Santa Catarina é o quarto estado brasileiro com mais casos confirmados de sarampo neste ano. O vírus está em transmissão ativa no país, e já são 47 pessoas em tratamento em solo catarinense. Quem encabeça a lista é São Paulo, seguido por Rio de Janeiro e Paraná, que estão em alerta. Para interromper o surto, a principal medida é a vacinação, que para Santa Catarina teve a faixa etária ampliada de seis meses até 49 anos.
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No restante do país, o público-alvo da campanha, que vai até dia 13 de março, é de pessoas de cinco a 19 anos. Os casos em Santa Catarina estão espalhados em 12 municípios, porém a concentração de pessoas infectadas no Norte de Florianópolis chama a atenção. Nessa região, foram 12 casos em uma semana, e por isso a campanha vai vacinar o grupo que vai de seis meses a 59 anos, para evitar que o alto índice de contágio continue na região.
Especialistas da área de saúde atribuem o retorno da doença a alguns fatores, todos relacionados à falta de imunização. O Brasil chegou a ser considerado território livre de sarampo pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), e sem ouvir falar de novos casos, a população “baixou a guarda”. Quando o vírus voltou a circular, ele atingiu principalmente as pessoas não imunizadas, explica a enfermeira chefe da divisão de imunização, Arieli Fialho.
– Muitos não acreditam mais na vacina, não acham que é importante, têm a falsa segurança de que está protegido, pois não se fala mais da doença. Depois de adulto, nunca mais atualizou ou participou das campanhas, e as doenças estão retornando por falta da vacinação – alerta.
Arieli explica que o sarampo é uma doença de alta transmissibilidade, onde um indivíduo pode transmitir para até 21 pessoas, e por isso a dificuldade de controlar o surto. O que tem aparecido é uma concentração de casos entre jovens e adultos na faixa de 19 a 39 anos, o que reforça ainda mais a orientação de que estar com as vacinas em dia não é importante somente para as crianças.
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– Quem não tem a comprovação em carteira é considerado não vacinado. Não tem problema vacinar de novo, na dúvida faz a vacina – reforça Arieli.
SAIBA MAIS – O que é sarampo?
Sarampo é uma doença respiratória que pode causar complicações como pneumonia, e, em casos mais graves, até mesmo a morte.
Como a doença é transmitida?
A transmissão ocorre de pessoa para pessoa por secreções expelidas na tosse, no espirro ou na fala. O vírus pode permanecer no ambiente por até duas horas. Uma pessoa com sarampo pode transmitir a doença para uma média de 12 a 18 pessoas que nunca tenham sido expostas ao vírus anteriormente ou que não tenham se vacinado. A única maneira de evitar o sarampo é com a vacinação.
Quais são os sintomas do sarampo?
Os principais sintomas do sarampo são: febre, tosse, coriza, aparecimento de manchas vermelhas no corpo e olhos avermelhados. Apresentando sinais e sintomas do sarampo, o serviço de saúde deve ser procurado imediatamente para que seja feito o diagnóstico e tratamento da doença.
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"Vacinar é um ato de amor e proteção", diz mãe que imunizou a filha contra o sarampo
No último dia 15, o Dia D de vacinação levou milhares de catarinenses aos postos e unidades básicas de saúde. Foram 53,4 mil vacinados, número considerado positivo para um início de campanha na avaliação de Arieli Fialho, enfermeira chefe da divisão de imunização da Dive-SC. Entre elas, Andriele da Silva, 25 anos, e a filha dela Juliana Dalzoto, de um ano. Moradoras do bairro Trindade, em Florianópolis, elas foram até o centro de saúde para a vacinação.
– Vacinação sempre esteve em primeiro lugar. Tenho três meninas e sempre estiveram com a caderneta em dia. Quem não se vacina não coloca somente sua saúde em risco, mais sim de seus familiares e outras pessoas com quem temos contato. Vacinar é um ato de amor e proteção – comenta Andriele, que atua como cuidadora de idosos.
A campanha é seletiva e vai vacinar somente quem não tem a comprovação, dentro da faixa etária. Algumas salas de vacinas têm trabalhado com horário estendido, para atender pessoas que não conseguem ir ao local em horário comercial, por exemplo. O trabalho de conscientização continua, e tem encontrado outro obstáculo pela frente: a desinformação.
– A questão das fake news é um retrabalho para nós. A notícia falsa se espalha muito mais rápido do que uma verdadeira, há estudos que dizem isso. O movimento anti-vacinas também contribui para que as pessoas deixem de lado a imunização, e é por isso que o sarampo retornou – analisa a representante do governo estadual.
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Comprovada a doença, a pessoa tem que ficar isolada, em casa, enquanto estiver no período de transmissão. Arieli explica que a Vigilância Epidemiológica faz um bloqueio, e quem teve contato com o suspeito será avaliado e, se necessário, vacinado, sem restrição de faixa etária. Também é investigado onde a pessoa esteve pelo menos seis dias antes do aparecimento dos sintomas, e até quatro dias depois, para tentar imunizar o máximo possível de pessoas.
