O dia do presidente da Aurora Alimentos, Mário Lanznaster, 74 anos, começa às 5h. Na primeira hora, ele lê revistas, jornais e livros.

Continua depois da publicidade

– Procuro estar sempre bem informado – comenta com a equipe de reportagem.

Depois ele assiste Globo Rural e ao Bom Dia Santa Catarina enquanto toma café e lava a casinha da cachorra. Às 7h30min, assiste a manchete do Bom Dia Brasil e sai para trabalhar. Chega na Aurora, empresa localizada em Chapecó, no Oeste do Estado, às 7h45min e começa uma série de reuniões.

> Quer receber notícias por WhatsApp? Inscreva-se aqui

Pelos horários fixos dá para perceber que Mário Lanznaster é metódico. Até o tempo para lazer é regrado, como no jogo de cartas, nas quartas-feiras, das 18h às 22h.

Continua depois da publicidade

Apesar de comandar uma das maiores agroindústrias do Brasil, Lanznaster é muito simples. No dia a dia, prefere camisa e calça jeans à terno e gravata. Não é de muito rodeio nas conversas. Embora atencioso, é objetivo. Gosta de almoçar em casa e nas segundas, quartas e sextas-feiras tem o horário da refeição agendado com um dos quatro filhos, Fabiano. Além de usar o tempo para também curtir a presença da nora e da neta, Manoela, Lanznaster aproveita a oportunidade para conversar sobre negócios.

– Durante o almoço, a gente encaminha os assuntos da granja – afirma.

A mente de Lanznaster parece estar sempre em movimento com algo relacionado ao agronegócio. A granja Master é uma propriedade de 120 hectares localizada no interior de Chapecó onde ele também cria um plantel de 14 mil suínos. Além de atuar na industrialização e comercialização de carnes suínas, a maior cooperativa produtora de alimentos do Brasil, Aurora Alimentos, trabalha com aves, lácteos, massas, vegetais e suplementos para nutrição animal.

> Em site especial, saiba tudo sobre as Eleições 2020 em SC

Ligação com criação de suínos vem desde a infância

A suinocultura está na formação do líder agroindustrial. Ainda criança, aprendeu a criar porcos com o pai, Virgínio Lanznaster, em Vitor Meirelles, no Vale do Itajaí. A base educacional foi passada nos sete anos em que foi seminarista em Salete e Brusque.

– No seminário em Azambuja aprendi datilografia, este era meu ponto forte.

A habilidade foi fundamental para o empresário conquistar os primeiros empregos e bancar os estudos em Agronomia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, de 1964 a 1967. Lanznaster viu que não queria seguir o caminho na carreira religiosa.

Continua depois da publicidade

O catarinense natural de Presidente Getúlio (atual Dona Emma) se formou tenente no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, onde ficou durante três anos. Após formado fez concurso para a Acaresc (antiga Epagri) e foi trabalhar em Modelo, cidade localizada no Oeste. Lá, lembra de ter tido recepção calorosa:

– Fui recebido pelo prefeito e teve até uma galinhada, pois era o primeiro engenheiro agrônomo da cidade.

Lanznaster identificou os líderes das comunidades e depois passou a ministrar cursos. O agrônomo elaborou projetos de financiamento das propriedades para a criação de suínos. Além disso, incentivou os produtores a substituírem animais comuns – que levavam oito a nove meses para atingirem 90 a 100 quilos – por raças como Duroc, Landrace e Large White, que ficavam prontos para abate em cinco meses.

Também em Modelo, Lanznaster fez lavouras demonstrativas com o plantio em linha de milho, que era mais produtivo que o sistema antigo de plantio em covas. Lembra que as primeiras variedades de milho híbrido encontraram resistência de alguns moradores e lideranças religiosas.

Continua depois da publicidade

– Falavam que era coisa para beneficiar os Estados Unidos – diz.

Foi em Modelo que Lanznaster conheceu a esposa, Edirce Frandoloso. Quando foi promovido para assumir o escritório da Acaresc, em Chapecó, tinha de viajar três horas até Modelo (atualmente leva uma hora) e atravessar o Rio Chapecó de balsa para ver a amada.

– Aí dei um ultimato: ou nós casávamos ou terminávamos – afirma.

Edirce optou pelo casamento.

