Presidente do Conselho Nacional dos Comandantes-gerais das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros e comandante-geral da PM de SC, coronel Nazareno Marcineiro fala dos ataques em SP, cuja autoria, de acordo com investigações, seria da principal facção criminosa paulista. Pelo menos 95 agentes de segurança foram mortos este ano em SP. O coronel Marcineiro considera que não há correlação com Santa Catarina.
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Diário Catarinense_Qual a motivação para o que o senhor considera de “guerra silenciosa” em SP?
Coronel Nazareno Marcineiro_O que ocorre em São Paulo é que se instalou uma reação do crime contra a atuação das forças regulares do Estado. Um desrespeito às instituições públicas por parte de criminosos que se consideram acima do Estado.
DC_Quais mecanismos que o Conselho está buscando para que criminosos de SP suspeitos pelos ataques não fiquem impunes?
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Marcineiro_Fazer com que esses ataques sejam punidos com muita severidade. É por isso que estamos buscando incluir entre os crimes hediondos ataques a agentes da lei, por meio do abaixo-assinado do movimento Reaja Brasil. O link é www.peticaopublica.com.br/peticaoassinar.aspx?pi=reaja.bra. Estamos obtendo resultados bastante expressivos em todo o país.
Nos dias 29 e 30 de novembro, haverá uma reunião dos secretários de Segurança Pública, comandantes-gerais da Polícia Militar e delegados-gerais da Polícia Civil de todo o Brasil em Santa Catarina, em que voltaremos a estimular esses segmentos a se engajarem no abaixo-assinado.
DC_Como o governo federal pode ajudar os estados a combaterem as facções criminosas?
Marcineiro_O governo federal pode se somar às forças públicas estaduais no combate a criminalidade apoiando os estados na construção de penitenciárias realmente seguras. Na busca de uma legislação que seja realmente protetora aos agentes de segurança. E na transferência para penitenciárias federais de criminosos que iniciam esse movimento de reação às forças regulares do Estado, assim como está fazendo em São Paulo.
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DC_O senhor acha que o modelo implementado pelo secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro José Beltrame está funcionando? Por quê?
Marcineiro_Sim, está. Há 15 anos sou engajado no conceito Polícia Comunitária. Tenho estudado e me aprimorado, em 2009 publiquei um livro sobre o assunto. Para minha surpresa, recentemente em Brasília, o sub-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro falou que o modelo daquele Estado é fundamentado nos eixos estruturantes de segurança como: proximidade com o cidadão, ação sobre as causas, pró-atividade policial e formação de parcerias. São fundamentos da Polícia Comunitária e temos adotado em Santa Catarina também. A diferença entre Rio de Janeiro e Santa Catarina é que o Rio está fazendo isso de maneira reativa, lá havia um quadro extremamente complicado. Em SC estamos usando a mesma filosofia, só que sem esperar que o quadro se agrave. Não fica glamuroso como no Rio, mas o resultado aqui é muito bom. Somos o Estado com os melhores indicadores criminais do país.
DC_A guerra em SP também está acontecendo em SC?
Marcineiro_Não percebo isso, não. Nós temos o caso do ataque contra a agente penitenciária, o atentado ao policial civil no Norte da Ilha e disparos contra a base da PM na Vila Aparecida. Mas nenhum dos três casos tem relação entre si. São circunstâncias diferentes.
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DC_Como o senhor acha que a organização criminosa catarinense pode ser combatida?
Marcineiro_Não tenho como afirmar que há uma organização criminosa atuando. Mas sei que os presídios devem ser lugares de reclusão de criminosos. Lá dentro, a comunicação com o mundo externo deve ser restringida o máximo possível. Contato com familiares e advogados deve ser devidamente monitorado. Comunicação com uso do celular com o mundo externo é extramente comprometedora para a segurança pública.
DC_Profissionais da segurança dizem que se a facção criminosa catarinense não for combatida, SC vai se tornar SP nos próximos anos. O senhor concorda?
Marcineiro_Penso que o Estado que tenha uma facção criminosa atuando de forma livre e solta, chega sim, sem dúvida nenhuma, a um estado de desrespeito à instituições de segurança como é o caso de São Paulo. Não estou afirmando que em Santa Catarina há uma organização criminosa.
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DC_Existe a ideia de selar um acordo de coperação entre as polícias de SC? Como funcionará?
Marcineiro_O que se quer permanentemente é um acordo de coperação entre as diversas instituições. Eventualmente há ruído de comunicação ou desajuste de ação, o que é anormal. O normal é que as instituições trabalhem unidas no combate a criminalidade. Temos conversado regularmente, a cúpula da segurança, sobre ações conjuntas. Há uma sinergia no combate a criminalidade. Estamos muito unidos para coibir essa possibilidade de ataques contra agentes de segurança.
DC_O senhor se sente seguro em SC? Anda com escolta?
Marcineiro_Sim, me sinto muito seguro no Estado e todos aqueles que vem a Santa Catarina depois de terem morado em outras cidades se sentem muito seguros. Santa Catarina tem história de tranquilidade e paz muito grande. Nós que vivemos aqui a vida toda, não percebemos eventualmente, o quanto nós estamos seguros. Esses episódios como os ataques em São Paulo que chegam ao nosso conhecimento acaba causando uma sensação de insegurança e nós transpomos aquela realidade para nós aqui. Mas não existe uma correlação. Contudo, a tranquilidade que nós devemos ter não pode ser uma tranquilidade descuidada. Devemos ter alguns cuidados, necessariamente porque não há no mundo lugar onde não existam crime ou violência. Temos que ter cuidados básicos conosco, manter o carro fechado, não deixar objetos expostos, ver se tem alguém por perto antes de abrir o portão de casa. São cuidados básicos. Sobre escolta, prefiro não falar sobre isso.