O último capítulo de uma ação civil pública movida em 2008 pelo Ibama contra a Prefeitura de São Francisco do Sul está provocando polêmica ambiental nas praias de Ubatuba e de Itaguaçu, duas das mais movimentadas da ilha. A ação que pedia à Prefeitura que impedisse a alteração, por parte dos moradores, da restinga entre o mar e as avenidas Buenos Aires e Trípoli, que ficam à beira-mar nas duas praias, começou a ser executada. Placas de orientação já foram fixadas no local, alertando para as mudanças.

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Há alguns anos, moradores começaram uma espécie de paisagismo voluntário nas calçadas que ficam do lado da praia. Em certos trechos, foram plantados sombreiros e palmeiras; em outros, a areia deu lugar a um gramado com pedras separando as áreas e os bancos de madeira e de concreto espalhados ao longo dos 3,5 quilômetros de orla. O Ibama moveu a ação porque parte da vegetação – basicamente restinga – estava dando lugar a jardins particulares.

– A imobilização das dunas pela impermeabilização do solo e a presença de muros e calçadas alteram a dinâmica natural desses ecossistemas a ponto de as marés erodirem a praia, podendo ocasionar a perda dela devido à quantidade de areia ser insuficiente para a formação da bancada – dizia a ação.

Numa primeira análise, o juiz federal Roberto Fernandes Júnior indeferiu o pedido do Ibama e considerou que o órgão federal tinha instrumentos de fiscalização para proteger o meio ambiente nas praias, podendo aplicar multas e embargar as atividades, sem a necessidade de uma ação judicial para isso.

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Mas a decisão foi revista em 2012, em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre. Os juízes consideraram que a Prefeitura deveria, sim, zelar pelo patrimônio ambiental das praias, impedir agressões e retirar todas as intervenções dos moradores.

Só que, com o passar do tempo, a restinga voltou a fazer parte da maioria das áreas. As palmeiras e os sombreiros cresceram, e o ajardinamento praticamente deixou de existir. Restaram os bancos instalados pelos moradores, as árvores e os marcos de pedra que separam as áreas. As dunas estão praticamente cobertas pela vegetação nativa de restinga.

Nos últimos dias, depois de extintos todos os prazos de recursos, a Prefeitura iniciou o cumprimento da decisão da Justiça Federal. Alguns acessos à praia foram fechados com cercas de madeira, placas foram instaladas e uma das palmeiras foi derrubada. A ação gerou um novo protesto dos moradores, que não entenderam o motivo da alteração e, principalmente, o fato de não haver critérios do que retirar e o que deixar na orla.

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Moradores pedem maior critério nas mudanças

Liderados pelo advogado Carlos Adauto Vieira, os moradores estão tentando mobilizar a Prefeitura, o Ministério Público Federal, a Justiça e o próprio Ibama para que a praia seja alterada com critério e com um projeto que considere o meio ambiente e algumas das melhorias feitas nos últimos anos.

– A gente quer que a praia fique cada vez mais bonita, com o meio ambiente preservado e sem riscos de a maré estragar tudo – reforça Adauto.

Os moradores temem que alterar as dunas, agora, provoque erosões e cause problemas em períodos de maré alta. Além disso, esperam novos encontros com a Prefeitura para definir uma solução técnica que preserve as áreas e não cause riscos.

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A família do pescador Rodrigo Geremias (foto) aproveitava um dos bancos no começo da tarde de ontem, na praia de Ubatuba. Enquanto Geremias ficava de olho no mar, à espera das primeiras tainhas, a mulher e a filha tomavam sol na área que é alvo da polêmica.

– Seria uma pena se tivesse que mudar tudo. Está bom assim. Se mexer nessa vegetação, a maré vai estragar tudo – diz Rodrigo.

Nas duas praias, há três núcleos de famílias de pescadores artesanais. Elas se revezam na beira da praia todos os dias nesta época do ano à espera das tainhas. Vale destacar que a maioria das casas construídas nas avenidas Trípoli e Buenos Aires é de veranistas que moram em Joinville ou Curitiba.

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CONTRAPONTO

A Prefeitura de São Francisco do Sul informou, por meio de nota, que está cumprindo a decisão como ela foi emitida pela Justiça Federal, que determinou a retirada de bancos, ajardinamentos, calçadões (que não existem mais), árvores exóticas (entre elas, os sombreiros) e quaisquer objetos que impeçam a recuperação da restinga nas orlas das praias de Itaguaçu e de Ubatuba. A retirada foi requerida pelo Ibama em fevereiro de 2012, sustentada pelo fundamento de preservar a área de restinga.

A decisão também determina que a Prefeitura, além de recuperar a restinga, fiscalize as áreas recuperadas. Em caso de descumprimento, há uma multa à Prefeitura que chega a R$ 5 mil por dia. A Prefeitura também alertou os moradores de que é possível a construção de passarelas, mas a estrutura deve obedecer a critérios previamente aprovados, cujo modelo está disponível na Secretaria Municipal de Infraestrutura, Urbanismo e Integração (Seinfra).