O presidente francês, François Hollande, se referiu nesta quinta-feira ao “uso provável de armas químicas” durante uma conversa por telefone com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao falar sobre os “massacres que ocorreram na Síria” na madrugada de quarta-feira.

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François Hollande “expressou (ao secretário-geral da ONU) o sentimento provocado na França pelos massacres na Síria que ocorreram” na madrugada de 21 de agosto “e pelo uso provável de armas químicas”, escreveu a presidência francesa em um comunicado.

Especialistas dizem que sintomas de vítimas de ataque na Síria são compatíveis com gás tóxico

Os sintomas apresentados pelas vítimas dos supostos ataques de quarta-feira na periferia de Damasco são compatíveis com os das pessoas atingidas com armas químicas, particularmente gases neurotóxicos, mas o único meio de confirmar seria analisar amostras, insistem especialistas consultados pela AFP.

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A oposição síria acusa o regime de ter matado mais de 1,3 mil pessoas com armas químicas perto da capital, em uma região controlada pelos rebeldes, com o apoio de muitos vídeos captados no momento. O governo sírio desmente as acusações e se nega a permitir que os inspetores da ONU tenham acesso ao local.

– Assisti a 21 vídeos e tenho fortes suspeitas do uso de armas químicas, mas são necessárias provas científicas, como a presença de sarin no sangue e na urina das vítimas – resume Olivier Lepick, especialista em armas químicas e biológicas e pesquisador da Fundação de Pesquisa Estratégica (FRS).

– Em todos esses vídeos, os sintomas clínicos (contrações musculares, contração das pupilas, hipersalivação, dificuldade respiratória, ritmo cardíaco acelerado, ausência de ferimentos físicos, etc.) são fortes e fazem pensar em neurotóxicos – declara Lepick à AFP.

– Ontem (quarta-feira), não estava acreditando, mas revi a minha posição após assistir a vídeos de melhor qualidade – explica Jean Pascal Zanders, especialista em desarmamento químico.

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Nas imagens é possível ver, segundo ele, “um certo número de sintomas compatíveis com envenenamento por produtos organofosforados”, dos quais o sarin faz parte, “e a uma morte por asfixia”.

– Eu não posso confirmar se é sarin ou VX (um gás similar). Pode ter sido uma série de coisas diferentes ou uma combinação – diz ele.

Lepick observa, no entanto, que “o gás sarin é o agente mais utilizado no arsenal da Síria” e que o país tem foguetes, bombas aéreas e de artilharia capazes de difundir este gás.

– Alguns sintomas são consistentes com outros agentes neurotóxicos, outros mais relacionados com agentes incapacitantes. Parece muito com agentes neurotóxicos, mas não podemos descartar que outras substâncias possam ter sido usadas – segundo Ralf Trapp, consultor independente que foi perito da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) em Haia.

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Pode ter se tratado de substâncias tóxicas, como cloro, por exemplo, lançado acidentalmente durante um bombardeio a um armazém?

– Essa é uma explicação possível. Mas quanto mais eu vejo, mais é consistente com um ataque com gás, em vez de uma liberação acidental de substâncias químicas tóxicas – responde Ralf Trapp.

Outros especialistas são mais cautelosos, citando detalhes perturbadores.

– As pessoas que ajudam as vítimas não usam roupas de proteção ou máscaras. Se fosse um ataque com gás, elas teriam sido infectadas e afetadas pelos mesmos sintomas – adverte Paula Vanninen, diretora do Instituto finlandês de Verificação da Convenção sobre Armas Químicas.

– É uma das coisas a serem observadas. A equipe médica realiza uma descontaminação sumária, jogando água nas vítimas. As ambulâncias e aqueles que levam as vítimas para o hospital deveriam estar contaminados – reconhece Ralf Trapp.

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– Mas, se for um gás volátil, como o sarin, a equipe de socorro seria apenas ligeiramente contaminada e iria apresentar apenas sintomas leves, como visão turva ou dor nos olhos. Poderiam suportar isso por um tempo, o que explicaria a falta de sinais muito visíveis – diz.

– A única maneira de verificar o uso de armas químicas é tomar amostras do local e analisá-las – insiste um ex-diretor da inteligência militar francesa sob condição de anonimato.

– Precisamos conversar com testemunhas, com as vítimas, realizar exames médicos, colher amostras – acrescentou Ralf Trapp, que aponta que os agentes neurotóxicos são detectáveis apenas alguns dias na urina, mas ainda por “várias semanas” no sangue.

-Não é tarde demais. Os inspetores da ONU estão lá e, se eles tiverem acesso à área e a seus moradores nos próximos dias, eles têm boas chances de descobrir o que aconteceu – garante Trapp.

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