Eram 5h15 de quarta-feira quando Nelsi Schlei, 50, chegou ao posto de saúde do bairro Jaraguá 99. Na penumbra do pátio, pouco mais de dez pessoas já aguardam, silenciosas. São elas que avisam: não adianta esperar, não haverá mais vagas. Os moradores afirmam que a situação é corriqueira. As cerca de dez fichas para consultas médicas que são distribuídas três vezes por semana somem rapidamente. Quem chega às 7 horas da manhã, quando o posto abre, dificilmente conseguirá atendimento (a não ser em casos de emergência). Por isso, moradores antecipam o horário do despertador e chegam cada vez mais cedo para garantir a vaga. Neste dia, as primeiras da fila aguardavam desde às 3h30.

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O secretário de Saúde Ademar Possamai afirma que a Prefeitura irá mudar o sistema de atendimento nos postos, com o objetivo de acabar com as filas da madrugada. A partir de 1º de maio, os agendamentos serão feitos por telefone ou pessoalmente, porém para a próxima data com vagas para cunsultas. Quatro postos da cidade adotaram o sistema desde o ano passado e registraram a redução ou o desaparecimento das filas. Porém, o agendamento cria demora no atendimento e as consultas podem levar de dois a três meses para serem realizadas. Outras medidas também devem ser adotadas para criar mais eficiência e menos espera para a população.

Sistema

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Enquanto isso, porém, as madrugadas continuam movimentadas. As amigas Ivonete Hansen, Carmen Hansen Raasch e Selma Güitz foram ao posto de saúde às 4 horas em um dia e, mesmo assim, não conseguiram vaga. Na quarta-feira, chegaram às 3h30 no posto. Para moradores atendidos por outro posto da cidade, os relógios bateram ainda mais cedo. No Rio da Luz, as fichas são distribuídas apenas uma vez por semana, às quartas-feiras. Após duas tentativas frustradas, Dornaldo Dragl foi drástico e chegou ao posto às 2 horas. Logo companheiros de espera chegaram e às 6 horas a fila se estendia pela rua.

Para Possamai, ainda existem lacunas que necessitam ser preenchidas na saúde pública da cidade – como as filas da madrugada. Porém, ele alerta que também há dificuldade em fazer a população aderir de maneira ideal ao sistema municipal, compreendendo qual entidade buscar em que situação.

Mudança de sistema de trabalho das unidades

No dia 18 de março, uma reunião irá apresentar às equipes dos postos de saúde a nova forma de agendamento de consultas. Segundo a diretora da atenção básica da Prefeitura, Nadia Renate da Silva, a proposta é que a maior parte das vagas de consultas sejam para agendamento, que poderão ser feitos pessoalmente ou por telefone. Os postos devem deixar, porém, algumas vagas livres para casos excepcionais que surjam e necessitem de atendimento imediato. Caso não haja mais vagas de encaixe, o posto deve encaminhar o paciente para um pronto atendimento médico ambulatorial (Pama), cujas estruturas foram criadas justamente para pequenas emergências e pacientes encaminhados pelos postos de saúde (casos graves de acidentes ou ferimentos são encaminhados aos hospitais).

Por enquanto, cada posto escolhe os critérios para agendar as consultas, com distribuição de ficha diária, semanal ou mensal. Segundo Nadia, a proposta agora é criar um padrão que seja seguido por todos – as peculiaridades de cada bairro ainda serão levadas em consideração. Por isso, a mudança ainda pode sofrer ajustes e adaptações.

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Nadia conta que uma das preocupações das equipes é quanto ao não comparecimento nas consultas e procedimentos marcados. Segundo o secretário Possamai, no ano passado, foram 5.944 procedimentos não realizados com especialistas por causa de faltas e 23,4 mil em postos de saúde. O índice representa 8,5% dentre todos os procedimentos marcados na saúde municipal. Com o agendamento de longo prazo, há receio de que o número possa aumentar.

Entretanto, nos quatro postos que adotaram o sistema no ano passado (Vila Lenzi, Chico de Paula, Rio Molha e Nereu Ramos), as faltas não foram tão significativas – apesar de ainda não haver um levantamento formal. Nesses bairros, houve uma procura desenfreada por vagas assim que o sistema mudou, mas após alguns meses a situação se normalizou. Agora, os moradores marcam as consultas de rotina, mas precisam aguardar de dois a três meses para o encontro com o médico.