A economia brasileira oscila entre altos e baixos, assemelhando-se a um avião de papel sem potência para decolar. Divulgado nesta quinta-feira, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), apontou queda de 1,4% em maio na comparação com abril. É o maior tombo desde dezembro de 2008, auge da crise global, quando despencou -4,31%.
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Calculado mensalmente, o IBC-Br é um sinal de como pode ser o PIB a partir dos resultados de indústria, agropecuária e comércio com serviços. Analistas previam redução em maio, mas foram surpreendidos pelo percentual de 1,4% – bem acima do esperado. No mercado, o resultado foi recebido com leve alta no dólar e forte queda na bolsa. Economista da MCM Consultores Associados, Leandro Padulla diagnostica o que provocou o revés.
– Foi influenciado pela queda industrial de 2%, principalmente, e também pelo recuo nas vendas do comércio – diz Padulla.
Professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marcelo Portugal lembra que o comportamento da indústria é instável desde fevereiro, alternando meses satisfatórios e negativos. Quando algum setor consegue ir bem, desencalhando a produção, outro desacelera.
Portugal esclarece que o crescimento da agropecuária, com safras recordes, não foi suficiente para compensar o efeito da produção industrial negativa. O setor de serviços se manteve, mas o comércio teve zero de performance, em maio.
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A expectativa, agora, é sobre o IBC-Br de junho. Há 17 anos no mercado, a LCA Consultores espera que a prévia do Banco Central (BC) avance 1,3% sobre maio. A equipe de economistas detectou que a produção industrial e as vendas no comércio varejista reagiram no mês passado.
Resultado de junho é incógnita para analistas
Portugal, no entanto, é menos otimista quanto a uma possível retomada de voo. Pondera que os protestos populares de junho, com faltas ao trabalho e bloqueios de estradas, podem se refletir na produção industrial, na entrega de mercadorias e no movimento do comércio, aprofundando o mergulho.
– Tivemos o que se chama de meio dia útil. Junho deve ser um mês ruim – prevê.
O governo federal está preocupado com a influência das manifestações do mês passado. A queda no nível de atividade econômica em maio também não surpreendeu, mesmo que o recuo de 1,4% tenha superado as estimativas. Já era esperado um número insatisfatório.
O PIB que o BC vem projetando mensalmente pelo IBC-Br é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No final de agosto, o IBGE deve apresentar o resultado do segundo trimestre. Até o início de 2012, BC e IBGE coincidiam nas suas análises. Nos últimos meses, o BC vinha exagerando no otimismo.
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Apesar das reviravoltas, especialistas aguardam que o PIB deste ano feche com expansão de 2% a 2,5%. Não será um sucesso, mas ficará acima do 0,9% de 2012.
Medo do palavrão
Inflação alta – volta e meia estourando o limite da meta de 6,5% – e crescimento econômico baixo por um período prolongado é um quadro negativo para qualquer país. O Brasil vive essa situação e teme os efeitos de um palavrão: estagflação, a combinação de inflação elevada com estagnação econômica. É quando os preços sobem sem haver aumento de renda ou maior oferta de empregos, por falta de investimento. Até agora, a taxa de emprego tem se mantido alta no Brasil, mas analistas começam a se interrogar se, diante de um período de declínio – risco acentuado pelo indicador do Banco Central -, a situação seria mantida.
Efeitos encadeados
Inflação
O ano começou com pressão da inflação, especialmente nos alimentos. Isso afeta o orçamento das famílias e reduz espaço para outros gastos. Em junho, o IPCA chegou a 6,7% em 12 meses e estourou o teto da meta oficial pela segunda vez no ano.
Juro
O Banco Central elevou a taxa básica de juro para 8,5% na quarta-feira passada. A medida visa segurar a alta da inflação, mas reduz o consumo e os investimentos das empresas. Os estoques, por exemplo, estão subindo há quatro meses, aponta a Confederação Nacional da Indústria.
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Emprego
Os dados do primeiro semestre sobre abertura de vagas devem ficar 30% abaixo dos primeiros seis meses de 2012. Na indústria, já há sinais de redução de postos de trabalho.
Câmbio
O dólar acumula alta de quase 11% neste ano, resultado da valorização da moeda americana no Exterior, que teve mais força no Brasil do que em outros países. O câmbio em alta pressiona a inflação pelo repasse aos preços de produtos com componentes importados.
Indústria
Em maio, o IBGE mostrou que o nível de emprego nas fábricas caiu. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria já fala em “desânimo empresarial” após a queda de 2% da produção em maio.
Varejo
Dólar, juro e inflação em alta afetam diretamente as vendas do comércio, que ficaram estáveis em maio, segundo o IBGE, e caíram em junho, de acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.
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