As marcas no chão deixam a recordação de que por ali já tiveram diversos equipamentos de ginástica e até bancos para as pessoas descansarem. O poste de luz está praticamente intacto, mas se observar bem é perceptível que foi violado e a fiação furtada. Esses são apenas dois dos muitos exemplos de vandalismo ou mau uso de equipamentos públicos em Blumenau. Na Praça Alberto Liesenberg, na Itoupava Central, restam apenas dois dos dez aparelhos destinados aos exercícios físicos dos moradores da região. À noite, no acesso da Via Expressa à BR-470, não existe iluminação há quase duas semanas.
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Mais do que o retrabalho de quem cuida dessas estruturas, é o dinheiro público que deixa de ser aplicado em outras áreas. Segundo a prefeitura, entre 10% e 20% do R$ 1,5 milhão gastos anualmente com manutenção de patrimônio são usados na recuperação do que não foi cuidado por alguns cidadãos ou tomado por criminosos. O secretário de Conservação e Manutenção Urbana da cidade, Marcelo Schrubbe, exemplifica:
– O balanço é para uma criança de até 30 quilos. Um adulto de 100 quilos senta ali e quebra. Não é vandalismo, é mau uso, mas tem que trocar. Aí, outra parte é de vandalismo puro e simples, como aconteceu na Vila Itoupava, no letreiro instalado há uma semana e que já foi quebrado.
Se considerar o percentual máximo destinado a estes reparos, cerca de R$ 300 mil, seria dinheiro suficiente, por exemplo, para manter, ao menos, 26 crianças na creche por um ano, com base em dados de 2017 da Secretaria Municipal de Educação. O valor não leva em consideração os prejuízos gerados em unidades de ensino e saúde. É que nesses locais, a manutenção é feita com recursos das próprias secretarias responsáveis.
Para recuperar a fiação que garante segurança aos motoristas que trafegam pela região Norte de Blumenau, serão necessários, aproximadamente, R$ 66 mil. Schrubbe diz que não há previsão de quando o serviço deve ser feito. A expectativa é que seja ainda este mês, mas afirma que é preciso ver se haverá dinheiro suficiente. Desta vez, o plano é concretar a caixa de inspeção e dificultar a ação de vândalos. Isso vai tornar mais cara a própria manutenção, já que terá que ser quebrado o material toda vez que os servidores precisarem acessar a fiação.
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Na praça serão necessários mais R$ 118 mil. É dinheiro que a prefeitura não tem nos cofres. O município vai tentar conseguir com o governo federal e assim instalar novos equipamentos de ginástica, recuperar a quadra de esportes e a pista de caminhada. Enquanto a reforma não vem, Gilmar Thiem, 52 anos, fica na recordação da praça que ele viu ser entregue. Como restaram poucos aparelhos destinados aos adultos, o espaço agora serve para ele brincar com a neta.
A menina de três anos se diverte no parque infantil, mas um dia quando chegou não encontrou mais o gira-gira. O avô pensou que o brinquedo tinha ido para reforma. Só que o equipamento não voltou. Agora a pequena Agatha se distrai na gangorra, sem nem imaginar que outra pessoa destruiu o aparelho favorito dela.
– Isso aqui era muito bonito, mas tem um pessoal que vem e estraga tudo. Acaba afastando os moradores – lamenta o aposentado, que afirma ver a praça ser tomada por usuários de drogas que destroem os aparelhos.
Vandalismo e falta de cidadania
A psicóloga Catarina de Fatima Gewehr avalia que os atos de vandalismo está atrelada ao nível de compreensão de cidadania dos indivíduos. Segundo ela, o que se percebe é a perda da noção de coletividade de algumas pessoas, que não se percebem mais integrando a cidade. Seria como se ela existisse para satisfazer as necessidades de uns cidadãos e quando estes esgotam o uso, não pensam que outros vão precisar usar.
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– Quando prédios públicos, parques, praças passam a ser objeto de depredação, isso está vinculado à ideia do quanto a própria pessoa não se sente pertencente aquela cidade – afirma a psicóloga.
PM registrou 12 pichações ao longo deste ano em Blumenau
A Ponte dos Arcos ganhou nova pintura no último semestre, fruto de uma parceria entre o poder público e a inciativa privada. Entretanto, há pouco mais de duas semanas, a estrutura foi novamente alvo de vândalos, que segundo Schrubbe, picharam duas colunas. A prefeitura comprou tinta e mandou um pintor para refazer o serviço.
Esse tipo de ato tem sofrido queda, conta o responsável pela pasta. Em muito, acredita ele, pela chamada Lei da Pichação. A legislação prevê punição mais pesada para quem suja fachadas de imóveis públicos ou particulares, embora ainda não haja registro de alguém que arcou com os custos do dono ao patrimônio. Ao longo de 2018, segundo a Polícia Militar, houve registro de 12 pichações.
Para combater o problema, a ajuda da comunidade é uma aliada, com denúncias. Um dos canais é o WhatsApp da PM de Blumenau, aponta o tenente-coronel Jefferson Schmidt, comandante do 10º Batalhão da PM, em Blumenau. As pessoas podem enviar mensagens inclusive fotos das pichações para comunicar os agentes. O número é (47) 99993-8910.
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