A cinco dias de passar o cargo de presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) ao brigadeiro-do-ar e atual diretor de Operações da Infraero Cleonilson Nicácio Silva, Sérgio Gaudenzi voltou a criticar duramente o projeto de privatização dos aeroportos brasileiros e explicou o motivo de seu pedido de demissão.

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– Eu disse ao ministro (da Defesa, Nelson Jobim): “eu não vou ter entusiasmo nenhum em comandar um processo (as privatizações) com o qual eu não concordo” – afirma.

– Como eu não sabotaria uma decisão do governo federal, achei por bem pedir meu afastamento.

Gaudenzi concorda que a Infraero é “altamente burocratizada” e que “funciona praticamente como uma autarquia”, argumentos que ajudam a sustentar o projeto de privatização, mas afirma que a simples venda dos aeroportos “não é o caminho”.

– Logo que cheguei (em agosto de 2007), vi a situação e sugeri a abertura de capital da empresa, algo da forma como funciona a Petrobras. Começamos a elaborar estudos que indicavam que essa seria uma boa alternativa para oxigenar a empresa, mas mantendo as decisões finais com o governo, em caso de problemas. Apesar disso, o governo decidiu seguir a linha da privatização – conta o presidente demissionário.

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De acordo com Gaudenzi, o modelo de venda dos aeroportos, em vez de melhorar a malha aeroviária, tende a colocar em risco boa parte da infra-estrutura do setor no país.

– Hoje, administramos 67 aeroportos, dos quais 10 dão lucro, 10 operam em equilíbrio e 47 dão prejuízo. Essa maioria é formada por aeroportos que não têm como deixar de ser deficitários e têm de continuar existindo. Em Tefé (AM), por exemplo, o aeroporto é praticamente a única forma de as pessoas chegarem e saírem. Ao mesmo tempo em que ele não tem como dar lucro, precisa continuar operando, mas se você não tem recursos, ele começa a se deteriorar e a colocar em risco a operação. E esse processo tende a acontecer em todos os terminais.