Em seus primeiros dias de mandato como prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (PMDB) pôs à prova toda a experiência de quem viveu cinco legislaturas como vereador na cidade. A polêmica convocação extraordinária da Câmara para analisar e votar em apenas 12 dias um pacotão de 38 projetos foi uma cartada em que o peemedebista mostrou força política e controle de uma base aliada ainda em formação, além de apresentar um novo estilo de governar.
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Upiara Boschi: votação do pacotão mostra o estilo Gean Loureiro de governar
Ao final de cada longa sessão realizada ao longo da semana que passou — algumas delas encerradas próximo à meia-noite — Gean Loureiro ligava para os parlamentares aliados para falar sobre o dia. Uma forma de dividir a pressão e mostrar-se próximo, especialmente após a terça-feira, quando a votação da reforma administrativa e da suspensão do plano de carreira dos servidores municipais levou ao confronto entre servidores e a guarda municipal que impedia o acesso às galerias.
— Eu conheço a Câmara, sei o que os vereadores querem e como gostam de ser tratados — afirmaria o prefeito na tarde de quinta-feira, quando a sucessão de vitórias em plenário já deixava claro que ele sairia politicamente mais forte do episódio.
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Embora o pacotão tenha sido reduzido para 26 propostas, Gean diz que a aprovação de projetos estruturais vai permitir programar o ano de forma mais tranquila. Além da reforma administrativa que cortou 12 das 24 secretarias e do projeto que vai extinguir benefícios de servidores público (incorporações, licença-prêmio, triênios), o prefeito também recebeu aval da Câmara para propostas que devem dar algum fôlego ao caixa do município.
Entre eles, o que dá 180 dias para os devedores quitarem os débitos sem juros ou multas e o que reduz de 3% para 2% e 0,5% a alíquota do imposto sobre transações imobiliárias pelo mesmo período – uma aposta na regularização de contratos de gaveta. Emitiu, ainda, sinais claros a entidades empresarias que devem ser parcerias da gestão, emplacando propostas que devem sinal verde à parcerias público-privadas e desburocratizar licenciamentos.
— É uma vitória política importante para este começo de governo. O resultado contrário seria uma tragédia — afirma o secretário da Casa Civil, Filipe Mello (PR), que se alternou entre a Câmara e reuniões com os servidores grevistas ao longo da semana.
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Foi justamente no Sintrasem, o sindicato dos servidores municipais, a maior resistência ao pacotão de Gean. A greve da categoria foi deflagrada assim que o pacote aportou na Câmara. O prefeito disse que não negociaria enquanto a greve fosse mantida, mas manteve Filipe Mello e o líder do governo na Câmara, Roberto Katumi (PSD), em diálogo quase permanente. Nessa tentativa de acordo, o governo aceitou incluir uma emenda que mantinha a incorporação de benefícios aos salários quando os servidores já tivessem cumprido dois terços do tempo de serviço para aposentadoria e retirou da pauta a criação de um novo fundo previdenciário e o aumento da alíquota de contribuição de 11% para 14%.
O Sintrasem pedia a retirada do artigo que suspende o plano de carreira da categoria até a aprovação de um novo – que Gean tem dito que considera inaplicável. Em entrevista ao Jornal do Almoço, na quarta-feira, o prefeito garantiu que o projeto não resultaria em diminuição de salários, embora reconheça que possa acontecer em casos de funcionários que fazem muitas horas-extras – cujo valor caiu de 200% para 50% da hora normal. Sem acordo, a proposta foi votada sob vaias, tentativas de invasão do prédio da Câmara e confrontos entre servidores e a Guarda Municipal.
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