O Juventude sofreu um duro golpe ao disputar a Série C do Brasileirão deste ano. Como não é transmitido, o torneio não rende direitos de TV aos clubes. Os recém-rebaixados da Segundona deixam, então, de faturar cerca de R$ 800 mil. Patrocínios e público também ficam sujeitos a drásticas reduções. Segundo o presidente do Juventude, Milton Scola, a situação, que acabou culminando no rebaixamento alviverde à quarta divisão, é de “abandono completo”.
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– Vamos repensar o clube segundo a Série D, reprojetando nosso orçamento, em virtude do calendário e das receitas. Do ponto de vista financeiro, não muda muito, porque, por parte da CBF, o abandono é completo na C ou na D. Não temos calendário, exposição, receitas, TV… Não temos nada – diz o dirigente.
Para piorar, os clubes têm, em média, garantia de atividades por apenas cinco meses, referentes às fases de classificação dos Estaduais e do Brasileiro, além da Copa do Brasil. Para o Juventude, foram três meses de Gauchão e dois de Série C. A temporada de apenas 26 jogos encerrada na semana passada obrigará o clube a pagar quatro meses ociosos de salários (incluindo 13º) ao elenco, quase R$ 1 milhão.
Sem grande aporte financeiro, os gaúchos montaram um time modesto, apostando nas categorias de base. Tecnicamente, nada muito distinto das equipes montadas de última hora. O baixo nível e a curta duração equilibram o torneio, que acaba privilegiando o acaso.
– Tínhamos poder de endividamento para montar um supertime, mas trabalhamos em cima da viabilidade do clube. Poderíamos ter agradado à imprensa e aos torcedores, mas optamos por fazer um time barato, a base de juniores, de quilate ainda duvidoso. Tivemos de apostar na base para depois montar um time mais forte para disputarmos a Série C – explicou o vice-presidente administrativo e financeiro do clube, Luiz Carlos Ghiotti.
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Confira mais trechos da entrevista com Milton Scola
O que muda de cara na gestão do clube com o rebaixamento para a Série D?
Vamos repensar o clube segundo a Série D, reprojetando nosso orçamento, em virtude do calendário e das receitas. Do ponto de vista financeiro, não muda muito, porque, por parte da CBF, o abandono é completo na C ou na D. Não temos calendário, exposição, receitas, TV… Não temos nada.
O senhor teme uma debandada nas categorias de base?
Isso eventualmente vai acontecer, mas de forma muito pontual. A maioria está comprometida. Não acredito que 20% ou 30% dos jogadores vão embora. Fizemos contratos de longo prazo.
É viável uma nova parceria nos moldes da que o clube tinha com a Parmalat, de cogestão?
Sozinhos, estamos enfraquecidos. Teimamos em ficar assim por anos, mas talvez não consigamos mais. Seu patrimônio vai sendo dilapidado e a consequência é o que vivemos hoje. Já temos algumas conversas, mas nada ainda está fechado.
A ausência de receitas de TV pesa muito nas contas do clube?
Sim. Fui presidente do clube em 1999 e 2000. Por sorte e alguma competência, fomos campeões da Copa do Brasil, jogamos a Série A, disputamos a Libertadores… E um dos sustentáculos de tudo isso era as receitas de TV. Quando voltei esse ano, assumi com uma dívida considerável. Quase não temos receitas de TV, só do Gauchão. E, aqui, temos todas as categorias até o profissional. É um clube estruturado, que tem alto custo para se manter.
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Os times montados de última hora têm mais chances nesse modelo atual das Séries C e D?
Sim. Montam um time de aluguel e, se não der certo, vão embora. O investimento acaba ali, diferentemente do que temos aqui. Já estamos vendo isso até na Série A.