O ano virou, mas o republicano Donald Trump ainda é assombrado por (nem tão) velhos fantasmas. Entre eles está o que pode custar ao americano o lugar que conquistou na Casa Branca em 2016: a possibilidade da abertura de um processo de impeachment.
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A especulação voltou à tona ainda nos últimos dias de dezembro após a publicação de um artigo assinado pela jornalista Elizabeth Drew e publicado pelo The New York Times. No Brasil, a tradução da matéria feita pela Folha de S.Paulo dias depois destaca que a interrupção do governo "é cada vez mais inevitável".
Trump viu, no ano passado, o ex-advogado Michael Cohen ser preso ao se declarar culpado ao Congresso americano por ter prestado falsas declarações durante o processo de investigação que apurava a possível interferência da Rússia nas eleições norte-americanas de 2016.
Na época da campanha, o vazamento de e-mails relacionados à democrata Hillary Clinton, adversária de Trump na corrida eleitoral, foi entendido como uma ajuda russa ao candidato republicano, prejudicando o desempenho da concorrente.
Doutor em Ciência Política pela Universidade da Flórida e professor emérito da Universidade de Brasília, David Verge Fleischer conclui que os testemunhos que pesam contra o presidente americano no caso do conluio com os russos durante a campanha são óbvios.
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O especialista explica que, independentemente disso, Trump já se envolveu em outras polêmicas desde então, como as acusações de que teria comprado o silêncio de mulheres com quem supostamente se envolveu enquanto era casado, e as questões que circundam a imigração.
— Se ele fizer mais besteiras é possível (o impeachment) porque os republicanos já estão bastante ansiosos e preocupados — analisa o professor da UNB.
Controle do Senado pode ser garantia de permanência
Se não bastassem as investigações, lideradas pelo procurador especial Robert Mueller, as eleições americanas para governador dos EUA, que ocorreram no fim de 2018, deixaram o Trump à mercê da Câmara dos Representantes, que passou a ter maioria democrata.
Nos Estados Unidos, a aprovação de um processo de impeachment depende do apoio de dois terços dos deputados e depois de dois terços dos senadores. No entanto, diferentemente da composição da Câmara, no Senado a maioria é republicana, partido de Trump.
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A Constituição norte-americana cita algumas razões para justificar a interrupção do mandato de um presidente, como traição e suborno. Em reportagem, o Jornal Nexo pondera que o artigo 3 da seção 4 do documento também cita altos crimes e contravenções. Essa parte estaria abrindo debates.
No artigo publicado no The New York Times, Elizabeth Drew pondera que a não ser que o presidente renuncie, a pressão dos líderes democratas tende a crescer ao longo de 2019.
— A crise presidencial atual parece ter apenas duas saídas possíveis. Se Trump achar que ele e membros de sua família poderão ser acusados de crimes, ele pode se sentir encurralado. Com isso, ele teria duas escolhas: renunciar à presidência ou tentar combater seu afastamento pelo Congresso. Mas a segunda alternativa seria altamente arriscada — escreveu Elizabeth.
Dois presidentes já conseguiram absolvição do Senado
No comando dos Estado Unidos até 2021, apesar das acusações que pesam contra Trump e das especulações de impeachment, a história norte-americana mostra que o afastamento do magnata dificilmente deve se concretizar.
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O professor David Verge Fleischer relembra que Andrew Johnson e Bill Clinton foram alvos de processos de impeachment, mas no fim conseguiram a absolvição no Senado — atualmente, Trump tem maioria no Senado, por exemplo.
Richard Nixon, um dos protagonista do caso Watergate, renunciou ao cargo antes da votação do Congresso.
Ou seja, até hoje, nenhum presidente eleito foi impedido de seguir comandando os EUA.
Queda de braço por medidas impopulares
No cenário atual, o presidente dos EUA está pressionado por uma paralisação orçamentária que caminha para ser a mais longa da história americana devido à sua insistência em construir um muro na divisa com o México. Se o movimento continuar, corre o risco de bater o recorde do fechamento parcial do governo de 21 dias, que ocorreu entre o fim de 1995 e o começo de 1996, sob a presidência de Bill Clinton.
Trump insiste em querer convencer a opinião pública da necessidade de construir uma barreira de aço na fronteira com custo de 5,7 bilhões de dólares sem fazer nenhuma concessão. Mais de 800 mil funcionários federais afetados esperam uma resolução do conflito que lhes aflige desde 22 de dezembro. Muitos deles se encontram em uma licença forçada sem vencimentos, levando-os a graves problemas financeiros que pioram a cada dia.
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A disputa pelo muro, que faz parte das promessas de campanha de Trump, ocorre em meio a uma mudança no ciclo político nos EUA, após os democratas recuperarem, na semana passada, o controle da Câmara dos Representantes, embora os republicanos continuem tendo maioria no Senado.
Diante do cenário de greve, durante a semana, o presidente americano, Donald Trump, ameaçou cortar a ajuda federal de emergência enviada à Califórnia após devastadores incêndios até que o estado, controlado pelos democratas, “se comporte de forma adequada”.
Pelo Twitter, disse: "A menos que se comportem de forma adequada, que é improvável, ordenei ao FEMA que não envie mais dinheiro. É uma situação escandalosa em vidas e dinheiro!" em referência a Agência Federal para Gestão de Emergências.
O alerta amplia as tensões de Trump com as autoridades da Califórnia sobre a responsabilidade pelos incêndios, entre eles, o de novembro, que deixou mais de 80 mortos e se tornou o pior da história do estado.
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Enquanto o presidente Donald Trump acha que o problema é a má gestão, os democratas na Califórnia consideram que isso se deve em grande parte aos efeitos das mudanças climáticas.