Por tudo que passou no Joinville, Jony Stassun já poderia ter abandonado o barco. Em quase um ano e meio, viu o clube ser rebaixado à Série C, estar ameaçado pelo rebaixamento no Campeonato Catarinense, ficar fora da Série C logo na primeira fase da competição e acumular uma porção de dívidas.
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O desgaste em razão destes fatos seria suficiente para um pedido de renúncia, que agradaria a boa parte da torcida do JEC. Mas o presidente tricolor entende que ainda pode ajudar o clube.
Em entrevista exclusiva concedida ao “AN”, ele falou dos seus planos na gestão do cargo até abril, dos erros cometidos ao longo do trabalho e como pretende fazer a transição do cargo.
Como o tempo é curto e Jony não deverá estar no JEC para tentar levar o clube à Série B, o objetivo do presidente é tornar o Joinville mais saudável. Em dois aspectos: financeiramente e no momento de transição.
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Jony acredita que possíveis transferências de atletas ajudarão a abater as dívidas que o JEC acumula. As apostas são nas transferências de Caíque, Naldo e Rafael Grampola.
Em relação à transição, confirmou estar disposto a abrir o clube para novos diretores a partir de janeiro, desde que eles se identifiquem e formalizem o desejo de assumir o JEC. Todas as respostas do presidente estão na entrevista ao lado.
Como foi a reunião do conselho deliberativo na visão do presidente?
Jony Stassun – Foi positiva, democrática, acho que com o maior número de conselheiros deste ano. Quando a gente passa por uma situação de estar na Série C e não conseguimos evoluir, temos um desconforto muito grande no conselho, principalmente pelos números do que orçamos e do que realmente realizamos. Sabíamos que seria um ano muito difícil. O que amenizou um pouco foi a campanha na Copa do Brasil e os recursos que conseguimos captar. Mas o ponto principal, que seria a volta do Joinville para a Série B, acabamos falhando.
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Alguns conselheiros pediram sua renúncia na reunião?
Jony – Muitos conselheiros queriam minha saída para criar um fato novo. Mas o próprio Marcus Silva (presidente do conselho) disse que vou cumprir o mandato até o final. Se houvesse uma chapa definida, poderia facilitar minha saída. Mas só existe um movimento por enquanto. Não sou contra a transição, mas é preciso ter isso bem alinhado, precisamos saber quem serão as pessoas.
Por tudo o que você já passou no JEC, não seria mais fácil renunciar? Qual é o motivo de desejar a continuidade?
Jony – Deixar o Joinville nesse momento não seria positivo, o clube ficaria descoberto. O Jurandir da Silva (vice-presidente) não iria assumir, o presidente do conselho (Marcus Silva) também não quer. Teríamos que criar um conselho que monitorasse o clube nesta situação. Se tivesse alguém pronto, não me oporia. Preciso de algo concreto.
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O que você ainda pode fazer pelo JEC até abril?
Jony – Tivemos ativos importantes, como o Caíque. O Vitória tem opção de compra em dezembro. Seria um valor que entraria no clube ajudaria a sanar dívidas. A Ponte Preta pode exercer poder de compra do Naldo. Do Rafael Grampola, também tivemos sondagens. Acredito que se fizermos estas negociações, podemos reduzir as dívidas.
Há pessoas da imprensa que afirmam que o presidente não sai por ter dinheiro no clube. Isso é verdade?
Jony – Isso (o dinheiro) é uma questão de conversamos para recuperarmos valores. Há documentos que provam o que coloquei no clube. Levei, inclusive, à reunião do conselho quais são os documentos. O ex-presidente Nereu (Martinelli) também tem valores a receber. Infelizmente, não conseguimos cumprir com o cronograma de pagamentos.
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Quanto o presidente tem a receber do clube? E qual é a dívida com o ex-presidente Nereu Martinelli?
Jony – Coloquei algo próximo a R$ 3,5 milhões ou R$ 4 milhões. O presidente Nereu tem algo perto de R$ 1,5 milhão ou R$ 2 milhões. Houve pagamento (deste valores) no primeiro momento, mas, devido à queda de renda, não tivemos condições de cumprir este pagamento.
Como seria a transição da gestão caso exista a chapa de oposição?
Jony – Da mesma maneira como aconteceu minha entrada no clube, é só uma questão de eles (novos diretores) estarem acompanhando a parte financeira. Isso (transição) não seria um problema, desde que esteja claro quem será o presidente, quem será o vice e não exista risco de desistência.
