A trégua na briga comercial entre China e Estados Unidos, com a volta da compra de soja americana pelos asiáticos, mostra que o ano podem apresentar dificuldades para o setor de grãos no Brasil. O governo americano anunciou a venda de 10 milhões de toneladas para os chineses.
Continua depois da publicidade
A tendência é de que isso interfira nos preços no Brasil, segundo o analista do Centro de Socieconomia e Planejamento Agrícola da Epagri, Haroldo Tavares Elias.
– Com a retomada das compras chinesas pelos estados unidios o Brasil não deve repetir a performance de vendas do ano passado, que foram cerca de 60 milhões de toneladas. Com isso pode retrair o preço no mercado interno – afirmou o engenheiro agrônomo.
Ele informou que os preços pagos ao produtor pela saca de 60 quilos, de R$ 70,00, já representam uma queda de 1,6% em relação a dezembro e 13,8% em relação a setembro, quando o preço passou dos R$ 80,00 a saca.
Com a briga China x EUA mais de 80% da soja brasileira foi para China. Em novembro, por exemplo, das cerca de cinco milhões de toneladas exportadas pelo Brasil, 97% foram para a China. Santa Catarina aumentou em 43% as exportações de sojas e derivados no ano passado, com faturamento de US$ 1 bilhão.
Continua depois da publicidade
Além da concorrência do produto norte-americano a redução de plantéis de suínos na China, por problemas de peste suína, também deve reduzir o consumo.
O presidente da Cooperativa Agroindustrial Alfa, Romeo Bet, avaliou que o cenário continua indefinido, mas que a tendência é de preço menor do que no ano passado.
– Há um excedente de soja no cenário mundial e por isso não tem muito espaço para umentar. Ainda existe uma indefinição na questão entre China e Estados Unicos. Mas a tendência é de redução caso se confirme uma superoferta no mercado – explicou Bet.
O vice-presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina, Enori Barbieri, prevê um cenário de dificuldades para o grão, mas que pode beneficiar as agroindústrias, com redução de custo de produção.
Continua depois da publicidade
– Teremos um ano ruim de comercialização. No ano passado tivemos preços de R$ 82,00 a R$ 84,00 por saca, agora já está R$ 70,00. O produtor já tem essa consciência. Em compensação isso deve deixar mais barato o farelo de soja para o setor de aves e suínos – explicou Barbieri.
De acordo com Dirceu Talamini, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves de Concórdia, no ano passado foi um ano de alto custo de produção, pois a base da alimentação das criações é de soja e milho. No ano passado os custos subiram mais de 10% em relação a 2017, mas já tiveram queda neste início de 2019.
– Essa situação dos Estados Unidos com a China tem reflexo no Brasil. E caso se confirme a boa safra de milho, de cerca de 90 milhões de toneladas, mantendo as atuais taxas de câmbio, deve ocorrer uma redução de preço – disse Talamini.
Depois de muitos anos de boas safras e preços bons, os agricultores terão suas margens de lucro reduzidas.
Continua depois da publicidade
Romeo Bet tem uma preocupação para a próxima safra, caso não sejam revistos dos decretos do Governo do Estado que aumentam o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).