Após 20 anos de tradição, a Festa da Solidariedade não vai ocorrer neste ano em Joinville por falta de recursos. O cancelamento foi informado oficialmente na manhã desta segunda-feira por meio de um comunicado da Associação Joinvilense de Organizações Sociais (Ajos), responsável pelo evento.

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No fim do semana, o colunista Jefferson Saavedra havia antecipado a informação.

Até 2012, conforme a presidente da Ajos, Amanda Pickler, a maior parte da festa era bancada pelo governo do Estado, que repassava R$ 150 mil anualmente para o evento. O restante era obtido junto à iniciativa privada.

Para conseguir o recurso, Amanda explica que todos os anos a associação inscrevia o projeto do evento em um edital da Fundação de Turismo. No entanto, no ano passado, mudanças nas regras do concurso fizeram com que o projeto fosse recusado, já que a festa é de cunho social e não turístico.

O que evitou o cancelamento da festa no ano passado, de acordo com a presidente da Ajos, foi a colaboração de um patrocinador, que bancou os R$ 150 mil esperados do governo.

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Para tentar reverter a situação, no início de março deste ano, a direção da Ajos se reuniu com o prefeito Udo Döhler, o deputado Darci de Matos e representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social e da Promotur.

– Fiquei esperançosa depois da reunião com o município porque o prefeito Udo reconheceu que não poderíamos deixar escapar um repasse da ordem de R$ 150 mil e se comprometeu, junto ao deputado Darci, a viabilizar esse recurso com o governo do Estado. Mas isso não aconteceu – lamenta a presidente da Ajos, que também reconhece que a associação demorou para se mobilizar em busca de recursos.

– Talvez a gente tenha se atrasado um pouco sim. Assumi a Ajos em janeiro Até tomar conhecimento de como estavam as entidades leva um tempo. E no início do ano não se consegue nada.

Entidade planejava enxugar os gastos para viabilizar festa

Para tentar manter a festa, a Ajos enxugou o orçamento. Em vez de o valor gasto no ano passado – R$ 292,2 mil, viabilizados pelo setor privado -, a Ajos reduziu a estimativa de custos para R$ 180 mil.

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– Para conseguir reduzir os gastos, estávamos pensando em fazer uma festa bem diferente, com atrações locais – conta a presidente da Ajos, Amanda Pickler.

Caso a verba do Estado estivesse garantida, a associação correria atrás apenas do restante junto a empresas parceiras, mas, sem o montante principal, a festa se tornou inviável, segundo a presidente da Ajos.

– Infelizmente, não temos como fazer a festa. Muitas das entidades que compõem a Ajos passam por dificuldade financeira e não têm condições de investir cerca de R$ 4 mil para lucrar em torno de R$ 3 mil cada uma – avalia Amanda, que não soube dizer se alguma das entidades corre o risco de fechar por falta do dinheiro da festa.

No ano passado, o evento gerou um lucro de R$ 245.146,06 divididos igualmente entre as 32 entidades participantes.

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Rifa está mantida

Como não será possível realizar a festa neste ano, a Ajos pretende, ao menos, conseguir um carro para poder manter a rifa. A ação garantiu sozinha R$ 120 mil dos cerca de R$ 245 mil arrecadados no ano passado com a festa.

– Queremos fazer a rifa, mas vai demorar um pouco porque ainda nem temos o carro. Depois de conseguirmos um, ainda precisamos resolver uma série de trâmites burocráticos. Imagino que só lá por outubro – informa a presidente da Ajos, Amanda Pickler.

O que dizem

GOVERNO DO ESTADO

O gerente de Turismo do Estado, Joel Gehlen, explica que a Festa da Solidariedade é iminentemente social, movimenta apenas os joinvilenses, um evento que não consegue atrair participantes de outras cidades da região, por isso não se encaixa no edital da Fundação de Turismo do Estado.

No entanto, Joel reconhece que a festa é um patrimônio da cidade. Ele acredita que se houver um esforço conjunto talvez seja possível transformar a Festa da Solidariedade em um evento cultural para, então, tentar viabilizar recursos junto à Fundação Cultural do Estado.

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PREFEITURA DE JOINVILLE

Conforme a assessoria de imprensa da Prefeitura, o Executivo tentou interceder junto ao governo do Estado, mas percebeu que não poderia intermediar nenhuma tratativa por se tratar de um compromisso entre o Estado e a Associação Joinvilense de de Obras Sociais (Ajos).

Confira a íntegra da carta:

A Associação Joinvilense de Organizações Sociais – AJOS vem a público comunicar o cancelamento da FESTA DA SOLIDARIEDADE, em 2014. A FESTA DA SOLIDARIEDADE, maior evento filantrópico do sul do País realizada por 20 (vinte) anos consecutivos, deixará de acontecer em 2014, por falta de apoio financeiro para a realização da mesma.

