Os dois filhos de Everton Rautenberg, de seis e oito anos, são a terceira geração da família a estudar na Escola Básica Municipal Margarida Freygang, na comunidade da Nova Rússia, no bairro Progresso, em Blumenau. Antes deles, o pai de Everton e ele próprio foram alfabetizados na mesma instituição, que em 2018 completa 80 anos. Completaria se estivesse viva. Isso porque no último dia 28 os pais dos alunos foram informados que a Secretaria de Educação pretende fechar a partir do ano que vem a unidade, que fica encravada entre o rio, o verde e as riquezas naturais da região.

Continua depois da publicidade

A Secretaria de Educação informa que a escola tem hoje 16 alunos, sete no pré-escolar 2 e 3 e outros nove entre o 1º e 4º ano do ensino fundamental. A secretária Patrícia Lueders argumenta que dois motivos levaram à decisão de fechamento. Um deles seria o desejo de ampliar o currículo dos alunos. Hoje a instituição só funciona pela manhã e os alunos estudam em uma turma multisseriada. Na escola municipal Pedro II, onde os estudantes serão matriculados, poderão ter benefícios extras como biblioteca, sala multifuncional, fanfarra, atividades no contraturno e turmas de acordo com a série que frequentam.

O segundo motivo para a decisão de fechar a escola a partir de 2018 é econômico. Hoje nove servidores – sete do município e dois terceirizados – atuam na escola que tem 16 alunos. Patrícia garante que por causa dessa estrutura e do baixo número de alunos o custo mensal de um aluno na Margarida Freygang seria de R$ 3.316,45, enquanto nas unidades com mais alunos da cidade é cinco vezes menor, de R$ 658,79.

– O trabalho na escola hoje é de excelência, porém as crianças precisam ter acesso a um currículo ampliado – sustenta.

Acontece que os pais não ficaram muito contentes com a notícia do fechamento. O principal motivo é o trajeto de sete quilômetros que as crianças precisariam fazer. O município promete disponibilizar transporte gratuito, mas as estradas sinuosas da Nova Rússia e o risco de deslizamentos em dias de chuva deixam pais como Everton com medo. O fato de a decisão, segundo eles, não ter sido discutida com os pais também incomoda. Além disso, a história da escola, que foi construída em um terreno doado por um morador e conta com ajuda da população para manutenção, também torna a escola mais valiosa para a comunidade.

Continua depois da publicidade

– Aqui eles têm sala de informática, horta, espaço para esportes, um bom ambiente e sem precisar percorrer de ônibus todo dia esse trecho que é muito perigoso, principalmente quando chove – defende o presidente da Associação de Pais e Professores (APP) da Margarida Freygang, Emerson Rautenberg, irmão de Everton e que também tem dois filhos na instituição.

A escola funciona em um imóvel antigo de madeira. A prefeitura diz que a decisão é definitiva, mas os pais ainda pretendem reverter a decisão. Para isso, tentam marcar uma reunião para o final de setembro e defendem uma reforma da escola, quer seria custeada com doações de entidades, e, depois disso, que a escola passe a oferecer também os anos finais do ensino fundamental, do 5º ao 8º ano. Assim, segundo Emerson, o número de alunos já chegaria perto de 40 considerando as crianças da localidade desta faixa etária, o que na visão dele poderia viabilizar a manutenção da escola.

Secretaria descarta novos fechamentos

Nas outras nove escolas em que ainda há turmas multisseriadas nada deve mudar no próximo ano. A razão é que cada unidade atende pelo menos 40 alunos, o que equilibraria melhor o custo por aluno. A Margarida Freygang é a única escola com fechamento previsto pela Secretaria de Educação. No início do ano, deslizamentos de terra durante uma chuva forte comprometeram os prédios da Escola do Campo Orestes Guimarães e o CEI Ricardo Manske, na Velha Grande. Nesses casos as unidades precisaram ser fechadas apesar de não estarem no planejamento da secretaria. Os alunos da escola foram transferidos para a Conselheiro Mafra e os da creche passaram a estudar no CEI Arão Rebello, ambos no Caic da Velha, a uma distância de três quilômetros.

Futuro do imóvel é incerto

Ainda não está decidido o que irá acontecer com o imóvel de madeira que abrigará os estudantes até dezembro, mas ao menos três secretarias já teriam demonstrado interesse. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Blumenau (Sintraseb), Sueli Adriano, lamenta o fechamento da escola, mas lembra que essa decisão já era ventilada em outras gestões e aponta que, no caso da Nova Rússia, alguns pais que têm filhos mais velhos estudando em escolas do Progresso já teriam matriculado os menores nessas mesmas instituições, o que deixou o número de alunos na Margarida Freygang bastante reduzido. No entanto, ela defende ao menos um aproveitamento do espaço para outros alunos.

Continua depois da publicidade

– A gente lamenta, mas a comunidade muitas vezes não quis se movimentar. Caso seja fechada mesmo, aquele espaço poderia ser ao menos um polo de visita para garantir que as crianças convivam com essa natureza e com o interior do município – sugere.