O juiz da Vara de Execuções Penais, João Marcos Buch, vai pedir explicações à direção do Presídio Regional de Joinville sobre uma selfie (autorretrato compartilhado em redes sociais) feito por presos da unidade. A imagem, compartilhada por meio do aplicativo WhatsApp no fim de semana chegou ao conhecimento do magistrado.

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– Reconheci detentos ali que são ou foram presos do Presídio Regional de Joinville. Vou entrar em contato com o gerente prisional para saber o que ocorreu e acompanhar essa situação – afirmou Buch, na manhã desta segunda-feira, após analisar a foto enviada pela reportagem de “AN”.

Na foto, sete detentos, posam em uma cela sorrindo e fazendo gestos, como o “V” de paz e amor. Nos fundos da imagem, é possível ver as grades e o que parece ser uma televisão, que é permitida aos presos. Nas laterais, há varais improvisados pelos detentos para secar roupas.

– A foto é até ingênua, demonstrando a juventude dos detentos, que, assim como os jovens que estão aqui fora, querem aparecer nas redes sociais. Porém, dependendo das mãos em que caia um celular, pode ser usado para outros fins – observou o juiz Buch.

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Para impedir a entrada de celulares, drogas e de outros objetos que possam comprometer a segurança, o presídio dispõe de scanner corporal e detector de metais, aos quais os visitantes são submetidos. O que, ao menos na teoria, deveria inibir a entrada dos aparelhos.

– Os agentes em geral que trabalham ali têm a minha inteira confiança, mas o sistema sempre tem o que melhorar – disse o juiz.

A demora na instalação de um bloqueador de sinal de celular no presídio, que se arrasta por mais de quatro meses, facilita a entrada e o uso de celulares pelos presos. A Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania suspendeu temporariamente o contrato que previa a instalação do equipamento no Presídio Regional de Joinville e em outras três unidades. A decisão foi tomada após pedidos de informações feitos pelo Ministério Público.

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O promotor Aor Steffens Miranda instaurou um inquérito civil público para investigar se houve irregularidades na licitação que teve como vencedora uma empresa de Belo Horizonte.

Miranda afirmou que há indícios de direcionamento na concorrência. A suspeita decorre do fato de as especificações técnicas contidas no edital serem idênticas a especificações de aparelhos pertencentes à empresa vencedora. O que, em caso de comprovação, comprometeu a concorrência de outras empresas inscritas.

Operação pente-fino encontra dois celulares

O diretor do Presídio Regional de Joinville, Cristiano Teixeira, confirmou que a foto foi feita na unidade prisional no primeiro contato feito pela reportagem de “A Notícia”, no início da tarde de domingo.

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– Aparentemente, pelas características do ambiente, é provável que seja no pavilhão 4 ou 5 – afirmou o diretor, por e-mail.

Segundo Cristiano, que disse desconhecer o fato antes de ser procurado por “A Notícia”, a foto foi enviada ainda na tarde de domingo à equipe de plantão no presídio para que fossem feitas buscas. Durante o pente-fino, foram encontrados dois celulares, mas, de acordo com o diretor, em nenhum havia a foto da selfie.

– Caso os presos sejam identificados, será aberto um incidente disciplinar para apurar os fatos – informou.

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Para o diretor, a única e melhor solução para evitar a entrada de celulares é a instalação do bloqueador.

– Apesar de melhorarmos as vistorias e diminuirmos os acessos de entrada, a infraestrutura do presídio ainda permite pontos vulneráveis. Também, como em qualquer segmento, estamos sujeitos a possíveis facilitações – admitiu Cristiano.

No entanto, mais tarde, às 18h15 de domingo, o diretor alterou o discurso e considerou a possibilidade de a foto não ter sido tirada na unidade.

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– Não identificamos o local nem os internos. A foto pode ser antiga ou em outro local, já que a estrutura, que pouco aparece, tem as mesmas características de outras unidades da região, como as UPAs. Difícil identificar onde seria – disse, em um terceiro e-mail em resposta à equipe de reportagem.

Contraponto

O secretário de Estado de Justiça e Cidadania, Sady Beck Júnior, e o diretor do Departamento de Administração Prisional (Deap), Leandro Lima, foram procurados para falar sobre a falta de bloqueadores por telefone e por e-mail na tarde de domingo e também ontem de manhã, mas não responderam aos questionamentos feitos pela reportagem nem atenderam às ligações.

*Colaborou Schirlei Alves