Durante os 20 anos de realização do evento, a AJOS teve a participação do Governo do Estado, do Município e também de alguns empresários, para garantir um evento de qualidade, onde as entidades associadas tiveram oportunidade de mostrar seu trabalho, como também, arrecadar recursos financeiros para a continuidade de um trabalho tão importante para a comunidade joinvilense.

É difícil, para nós da AJOS, tomar esta decisão, mas não temos como realizar a 21ª edição da Festa da Solidariedade, em 2014, sem o aporte de recursos públicos ou de outros patrocínios, tendo em vista as entidades associadas também estarem passando por dificuldades e sem condições de assumir o custo da mesma.

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Em público, agradecemos a todos que nos apoiaram durante esses anos e pedimos desculpas à comunidade que sempre prestigiou este evento porque sabia que o retorno financeiro voltaria em forma de prestação de serviço para todos aqueles que buscam amparo nas entidades sociais do município.

Em 2013, na 20ª edição da Festa da Solidariedade, entre rifa e vendas nos estandes, as 32 entidades participantes dividiram o lucro de R$ 245.146,06 (duzentos e quarenta e cinco mil, cento e quarenta e seis reais e seis centavos), todo ele destinado à execução dos trabalhos de cada uma delas.

Esses valores, com certeza irão fazer falta em 2014. Sabemos que todo o trabalho realizado pelas entidades sociais do município não são de nossa responsabilidade, enquanto meros cidadãos, mas é sim de responsabilidade do poder público garantir este atendimento que é um direito de cada cidadão ter atendidas as suas necessidades de saúde, educação, assistência social e outras.

Sabemos também, que, este trabalho que vem sendo realizado por um grande número de funcionários do Terceiro Setor e um número maior ainda de VOLUNTÁRIOS, que dedicam seu tempo, seu conhecimento e também parte de seus recursos para atender ao público que procura a cada uma das entidades sociais, se, por acaso, fosse realizado pelo poder público, teria um custo muito mais elevado.

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As entidades do município, algumas delas, até tem convênio com o poder público, mas os valores ficam sempre aquém da necessidade. Temos recebido sempre muitos elogios, muitos parabéns pelo trabalho realizado pela AJOS, pelas entidades e também muitos depoimentos da importância de todo este trabalho.

Precisamos lembrar que elogios e parabéns fazem bem, aquecem nosso ego, mas NÃO PAGAM AS CONTAS. Outros dizem ainda: este é um ano político e vocês vão receber muito dinheiro. É exatamente o contrário. O que ouvimos é que por ser um ano político as entidades não podem receber dinheiro, a não ser aquele já contratado em ano anterior.

Outro pensamento que nos ocorre e que devemos mostrar é o fato de que todas as entidades sociais do município, organizações não governamentais, organizações da sociedade civil, foram fundadas em algum momento pela sociedade civil para suprir uma real necessidade.

Onde está esta sociedade civil?

Onde estão as pessoas que até certo tempo auxiliavam para que este

trabalho pudesse ser realizado?

Ainda encontramos algumas almas bondosas que apóiam este trabalho, mas, no geral, temos sempre muitas respostas negativas e desculpas bem preparadas.

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Este trabalho não é mais importante?

A sociedade não quer mais que continuemos com este trabalho? Quantos filhos, pais, irmãos, filhos de empregados das empresas do município, filhos dos funcionários públicos, crianças que não encontram vaga nos CEIS públicos e procuram os do Terceiro Setor, onde encontram um bom atendimento, um bom cuidado para que os pais possam trabalhar e não precisem faltar a seus compromissos.

Todos estes encontraram atendimento nas entidades sociais, conhecidas como do terceiro Setor. Podem imaginar o que aconteceria com todo este público, se numa

eventualidade, as entidades sociais parassem com suas atividades? Para onde iria este público no dia seguinte? Como é que seus familiares poderiam continuar com seus compromissos de trabalho, por exemplo? Como devemos continuar?

Alguém nos ajude. Ensinem-nos como trabalhar e fazer tudo o que fazemos sem dinheiro. Só não digam: RECUROS PARA O TERCEIRO SETOR TEM

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BASTANTE, MAS FALTAM PROJETOS. Isso não é verdade só que, para explicar isto seria mais duas páginas e fica para outro momento.

Terminando, em nome da AJOS, pedimos desculpas para todas as entidades associadas, seus dirigentes, para todos os seus funcionários e principalmente para todos os voluntários que sempre dedicaram tanto trabalho para a realização da FESTA DA SOLIDARIEDADE durante seus 20 anos de sua realização.

Amanda Pickler,

Presidente da Ajos”