Em toda boa história, há coincidências inexplicáveis. Na de José Xavier Cortez, calhou de ser vizinho de uma editora na São Paulo dos anos 60, quando ele, lavador de carros, precisava completar o orçamento para pagar a mensalidade da faculdade de economia da PUC.
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Ele poderia, é claro, ter ignorado o sinal, mas como não deixou essa coincidência passar, guiou a própria história até se tornar o dono de uma das mais famosas editoras do País: a Cortez Editora. E essa trajetória, que de tão surpreendente virou tema de documentários e livros, foi assunto da roda de contação de histórias na Feira do Livro na tarde de domingo, tendo o próprio Cortez como contador.
Aos 75 anos, o nordestino nascido em Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte, não esquece nenhum passo que deu em direção ao sucesso e não hesita em afirmar: tudo aconteceu graças aos livros.
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– Eu não sabia nada até os 17 anos, não tinha cultura. Estudei em escola rural até a quarta série e só fui me interessar pelos livros depois que entrei na Marinha -, conta ele.
Foi nesse período que Cortez concluiu os estudos, fazendo supletivo, e tornou-se capaz de prestar vestibular. Só havia um problema: o emprego em um estacionamento, lavando carros, não era suficiente para as próprias despesas e a mensalidade da faculdade.
– Então eu comecei a ir na editora e lá me indicavam livros para vender na faculdade. Era época da censura, na ditadura militar, e havia os livros proibidos: Florestan Fernandes, Paulo Freire… Eu vendia escondido para os colegas e professores e conseguia o dinheiro para a mensalidade -, lembra ele.
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Com o tempo, Cortez foi percebendo que essa atividade rendia mais que o trabalho lavando carros e decidiu: seria livreiro. E uma pequena banca no campus da PUC tornou-se a semente para a editora que hoje, não à toa, é especializada em ciência humanas e sociais.
– Tive muita sorte: convivi com muitos intelectuais que não podiam mais comprar livros importados, já que a censura proibia. Eles resolveram produzir a própria bibliografia e eu os editava. É assim até hoje: acho que devo ser um educador que cuida dos seus negócios e se compromete com o seu país -, avalia.
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