A prisão de Guantánamo – ícone da “Guerra ao Terror” de George W. Bush e símbolo de promessa não cumprida de Barack Obama, que anunciou o fechamento do local até 2010 – volta a ser sinônimo de embaraço para os Estados Unidos.

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Dos 166 presos, 37 fazem greve de fome – a maioria está sem comer há entre seis e sete semanas.

Os prisioneiros se dizem “frustrados” com o limbo jurídico, por estarem há uma década sem julgamento e não terem perspectiva de sair do local. Advogados dos presos afirmam que o número de adesões à greve de fome seria bem maior do que os 37 confirmados pela administração da base. O defensor de Shaker Aamer, saudita que está há mais de uma década preso sem acusações formais, disse que já haveria 130 presos sem comer.

Aamer, suspeito de “vínculos com terroristas”, disse a seu advogado que aderiu à greve em 6 de fevereiro e já perdeu quase 15kg desde então. O caso é parecido ao de Abdalmalik Wahab, que passou 11 de seus 33 anos na prisão americana, e diz estar há mais de 50 dias em greve de fome. Ele e o compatriota iemenita Uthman Uthman disseram ao advogado David Remes que “sentem a morte se aproximar”.

Os dois teriam perdido cerca de 20 quilos e se queixam de que os militares encarregados pela segurança da base “profanaram exemplares do Alcorão”. No dia 6 de fevereiro, durante uma inspeção de rotina, segundo as autoridades da prisão, os detidos tiveram objetos pessoais confiscados e exemplares do Alcorão foram examinados de modo que os presos consideraram “profanação religiosa”. A partir de então, Abdalmalik e Uthman mantêm o protesto, ao qual se somaram prisioneiros do campo 6, que abriga cerca de 130 detidos.

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O porta-voz da prisão, capitão Robert Durand, afirmou que 11 prisioneiros são alimentados à força, dois dos quais foram hospitalizados.

– Os detidos estão decididos a ir até o fim – afirma Remes, advogado de 15 detentos, 13 deles grevistas, e diz que o movimento “não tem precedentes pela amplitude, duração e determinação”.

As greves de fome são recorrentes em Guantánamo. A primeira ocorreu na primavera de 2002, e aumentou durante o inverno de 2005, chegando a ter 200 grevistas.

Mais da metade dos presos foi considerada “liberável”

Entre os 166 presos, 86 homens seriam considerados “liberáveis” pelo Pentágono por falta de provas, mas continuam no local. Deles, 30 são iemenitas e não seriam enviados ao país de origem pela falta de estabilidade na região, um dos maiores centros de organização da Al-Qaeda.

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Os advogados denunciam, ainda, falta de água potável e temperaturas extremamente frias impostas no campo 6 para quebrar a greve. As autoridades desmentiram as denúncias perante um tribunal de Washington.

Em sua reeleição, Barack Obama não mencionou o problema nos discursos mais importantes desde que tomou posse e fechou em janeiro o escritório no Departamento de Estado encarregado de realocar os presos da base em Cuba.

Em janeiro de 2011, o presidente americano assinou medida proibindo que os suspeitos sejam transferidos aos EUA para julgamento. Disse, no entanto, ser contrário à restrição, fruto de imposições do Congresso.

Fontes da Casa Branca afirmam que o governo ainda pensa no fim de Guantánamo, mas Obama renovou no início do ano as restrições que tornam impossível fechar as instalações.

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