Ele conquistou o prêmio Nobel de Medicina em 1998 graças a um estudo ligando o óxido nítrico à ocorrência de problemas cardiovasculares. Como esta molécula está indiretamente envolvida na ação de uma certa pílula azul que revolucionou a medicina e a cultura, é chamado muitas vezes de ‘O Pai do Viagra’. O farmacologista americano – nascido na Itália – Doutor Louis J. Ignarro esteve em Florianópolis e abriu com sua palestra o I Congresso Internacional Biolab, que aconteceu no Costão do Santinho entre os dias 5 e 7 de abril.

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Atualmente ele é professor do Departamento de Farmacologia Medicinal e Molecular na Universidade da Califórnia em Los Angeles, onde trabalha desde 1985. Obteve seu Ph.D. em Medicina pela Universidade de Minnesota em 1966. Sua contribuição se mostrou essencial ao avanço dos tratamentos cardiovasculares, ao demonstrar que o óxido nítrico atua na hipertensão, age como vasodilatador e é um dos responsáveis pelo mecanismo de ereção. Não por acaso, o Viagra foi lançado comercialmente em março de 1998, e o anúncio de sua conquista do Nobel aconteceu em outubro do mesmo ano.

Em conversa com o Diário Catarinense, Louis Ignarro destacou que um corpo são, de uma pessoa que tem um estilo de vida saudável, não terá que recorrer a remédios para controlar a saúde cardíaca. Uma dieta saudável e exercícios aeróbicos elevam a produção de óxido nítrico. Já uma alimentação com excesso de sal e gordura e o sedentarismo baixam a produção, mesmo nos não obesos. Ele falou ainda da sensação de estar pela primeira vez em Florianópolis. Veja na entrevista a seguir.

DC: O senhor ganhou um prêmio Nobel, uma grande conquista. Foi uma surpresa?

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Ignarro: Sim e não. Devido ao trabalho que eu vinha desenvolvendo, meus colegas diziam que o material era digno de prêmio Nobel. Mas era difícil pensar sobre isso, porque realmente afeta a sua vida, e como eu trabalho em um laboratório eu mantenho um perfil bem discreto. Mas quando foi anunciado foi sim uma grande surpresa. Eu estava feliz e ao mesmo tempo aliviado que isso tinha acabado, e ninguém mais iria me perguntar quando eu ganharia o prêmio Nobel.

DC: Esse feito ocorreu há 15 anos. A indústria de medicamentos evoluiu muito durante esse período?

Ignarro: Todo o campo médico se desenvolveu tremendamente. O primeiro medicamento criado com base na minha pesquisa foi o Viagra, e muitos outros foram feitos desde então. Mas é uma tarefa imensa elaborar remédios que estimulem a produção de óxido nítrico. Eles servem para tratar condições cardíacas e vasculares mas também para outras doenças como Alzheimer. É um processo particularmente longo pois o óxido nítrico não é uma molécula simples. É um gás, muito instável, o que torna muito difícil desenvolver tecnologia nova para seu uso. Outro aspecto é que houve um grande salto na compreensão de como outros medicamentos funcionam. Felizmente a evolução tem sido contínua.

DC: Os problemas cardiovasculares são um problema imenso atualmente em nossa sociedade. Por que isso ocorre?

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Ignarro: É muito simples. 90% das doenças cardiovasculares são passíveis de prevenção, e ocorrem devido a uma escolha errada do estilo de vida, com uma dieta pobre em nutrientes e falta de atividade física. Apenas 10% dos problemas de coração e circulação são genéticos, e portanto difíceis de serem evitados. E não são os remédios que vão ajudar, e sim a mudança no seu estilo de vida. Nós chegamos à compreensão fisiológica dessa questão, baseada em pesquisas em humanos. Se você comer com saúde, seu corpo produz mais óxido nítrico. Se você se exercitar mais, ele produz muito mais óxido nítrico. E no Brasil, assim como nos Estados Unidos, 70% da população está sofrendo de doença cardíaca. Mas se você olhar para os atletas, profissionais ou mesmo os que apenas mantêm uma rotina de treinos, esse número cai para 1%. É uma diferença abismal. Só que é muito difícil fazer com que as pessoas mudem seu modo de viver, e eu também não tenho essa resposta, talvez só Deus saiba.

DC: Hoje em dia parece que há uma pílula para cada problema. Ser humano pode ser considerado uma condição médica?

Ignarro: É verdade. O que acontece é que para muitas pessoas poderia mesmo ter um remédio para cada coisa. É muito difícil explicar para quem não tem uma compreensão mais científica que isso é simplesmente impossível. Nós não precisamos das pílulas. Mas nós as tomamos porque somos doentes, temos problemas cardiovasculares, temos pressão alta. Se prevenirmos tudo isso nós não precisaremos mais delas.

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DC: Você já esteve no Brasil antes? O que está achando da experiência?

Ignarro: Já estive aqui várias vezes, umas 10 mais ou menos. Já estive em algumas ocasiões em São Paulo, mas principalmente fui ao Rio de Janeiro. Mas aqui em Florianópolis é a primeira vez. E eu não imaginava que o Brasil pudesse ser tão bonito. Aqui é até mais agradável que o Rio pois é mais calmo. Eu adorei a comida, as pessoas. Eu sou italiano, e as pessoas daqui me lembram as de lá, são muito cordiais e alegres, gostam de comer e de beber. Posso dizer que estou amando.