Em 1974, um anos após ter sido fundada a Coopercentral Aurora, Lanznaster foi convidado para iniciar a integração de suínos na cooperativa. Acabou sendo diretor industrial de 1980 a 1987 – ano em que foi convidado por Aury Bodanese, presidente da Aurora e da Cooperativa Regional Alfa, para sucedê-lo na Alfa.

Como a sucessão não se concretizava, o engenheiro agrônomo montou um frigorífico próprio, a Maiale. Ele já tinha comunicado que iria se afastar da cooperativa, mas na véspera de entrar de férias, Aury Bodanese teve um derrame que limitou sua atuação, o que fez com que ele voltasse atrás na decisão.

Lanznaster se tornou presidente da Cooperalfa e voltou para a Aurora em 2002, como um dos vice-presidentes. Bodanese morreu em 2003 e, em 2007, Lanznaster tornou-se presidente da Aurora, onde está em segundo mandato, que termina em 2015. Desde o seu retorno, a empresa passou de R$ 1,8 bilhão de faturamento, em 2002, para R$ 6,6 bilhões em 2014.

Continua depois da publicidade

Granja é o refúgio do agrônomo nas horas vagas

Mário Lanznaster prefere descansar no interior de Chapecó
Mário Lanznaster prefere descansar no interior de Chapecó (Foto: Sirli Freitas)

Lanznaster não é muito de ir praia, viajar ou participar de festas. Já fez mais de vinte viagens ao exterior, mas sempre relacionada a algum aprendizado, não apenas para turismo. Viaja com frequência aos grandes centros brasileiros, mas a negócios. Acha Florianópolis muito bonita, mas só costuma visitar a Capital para participar de eventos, como reuniões de cooperativas ou da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc).

Seu local preferido para descansar é a granja que tem há cerca de 40 anos, no interior de Chapecó. É para lá que vai nos finais de semana e ,durante o verão, em alguns dias após o expediente na Aurora. No local, ele se reúne com a esposa e os quatro filhos, Fabiano, Fernando, Márcia e Juliana. Às vezes, se dá ao luxo de um refrescante banho de piscina.

Além de gostar de assar churrasco, Lanznaster tem uma horta onde cultiva alface, rúcula, salsinha, alho e pepino. Enquanto ara a terra, ele ouve os jogos da Chapecoense, que é patrocinada pela Aurora. O agrônomo gosta de brincar com os 60 cães que mantém na propriedade – mais do que pets, eles têm a missão de fiscalizar as pocilgas e o frigorífico.

Ver o milho crescer viçoso é uma das coisas que alegra o catarinense. Ele também gosta de contemplar a criação de suínos e mostra ainda ter vitalidade para subir encostas, pular os cercados entre uma pocilga e outra e catar um leitão para fazer uma foto.

Continua depois da publicidade

Lanzaster demonstra encantamento em ver funcionando o sistema de geração de gás a partir dos dejetos dos suínos, que respondem por cerca de 80% do consumo de energia da propriedade. Fica feliz em ver os filhos tocando a granja, inclusive com um frigorífico familiar.

Produzir, fazer a região crescer está na alma de Lanznaster. E é um legado que irá deixar para toda uma região.

O que eu vivo em SC

(Foto: Jessé Giotti)

Mário Lanznaster viaja com frequência a Itá para fazer reuniões e aproveita esses encontros para ter momentos de lazer. Ele afirma que, além da beleza do lago, a cidade oferece várias opções de lazer, como passeios de barco, de lancha, tirolesa e parque zoobotânico. Tem também um complexo de águas termais com piscinas aquecidas e tobogãs. Há alguns hotéis que oferecem boa estrutura para convenções. A cidade de Itá foi totalmente reconstruída para a implantação da Usina Hidrelética Itá, inaugurada em 2000.

Barragem da Pequena Central Hidrelétrica, situada no Rio das Antas, em Flor do Sertão
Barragem da Pequena Central Hidrelétrica, situada no Rio das Antas, em Flor do Sertão (Foto: Raquel Heidrich)

Outro lugar que o engenheiro considera muito bonito e indica para visita é a barragem da Pequena Central Hidrelétrica, situada no Rio das Antas, em Flor do Sertão. A PCH é um investimento de cooperativas, entre elas a Aurora.

Continua depois da publicidade