresso, com vistas a retomar a Casa Rosada em 2023. Liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri, a aliança tem como principais partidos o Proposta Republicana e a União Cívica Radical, além de outras forças de centro e centro-direita.
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— A Argentina tem duas famílias políticas muito claras. Mais de 80% do eleitorado vota ou no peronismo ou na oposição mais conservadora a ele. É um país muito previsível nesse sentido — diz Ignacio Zuleta, analista e consultor político.
Para ele, os libertários, grupo de ultradireita popular entre o eleitorado jovem, é um fenômeno limitado a Buenos Aires.
— Os libertários são indignados, antissistema. E na Argentina os antissistema não costumam ter chances. Por isso a esquerda tradicional, o socialismo, permanece algo de nicho. Os libertários, à direita, também têm limites para sua expansão.
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Na briga pela cabeça das listas estão nomes conhecidos da política local. Do lado do peronismo, disputam Victoria Tolosa Paz, ex-secretária-executiva de Políticas Sociais, Daniel Gollán, ex-ministro da Saúde da província de Buenos Aires, Florencio Randazzo, ex-ministro de Transportes, e o cientista político Leandro Santoro.
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Do lado da oposição, o ex-vice-chefe de governo da cidade de Buenos Aires Diego Santilli, o neurologista Facundo Manes e a ex-governadora da província de Buenos Aires Maria Eugenia Vidal. Os libertários apostam nos economistas Javier Milei e José Luis Espert.
A eleição legislativa de novembro impacta também no início da corrida para a sucessão de Fernández. Do lado do peronismo, os nomes que despontam são os de Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires, e Máximo Kirchner, deputado e filho de Cristina. Na oposição, destaque para Horacio Rodríguez Larreta, hoje chefe de governo da cidade de Buenos Aires.
Macri, que vinha tendo participação discreta na campanha das primárias, saiu a dar entrevistas e a subir no palco de comícios da coalizão Juntos. Depois de uma espécie de trégua ao peronismo, hoje repete ataques a Fernández por ter realizado uma “quarentena eterna e ineficaz”, “mentido aos argentinos” e adotado “política de segurança amiga do narcotráfico”.
*Por Sylvia Colombo.
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