Até na morte há um pouco de vida. No Cemitério dos Imigrantes, escondido no Centro de Pomerode, as flores começam a aparecer. Com o corte do mato e das árvores que cresciam quebrando túmulos, as pessoas estão retornando ao lugar de descanso dos primeiros mortos da cidade. Algumas levaram flores de plástico e as espalharam de laje em laje. Além das plantas artificiais, há três pares de lírios abertos. São laranja-avermelhados a combinar com os tijolos expostos de 30 lápides que tombaram após sete décadas de abandono. Cerca de outros 80 túmulos resistem de pé à ação do tempo, mas com cruzes do topo espalhadas pelo chão.
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Sem o matagal alto para camuflar o esquecimento, a crueldade do descaso fica evidente. E tão dispendiosa que a decisão da prefeitura é tentar minimizar os estragos, sem reconstruir estruturas.
– Não compete a nós este trabalho de restauro, uma vez que não temos foto de como era o cemitério no início. Custaria caro e deixaria de ser original – explica o gerente do Patrimônio Histórico, Ricardo Bürgel.
Ele detalha que não há verba específica para cuidar do cemitério, mas que há planos de construir um memorial na área vazia do terreno de 2.219 m². Por enquanto, a providência do setor de Patrimônio de Pomerode foi a limpeza do campo-santo, que custou cerca de R$ 7 mil. A segunda etapa será a reabertura do acesso original do Cemitério dos Imigrantes pela Rua Arthur Buerger, interrompido por um portão. Em seguida, a previsão é de que a área receba iluminação e ajardinamento até 2 de novembro, Dia de Finados.
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Professora de Arquitetura e Urbanismo da Furb, Giane Jansen desenvolve o projeto do memorial. Ela explica que a intenção é construir um espaço de linhas simples, que abrigue cruzes e lápides que não resistiram ao tempo.
– Em cemitérios europeus, deixam-se as ruínas e faz-se o memorial em homenagem às pessoas enterradas. Como se trata de área fúnebre, não se faz intervenções que chamem atenção à questão arquitetônica – argumenta.
A esperança de Bürgel é que a partir da conclusão do projeto – que é voluntário e, por isso, não tem data para ser finalizado – se possa buscar recursos de fontes federais. Enquanto isso, restam somente os lírios ao cemitério centenário.
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