Carlos Pastoriza, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), mostra muita preocupação com o ambiente de negócios. Aponta problemas diversos. Entre eles, o da desindustrialização econômica.
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O líder empresarial pede um estadista no poder para promover reformas. Ao mesmo tempo, reconhece que é essencial uma revolução dentro das empresas, se quisermos competir com Estados Unidos, Alemanha e China. Pastoriza concedeu entrevista a Livre Mercado. Confira, a seguir, os principais trechos.
Desindustrialização
– O cenário macroeconômico é de desindustrialização galopante. A nossa indústria de transformação está certamente na UTI. Este processo tem se agravado de maneira preocupante.
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Mascaramento
– A desindustrialização tem duplo efeito de mascaramento da realidade. Primeiro porque o Brasil tem taxa de desemprego muito baixa (menor que 6%) e, então, há a sensação falsa de que não há problemas graves. O segundo fato é que as empresas estão, silenciosamente, se tornando maquiladoras. E, passo seguinte, passam a somente ser distribuidoras de produtos fabricados em outros países. Nem o IBGE capta este fenômeno.
Exemplos
– Diferentes companhias fabricantes de ventiladores, tecidos e móveis já sofrem com isso. Muita coisa é produzida na China e em demais países asiáticos. Aqui, só colocam a marca. Você sabe onde estão sendo criados os empregos? Em estruturas de call centers, que empregam milhares de pessoas, é verdade. No entanto, pagam salário mínimo e têm valor agregado muito pequeno. Isso também ocorre com caixas de supermercados. São só dois exemplos.
Indicadores
– O dólar está fora do lugar. Os juros são pornograficamente elevados, falta infraestrutura. No passado, isso tudo era suportável. Em 1990, Collor abriu o mercado. Na sequência, a China foi aceita como país em regime de mercado, sobreveio a supervalorização do dólar. E chegamos onde estamos. Nos custos da indústria de transformação, a cadeia produtiva é longa. E o custo Brasil incide em cada fase, o que significa efeito cascata destes custos, desde a primeira etapa até o fim. E há, naturalmente, repercussão no preço final ao consumidor.
Novo rumo
– O Brasil está numa encruzilhada. O próximo governo precisa encontrar um rumo. Se isto não for feito, voltaremos ao Brasil colônia. A lembrar que o PIB cresce bem perto de zero por cento neste ano. Outro elemento a ser considerado é o nosso perfil exportador. O Brasil exporta, basicamente, commodities. Este setor é concentrador de renda. Estamos desidratando as indústrias.
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Estadista
– Os governos são sempre deficitários. Precisam se financiar no exterior. A consequência é o juro alto e câmbio desarranjado. Para romper com isso, o próximo presidente teria de ser um estadista. A mãe de todas as reformas é a política. Entre vários pontos, destaco um: é importante aumentar a cláusula de barreira para que partidos políticos possam ser constituídos e funcionar.
Matriz tecnológica
– Estamos perdendo matriz tecnológica. Desenvolvimento e pesquisa são feitos por aqueles grupos mais fortes. Estão sobrando as multinacionais, que podem produzir em qualquer lugar do mundo. Esta realidade tem outro efeito negativo: a cadeia de suprimentos encolhe.
Reformas
– Temos um motivo para ter esperança. As reformas institucionais têm de ser feitas. Se não forem, teremos uma crise econômica e política no médio prazo. A reforma política exige mudanças no sistema atual, que é ingovernável.
Expectativas
– A chance de o Brasil evoluir passa, claramente, por uma reversão de expectativas. É isto o que move a engrenagem, tanto de investimentos quanto de negócios. É, sim, possível superar os desafios presentes. É preciso agir.
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Para dentro
– Além de o governo viabilizar a competitividade, é fundamental se fazer uma revolução para dentro das empresas. Explico: as empresas estão com parques fabris desatualizados, com máquinário com idade média de 17 anos. Nos Estados Unidos, ela é de dez anos.