Presos da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, posicionaram um telefone celular no alto de uma cela e gravaram a ação de agentes no local durante um suposto motim, ocorrido na quarta-feira da semana passada.

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Na filmagem, cinco agentes aparecem entrando com pelo menos duas escopetas no local, tendo a frente o diretor da Penitenciária, Carlos Alves. Há um disparo de bala de borracha no começo. Os presos não aparecem durante a intervenção dos agentes, apenas os gritos são ouvidos, enquanto acontece uma movimentação contínua dos agentes na cela.

A ação dura três minutos. Ao final, os presos dão a entender que fazem uma comemoração, gritam “já era, já era”, e em nenhum momento aparecem gritando de dor ou mostram ferimentos, por exemplo.

A promotora da Moralidade Administrativa de São José, Márcia Arend, recebeu de um advogado cópia do vídeo, nesta segunda-feira à tarde, e abriu procedimento administrativo para apurar a ação dos agentes.

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Para a promotora, a princípio, houve violação aos atos de legalidade pelos servidores, mas que ainda não conseguiu identificar todos os presentes na revista feita com os detentos. A promotora revelou que pedirá apoio técnico do centro de tecnologia do MPSC e do Instituto Geral de Perícias (IGP) para melhorar a imagem e obter a degravação do áudio.

– Há imagens tremidas, e também quero ter a degravação do áudio – declarou a promotora.

Ela disse que a data não aparece na filmagem, mas que recebeu informações de que a ação teria ocorrido no dia 7 deste mês. O juiz da Corregedoria Geral da Justiça, Alexandre Takaschima, que estava em viagem nesta segunda-feira à tarde, informou que foi informado do vídeo, assim como o juiz da Vara de Execuções Penais em São José, Humberto Goulart da Silveira.

O juiz Takaschima disse que a gravação foi feita pelos próprios detentos durante uma operação pente-fino na Penitenciária. Takaschima ressaltou que o juiz Humberto Silveira fará uma nova inspeção na Penitenciária às 13h desta terça-feira.

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O diretor do Departamento de Administração Prisional (Deap) e o diretor da Penitenciária, Carlos Alves, exibiram o vídeo do celular ao DC na noite de segunda-feira, na Secretaria da Justiça e Cidadania, na Capital. Para eles, não houve violência e sim o uso necessário da força para conter o motim.

Os dois exibiram à reportagem um outro vídeo, desta vez da câmera do circuito interno da cadeia, em que um detento aparece embaixo de uma escada à espera de um agente. Em seguida, o detento parte para cima do agente. É esse vídeo, conforme os diretores, que desencadeou o motim na cadeia e o tumulto na cela em que em seguida os agentes entram.

– Naquela cela estão cinco presos que juntos têm a cumprir 285 anos de prisão por crimes – declarou o diretor do Deap, que não quis comentar a investigação da promotora.

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Na semana passada, o juiz Humberto esteve na prisão, em uma vistoria para apurar denúncias de tortura contra presos feitas por um advogado e familiares de detentos.

A visita aconteceu um dia após um motim no local. De acordo com nota divulgada após o fato pelo Deap, um detento tentou conter um agente penitenciário e, por isso, houve a imediata ação para conter o tumulto. Na nota, o Deap negou excesso de violência contra os presos.

Assista ao vídeo gravado com celular pelos presos:

Confira o vídeo da câmera de segurança da penitenciária:

ENTREVISTA: Leandro Lima, diretor do Deap

Diário Catarinense – Qual a sua avaliação sobre a ação dos agentes que aparece no vídeo?

Leandro Lima – O que houve foi o uso progressivo da força e uma legítima ação do Estado para manter a ordem, para não haver uma rebelião generalizada. Se houvesse rebelião, o uso da força teria de ser muito maior, precisaríamos de ter apoio da Polícia Militar.

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DC – Então, na sua avaliação, não houve violência dos agentes contra os presos?

Leandro – Repito: o que houve foi o uso progressivo da força para neutralizar o motim dos presos.

DC – E em relação aos gritos dos presos?

Leandro – Trata-se de uma ação ilegítima e preparada dos presos, uma armação. Não se pode avaliar a ação também porque os agentes estavam sendo enganados e os presos sabiam disso. Houve gritos mais do que o normal. Foi encenação.

DC – Por que os presos fizeram esta suposta encenação?

Leandro – Tudo o que está acontecendo é para desestabilizar o sistema e retirar o Carlos (diretor da penitenciária) do comando. O Carlos é o profissional mais habilitado em intervenção (distúrbios em prisões) no Estado.

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ENTREVISTA: Carlos Alves, diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara.

Diário Catarinense – Houve violência contra os presos?

Carlos Alves – Uso as mesmas palavras do diretor Leandro: o que houve foi o uso progressivo da força para conter os presos.

DC – E quando os presos gritam?

Carlos – Estavam encenando uma situação para causar a desestabilização do sistema.

DC – Foi feito exame de corpo de delito? Qual o resultado?

Carlos – Foi feito, mas não em todos os presos. Não conheço o resultado dos laudos.

DC – Qual a razão da suposta encenação?

Carlos – Não é só contra mim, é contra o Estado.

DC – Há suposições de familiares e advogados de que a ação dos agentes seria em razão da morte da sua mulher (agente Deise Alves, morta no dia 26 de outubro). O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Carlos – Que é uma falta de respeito e responsabilidade contra a memória da Deise e do Estado por quem diz isso. São as únicas coisas que tenho a dizer a respeito.

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