Febre amarela também acende sinal de alerta
Com casos concentrados principalmente de dezembro a maio, a febre amarela é uma das doenças sazonais que têm chamado a atenção das autoridades de saúde. Com o aumento do volume de chuva no período de calor, também cresce a circulação de mosquitos. No ano passado, duas pessoas morreram vítimas da doença em Santa Catarina, o que confirma que o vírus circula por aqui. A vacinação aparece como a medida mais efetiva para evitar a doença.
A morte de macacos com suspeita de infecção por febre amarela também tem chamado a atenção. Entre 29 de dezembro de 2019 e 17 de fevereiro deste ano foram encontrados 326 animais mortos. Desses, oito já tiveram a confirmação, 114 estão em investigação, em 202, a causa da morte é indeterminada e em outros dois casos a febre amarela foi descartada, segundo dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive-SC).
O macaco não é transmissor da doença, mas é o vertebrado mais sensível ao vírus e que ajuda a vigilância epidemiológica a mapear por onde a doença tem circulado, explica Renata Gatti, bióloga da Secretaria de Estado da Saúde:
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– A gente vai perseguindo o vírus. Ele caminha através dos mosquitos cerca de três quilômetros ao dia no verão, então a gente busca saber aonde ele vai. Os municípios que não falam de macaco acabam prejudicando, já que essas rotas ficam incertas.
A notificação das mortes de macacos é importante para acompanhar o avanço da doença. Qualquer pessoa que encontrar um animal morto pode acionar a Vigilância Epidemiológica da cidade ou procurar uma unidade de saúde, que fará a notificação ao Estado. Quanto mais rápido, mais fácil de determinar a causa da morte.
Renata reforça que o vírus entrou no Estado em 2019, e que a amplificação dele já era esperada para este ano. Em locais onde o macaco nunca entrou em contato com o vírus, é normal que haja morte elevada, pois ele é a sentinela. A doença é de macacos, não de humanos, que podem ser infectados caso não tenham vacina e entrem em contato com o vírus em alguma área de mata, por exemplo.
Na última quarta-feira, dia 19, a Dive-SC confirmou que um homem de 45 anos, morador de Pomerode, internado na UTI do Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, está com febre amarela. O estado de saúde do paciente é estável. Este é o quarto caso confirmado da doença em humanos em SC neste ano. Os outros três foram constatados em Blumenau, Jaraguá do Sul e São Bento do Sul. A situação do Vale do Itajaí preocupa secretarias de Saúde da região, que intensificaram a campanha de vacinação.
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Em 2019 ocorreram duas mortes por febre amarela, ambas consideradas silvestre, transmitida fora do ambiente urbano e por mosquitos do gênero Haemagogus. A febre amarela é uma doença grave, e todas as pessoas com mais de nove meses de idade devem receber a dose da vacina.
Em SC, até o momento são 69 casos confirmados de dengue no ano. Quatorze deles são autóctones, quando a pessoa contrai na cidade onde vive, e foram registrados em: Maravilha (1),Balneário Camboriú (3), Itajaí (3), Jaraguá do Sul (2), Joinville (4) e (1) indeterminado.
Sintomas da febre amarela
A febre amarela é uma doença de evolução rápida. A contaminação resulta nos seguintes sintomas:
– febre de até sete dias de duração
– dor de cabeça intensa
– dor abdominal
– manifestações hemorrágicas
– icterícia
Controle do mosquito é principal medida contra a dengue
Santa Catarina vive um cenário de risco quanto à dengue, segundo o gerente de zoonoses da Secretaria de Estado de Saúde, João Fuck. O controle do mosquito continua sendo a principal medida para evitar a doença, e é um trabalho feito por todos. Fora as atribuições do poder público, dentro de casas, comércios e terrenos a responsabilidade é dos proprietários, para a manutenção da própria saúde e da comunidade.
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Até a última quinta-feira, 20, haviam sido registrados 7,6 mil focos de Aedes egypti em 150 municípios, sendo 100 deles considerados infestados. Isso significa que uma ou algumas áreas dentro daquela cidade estão infestadas, não necessariamente todo o território. Nesses casos, os imóveis recebem visitas da Vigilância Epidemiológica a cada dois meses, as pessoas são orientadas e é necessário eliminar locais propícios para a reprodução do mosquito.
Em relação ao ano passado, os focos continuam aumentando. Nas seis primeiras semanas do ano, o número é 46,7% maior do que o registrado em 2019, segundo Fuck. As condições climáticas favorecem, e por isso o cuidado precisa ser redobrado. Com muito mosquito circulando, a chance de transmissão é maior. Ele pica uma pessoa doente e depois do período de incubação, passa a transmitir para quem picar dali em diante.
– Não se fala mais em erradicar o mosquito, nos últimos 30 anos com as cidades cada vez mais organizadas o mosquito tem se adaptado às nossas características. Sem conseguir erradicar, a gente precisa fazer o controle, reduzir a população de mosquitos para que haja risco menor de transmissão – explica Fuck.