O presidente chinês Xi Jinping chegou nesta sexta-feira a Cingapura em uma visita de estado ofuscada pelo encontro histórico que manterá com seu colega taiwanês Ma Yong-jeou no sábado, um fato inédito desde que China e Taiwan se separaram há 66 anos.
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Xi e sua esposa Peng Liyuan foram recebidos com honras militares e depois compareceram a um banquete na residência oficial do presidente de Cingapura.
Ma Ying-jeou e Xi se reunirão no sábado, a primeira vez que os dirigentes dos dois regimes antagonistas têm um encontro desde o final da guerra civil e fundação da República Popular da China em 1949, quando os nacionalistas do Kuomintang (KMT) se refugiaram em Taiwan.
Segundo afirmou Ying-jeou na véspera, o encontro histórico é um primeiro passo para a normalização das relações entre os dois países.
O encontro terá como tema a política de aproximação gradual iniciada há sete anos – com a chegada ao poder de Ma -, que resultou na criação de voos diretos, acordos comerciais e em um “boom” turístico.
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Uma parte da opinião pública taiwanesa, no entanto, recebeu com frieza a notícia da reunião, pois consideram uma tentativa de melhorar a imagem da China e de favorecer o governante KMT na eleição presidencial de janeiro, que Ma Ying-jeou não poderá disputar.
“Esta reunião busca o bem-estar das gerações futuras, não as eleições”, se defendeu o presidente taiwanês durante um discurso à nação.
“É meu dever construir pontes entre os dois lados e com o objetivo de que o próximo presidente possa atravessar o rio”, completou.
As relações entre China e Taiwan eram caracterizadas pela desconfiança mútua desde a proclamação em 1949 da República Popular da China por Mao Tsé-Tung.
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A chegada ao poder em 2008 do presidente Ma representou uma melhora nas relações bilaterais entre os dois países.
A agência de notícias oficial chinesa Xinhua apresentou o encontro como uma etapa histórica nas relações entre as partes.
“Nos últimos sete anos, as duas partes reforçaram a confiança mútua e abriram o caminho para um desenvolvimento pacífico”, disse o diretor do Escritório de Assuntos Taiwaneses da China, Hang Zhijun.
Vários analistas consideram que a reunião é uma tentativa chinesa de apoiar o Kuomitang, o partido que governa Taiwan, antes das eleições presidenciais de janeiro de 2016.
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O governo dos Estados Unidos saudou com cautela a notícia do encontro e espera observar os resultados.
“Certamente damos as boas-vindas aos passos dados pelos dois lados do estreito de Taiwan para tentar reduzir as tensões e melhorar as relações” bilaterais, disse o porta-voz do Executivo americano, Josh Earnest.
Taipé e Pequim assinaram em junho de 2010 um acordo marco de cooperação econômica.
Muitos taiwaneses, no entanto, desconfiam do acordo, pois temem que a indústria e a agricultura locais sejam dominadas pelo peso gigante da economia chinesa.
A opinião pública em Taiwan se tornou de fato hostil a relações mais estreitas com a China por temer, de maneira geral, uma influência crescente sobre a ilha.
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No campo diplomático, as relações entre as partes continuam marcadas pela desconfiança mútua, apesar do diálogo iniciado em 2014, pela primeira vez desde 1949, quando Mao Tsé-Tung proclamou a República Popular da China.
Refugiados na ilha de Taiwan, os nacionalistas do Kuomintang liderados por Chang Kai-shek (1887-1975) criaram suas próprias estruturas políticas e proibiram qualquer relação com a China comunista.
Como demonstração das relações ainda difíceis, Pequim rejeitou recentemente a candidatura de Taiwan ao novo Banco Asiático de Investimentos, ao indicar que este território, cujo nome oficial é República da China, poderia apresentar uma nova candidatura, mas “sob um nome apropriado”.
Além disso, o presidente chinês afirmou em maio que para Pequim existem uma “única China” e “compatriotas taiwaneses”.
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O presidente taiwanês havia proposto antes uma reunião com o colega chinês durante um encontro da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), organizado por Pequim em novembro de 2014, mas a China rejeitou a proposta.
Ma Ying-jeou deixará o cargo no próximo ano, ao fim de dois mandatos, o máximo autorizado pela Constituição taiwanesa.
A candidata do principal partido de oposição, o Partido Progressista Democrático, Tsai Ing-wen, favorável à manutenção do status quo com Pequim, é a grande favorita para suceder Ma nas eleições de janeiro.
* AFP