Você é candidato à reeleição ou avalia apoio a alguém da atual diretoria?
Jony – O vice-presidente Jurandir (da Silva) seria um bom nome, mas não tem tempo hábil. Pela experiência de anos no clube, seria um ótimo candidato, não ele não tem tempo. O futebol não tem hora. Não é uma empresa normal. Toda hora é hora. Sobre mim, prefiro que uma nova chapa apareça, tenha novas ideias, que o clube evolua ainda mais.
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Se você pudesse voltar no tempo, teria assumido o JEC?
Jony – Infelizmente, tivemos situações atípicas. A primeira delas, com o João Carlos Maringá (ex-gerente de futebol). Naquele momento, chegamos na final (do Catarinense), a sinergia era positiva, o caminho que estávamos traçando era bom. Infelizmente, com esse problema da esposa dele (que veio a falecer), o Maringá não pôde ficar. Trouxemos o Júlio Rondinelli por indicação de outras pessoas e não deu certo. Não sabemos, mas se o Maringá tivesse ficado, poderíamos ter outras situações.
Quando os erros de contratações começaram a causar problemas financeiros vividos até hoje pelo clube?
Jony – Se nós formos ver, a arrecadação que tínhamos em 2016 era muito maior. Houve a questão dos atletas, rescisões (das contratações), isso tudo acaba influenciando no caixa da empresa. Estávamos cientes das reduções de patrocínios, sócios, mas as duas quedas seguidas dificultaram nosso trabalho.
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O que foi pior: cair na Série B ou ficar mais um ano na Série C?
Jony – A queda foi pior. Na Série C, a gente estava brigando para se classificar. Na Série B, nós estávamos brigando para não cair. Por tudo que foi feito, pelos fatos que aconteceram, a Série B foi mais complicada e desgastante.
Você já afirmou que considera o trabalho do departamento de futebol bom porque o compara ao passado. Ser melhor do que o passado é suficiente para determinar que o trabalho é bom, especialmente diante da desclassificação na Série C?
Jony – O (Carlos) Kila conseguiu captar atletas importantes, como é o caso do Caíque. Foi uma aposta que pode trazer recursos ao clube. Muitos atletas que vieram e não jogaram estão relacionados às opções dos treinadores. Trouxemos jogadores como o Alisson e o Lazio, que não jogaram, com a expectativa de gerar ativos para o clube. Infelizmente, a teoria e a prática divergem muito.
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Mas buscar apenas ativos para o clube não é muito pouco por tudo o que o departamento de futebol deve fazer? O Joinville não tinha a obrigação de se classificar entre os quatro melhores do grupo na Série C?
Jony – A nossa aposta era de chegar no mínimo à classificação. O mata-mata é outro campeonato, mas tivemos problemas, como as questões salariais com os atletas, que nos atrapalharam. Cada jogador reage de uma maneira, mas isso também pesou. Diria que o trabalho do Kila foi regular, principalmente por tudo que já vi no clube.
O Joinville não peca ao “terceirizar” o futebol na mão de apenas um gerente? Não falta uma fiscalização das contratações para que elas não se tornem um problema financeiro ao clube?
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Jony – No ano passado, até pensamos em ter o Maringá e o Júlio (Rondinelli) juntos. Seria a forma ideal. O importante é que nós temos que pensar daqui para frente e não errar. Vínhamos errando muito nos últimos tempos. Acredito, sim, que é importante ter mais alguém, com conhecimento e boa base de futebol.
Existe esta pessoa no conselho?
Jony – Só vejo o Nereu (Martinelli) fazendo isso ou comandando um grupo de gestão de futebol. O futebol é muito complexo. É um fato a ser analisado. Teremos o Júnior Gaino, que faz a captação de atletas para a base, exercendo esta mesma função no profissional. Precisamos ser mais precisos na busca das contratações.
Qual é o objetivo do JEC na Copa Santa Catarina, uma vez que a vaga na Copa do Brasil já está garantida?Jony Stassun – Nosso objetivo maior é ficar fazendo avaliações dos atletas que permaneceram pensando no Campeonato Catarinense. Queremos dar oportunidade para atletas que estão jogando sub-20 e tiveram pouco aproveitamento nesta temporada.
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Veja a íntegra da entrevista