Ao chegar na casa de Carlos Alberto Schneider, no bairro Trindade, em Florianópolis, não há campainha ou interfone. Para chamar é necessário usar a aldrava – espécie de argola feita de metal presa à porta.

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A residência, que tem mais de 40 anos, foi planejada por ele e a mulher, pouco tempo depois de se conhecerem na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O estilo clássico da casa contrasta com a trajetória profissional focada em tecnologia do idealizador e superintendente geral da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), há 30 anos, e um dos responsáveis pela implantação da primeira incubadora do Brasil e do Sapiens Parque.

Com 65 anos, Schneider é considerado um dos principais fomentadores do polo tecnológico da região de Florianópolis. Filho mais velho entre cinco irmãos, ele nasceu em 1949, em Joinville. Desde pequeno, esteve envolvido na empresa de bombas hidráulicas do pai – que nasceu em Jaraguá do Sul e era filho de alemães.

(Foto: Marco Favero)

Foto: Marco Favero

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Apaixonado por mecânica, aos 16 anos, Schneider entrou na antiga escola técnica Tupy, em regime de internato. Foi o pontapé inicial para mudar-se para Florianópolis e cursar Engenharia Mecânica na UFSC.

A grande ligação com o mundo tecnológico aconteceu no terceiro ano do curso, quando ele e um grupo de alunos foram chamados para auxiliar um projeto especial. A universidade tinha comprado o primeiro computador científico de SC e precisava de uma equipe para lidar com o equipamento. Ali começou a relação entre o visionário e a tecnologia que perdura até hoje.

– Eu nem sabia direito o que era um computador. Mas foi uma condição privilegiada e me deixou extremamente entusiasmado – lembra.

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Além da área tecnológica, Schneider atuou como professor da UFSC na área de metrologia e automação por mais de 30 anos. O grande boom de sua carreira e contribuição com o desenvolvimento do Estado ocorreu em 1984. Impulsionado pela recém-lançada Lei da Informática – que concede incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia que investem em pesquisa e desenvolvimento – ele propôs e implantou a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras. O projeto saiu do papel graças a 16 empresas que investiram US$ 400 mil na iniciativa.

– A gente fez uma instituição bem diferente do que já existia. Era privada, sem fins lucrativos e o importante é que era junto com a universidade. A inspiração veio da Alemanha – explica.

Criada para desenvolver produtos e serviços para empresas e para o Governo do Estado, a Certi conta com a criação da urna eletrônica brasileira em seu portfólio e atualmente emprega 265 colaboradores.

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(Foto: Marco Favero)

Foto: Marco Favero

Mudança na vocação de Florianópolis

Até a criação da Certi e da primeira incubadora do Brasil, a Celta, fundada dois anos depois, Florianópolis sempre viveu do funcionalismo público e da área de serviços e comércio. E foi na década de 1980, com a implantação da fundação e da incubadora, que a vocação tecnológica da região começou a aparecer.

– A gente semeou este processo e irrigou com incubadoras. Para isso, é preciso ter 5% em ideais e planejamento e 95% de trabalho, trabalho e trabalho – afirma.

Em 1993, foi a vez do Parque Tecnológico Alfa ganhar corpo e sair do papel. Para abrigar as empresas em um ambiente inovador, Schneider ajudou ainda na implantação do Sapiens Parque, tudo para atender a chamada “indústria sem chaminé”. Porém, engana-se quem pensa que o senhor de cabelos brancos, que esbanja vigor e determinação ao falar dos projetos, planeja parar. Ele se mostra extremamente dedicado ao ofício e deixa escapar que é comum enviar e-mails de trabalho durante as madrugadas e à noite.

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(Foto: Marco Favero)

Foto: Marco Favero

Demonstra a mesma empolgação ao falar das inúmeras viagens e que já perdeu as contas de quantos países conheceu. Na decoração de sua casa, ostenta objetos trazidos de diversas delas, que incluem destinos exóticos como Nepal e Tailândia. Há também coleções de pratos antigos e brasões, adquiridos principalmente durante os cinco anos em que ele e a esposa Ethel Hofmann Schneider – que faleceu há sete meses vítima de câncer – passaram na Alemanha para Schneider fazer o doutorado em Engenharia Mecânica. Neste período chegaram a percorrer quase todos os países da Europa ocidental, inclusive com uma Kombi adaptada como casa. Viajar, aliás, é uma das atividades preferidas do engenheiro, porém perde espaço quando o assunto é trabalho.

– Meu verdadeiro hobby é a Fundação Certi – brinca.