Num país com histórico de pouca valorização da memória, iniciativas que contribuam com a preservação histórica merecem destaque e devem servir de referência e estímulo para que as experiências sejam replicadas cada vez com mais frequência. Apesar de entraves burocráticos pontuais, da escassa mão de obra especializada em todo o país e da teimosa resistência e desconfiança que ainda persistem entre parcela dos empreendedores, Santa Catarina vem mostrando que é possível sim conciliar desenvolvimento e modernidade com a manutenção de um patrimônio arquitetônico que, além de belíssimo, ajuda a reconstituir episódios e períodos importantes do Estado.

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O projeto de restauração da antiga residência do ex-governador Hercílio Luz, em Florianópolis, é um dos exemplos de como a união entre poder público e iniciativa privada pode reverter em benefícios para a coletividade. O casarão de 380 metros quadrados situada na região central da cidade será totalmente restaurada e transformada em memorial em homenagem ao político que comandou o Estado na década de 20, em harmonia com o projeto imobiliário privado planejado para o terreno do entorno. É uma prova que dois interesses aparentemente conflitantes podem ser complementares e, mais do que isso, agregarem valor entre si.

O Estado tem outros exemplos positivos de preservação histórica que servem de inspiração, como o trabalho de conservação da Estação Ferroviária de Joinville, construída em 1906; e o prédio centenário adquirido pela Furb em 2003 que vai se tornar o Espaço Cultural Casa Salinger, em Blumenau, um dos 115 bens do patrimônio cultural tombados no município do Vale do Itajaí.

O desafio catarinense é reforçar e disseminar a consciência de que os incipientes orçamentos canalizados a esses projetos de preservação do patrimônio cultural têm uma função imensamente maior do que a revitalização simplesmente estética de casarios e de monumentos: envolvem interesse público pelos valores arquitetônicos, etnográficos, bibliográficos ou artísticos envolvidos. É perfeitamente factível que o desenvolvimento seja aliado da preservação. Todos ganham com isso, a atual e as próximas gerações.

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