Joinville chega à segunda metade de abril e se encaminha para o momento mais provável de pico de casos de coronavírus na cidade e, segundo o prefeito Udo Döhler, está preparada para realizar os atendimentos estimados nas próximas semanas, se a projeção feita até agora for mantida. Em entrevista exclusiva ao "A Notícia", ele afirmou que acredita que Joinville não viverá momentos graves como os já registrados em grandes centros urbanos, e que a estrutura montada a partir das reuniões do comitê de contigenciamento contra o coronavírus é suficiente.
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Atualmente, Joinville conta com 56 respiradores, equipamento fundamental para os casos mais graves de Covid-19. No São José, 100 leitos de UTI estão sendo disponibilizados em um setor que já estava em construção, e outros 60 poderão ser acessados em hospitais particulares da cidade. Os números de equipamentos de proteção individual para os profissionais da saúde não foi detalhado mas, segundo o prefeito, já estão à disposição em número satisfatório — a classe empresarial da cidade informou ter doado mil macacões e 1,2 mil máscaras tipo face shields, além de 150 mil máscaras descartáveis que devem chegar até o fim do mês em Joinville).
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Confira a entrevista com o prefeito Udo Döhler:
Qual é a situação dos EPIs de Joinville disponíveis para os profissionais da saúde? E o número de respiradores, é suficiente?
Claro que existe uma ou outra situação que ainda pode ser reimplementada, como número de respiradores, adensamento de UTIs, mas os EPIs já estão todos à disposição. Criamos o comitê de contingência, que reúne as instituições públicas e privadas na área da saúde. Todas as ações hoje são controladas pelo município. Então, por exemplo, se olharmos para a rede privada de ocupação de hospitais, a taxa de ocupação é de apenas 50%, e temos os outros leitos disponíveis para os pacientes de coronavírus. No Hospital São José, nós queremos 100 leitos novos. Isso está tudo resolvido numa ação coordenada.
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Estamos fazendo medições usando algoritmos que são considerados internacionalmente e verificamos que estamos muito abaixo da média (em número de casos). Isso nos dá relativa tranquilidade. Conseguimos nos preparar de forma adequada. Como maio é um mês importante, nós achamos que depois de maio essa curva se acomoda, tudo indica que nós provavelmente não teremos problemas tão agudos quanto os maiores centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Manaus, que já passam por uma situação complicada.
Quantos leitos estão disponíveis atualmente?
São 160 leitos de UTI, e vamos ampliar este número. É claro que, se houver um recrudescimento, coisa que nós não estamos enxergando neste momento, este quadro pode mudar um pouco. Há mais de um ano, começamos a construir uma ala nova de UTI, a ala JS do hospital [São José]. Ela não foi feita para o coronavírus, só que acabou coincidindo e ela ficará totalmente disponibilizada para o coronavírus. Caiu do céu neste momento. Ou seja, não é um hospital de campanha, é um hospital preparado, equipado. É uma situação ímpar, porque estes 100 leitos equivalem a 300 em um hospital de campanha, que é improvisado.

Joinville não atende apenas a demanda da cidade, mas da região. Está preparado para isso?
O Hospital São José atende hoje uma demanda de um milhão e 300 mil de habitantes, mais do que o dobro da nossa população. Mas isso não é um fato novo. Joinville já estava preparada para isso.
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Quantos são os profissionais na área da saúde?
Temos 4.500 profissionais na área da saúde e 15 postos que atenderão exclusivamente o coronavírus. Hoje, o nosso quadro médico é suficiente para atender a esta eventual demanda, caso ela venha a acontecer.
Como fica a situação com a contaminação de profissionais de saúde?
Temos uma situação que preocupa, porque temos um número de quase 500 profissionais em recolhimento social, de pessoas que tiveram contato com pacientes contaminados pelo coronavírus. Temos diversas ilhas que atuam dentro de uma UPA. Vamos supor que, dentro de uma ilha, houve a contaminação de um servidor. No mesmo instante, toda aquela "ilha" sai em recolhimento social por 14 dias, depois eles voltam. Só isso nos tira quase 400 pessoas. Adquirimos 16 mil testes rápidos que serão usados exclusivamente ou prioritariamente nos servidores da área da saúde.
Além destes 16 mil, Joinville também aguarda 18 mil testes rápidos que chegarão em maio. Em comparação com uma cidade como Florianópolis, por exemplo, é baixo. Há projeção de uma nova compra?
Acho que os testes rápidos que adquirimos serão suficientes. Caso a gente perceba um desvio dessa curva, isso muda. Semanalmente estamos usando esta fórmula algorítmica para ver como a situação evolui em Joinville. Não estamos nos comparando com Santa Catarina ou com o Brasil, mas com o mundo. Então, tudo indica que as aquisições que fizemos foram suficientes. Porque o teste rápido, o que vai acontecer: 70% da população vai adquirir coronavírus. Só que são os assintomáticos. O que nós temos que evitar é que estes entrem em contato com os outros. O teste rápido nos ajuda a dizer "olha, esse pessoal já passou pela quarentena, já contraiu o coronavírus". Este grupo sai dessa área de risco. Que o vírus está se espalhando pela cidade, disso não tenho dúvida. O teste rápido vai apenas nos ajudar a dizer qual é o tamanho da propagação do vírus. É preciso separar o teste rápido do teste normal.
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Joinville foi procurada como possível local para instalação de um hospital de campanha?
Não, isso não deve acontecer. É claro que se o Governo do Estado tiver recurso para colocar um hospital de campanha aqui, que é maior população do estado, poderia. Mas, quem somos nós para dizer ao estado o que fazer. O Estado tem que distribuir [estes hospitais], e existem municípios onde não há nenhuma estrutura.
Este é um descuido que o governo do estado vinha adotando nos últimos anos. O Governo do Estado não ouve os municípios, e isso é um erro fatal.
O jornal A Notícia conversou com exclusividade com o prefeito Udo Döhler sobre as questões de saúde, economia e política durante a crise do coronavírus. Confira a segunda parte na manhã desta quarta-feira (22).